É meu primeiro contato com a famosa Simone de Beauvoir, no livro Memórias de uma Moça Bem-Comportada, com 335 páginas, nesta edição de 1958. O tradutor diz que é uma autobiografia. Então… choquei!! Porque a autora é conhecida por seu feminismo descrito em sua mais famosa obra “O Segundo Sexo“, e neste livro ela se mostra muito religiosa, que não tolera os pecados alheios, que mesmo após desistir da religião, continua carola e achando a pureza do casamento como único caminho aceitável. O começo é descritivamente chato: ela passa oitenta páginas contando dos seis aos oito anos de vida! Ninguém é tão filosoficamente chato aos oito anos! Tudo bem que ela se formou em Filosofia, mas quando conta parte de sua trajetória dos dezessete aos vinte, mostra-se alienada, como alguém que não quer saber aonde a família consegue dinheiro pra pagar seus estudos, ou como a guerra ao redor do mundo (na época) poderia influenciar vidas. Tão egoísta que plagiou seu primeiro trabalho no colégio e achou que não fez nada de mais. Pegava livros emprestados com amigos e bibliotecas e esquecia de devolvê-los! (OMG!) Suas amigas tinham namorados aos vinte e ela não gostava de imaginar intimidades com nenhum homem. Conta sua briga com a família, porque não gostava dos modos simplistas do pai e tinha vergonha da mãe, que falava-lhe verdades: ela gostava mais das amigas e faria tudo pelas amizades, mas não pela família. Ela passou pra mim uma inteligência no modo de produzir seus textos: primeiro procure saber o que está sendo mais procurado, depois escreva isso.
Vou tentar ler outros textos dela, porque esse não me convenceu como real; parece ficção.
Trechos do livro: “…proibiam-nos de brincar com meninas desconhecidas: era, evidentemente, por não sermos da mesma laia. Não tinhamos o direito de beber , como toda a gente, nas canecas penduradas às fontes; vovô dera-me uma concha de madrepérola…” “Sentava-me na poltrona de couro, ao lado da biblioteca de pereira escura, fazia estalar nas mãos os livros novos, respirava-lhes o cheiro, olhava as figuras, os mapas…” Falando de seu pai: “Ele apreciava acima de tudo a boa educação e as belas maneiras; entretanto, quando me encontrava com ele num metrô, num restaurante, num trem, sentia-me incomodada com seus gritos, suas gesticulações…”