Não é o que Parece!

O livro Nada para Ver Aqui, do autor americano Kevin Wilson, conta a história de Lillian, uma mulher de 28 anos só tem fases ruins na vida. Na infância tinha uma mãe narcisista, na adolescência era uma estudante que conseguiu entrar em uma escola particular reservada para crianças ricas.  Acontece um incidente na escola envolvendo sua melhor amiga, Madison, e os sonhos de Lillian de se tornar algo grande foram destruídos. Ela volta para a pobre casa, mais uma vítima dos caprichos dos ricos e poderosos que sempre conseguem o que querem. Uma década depois, Lillian está trabalhando em um emprego sem saída no Sav-a-Lot quando recebe um pedido de Madison, agora a rica e belíssima esposa de um senador importante. Madison precisa de sua ajuda com os filhos de seu marido, de uma ex-esposa, já falecida. Lillian deve mantê-los quietos e longe dos holofotes para que a carreira política do congressista não seja manchada por seu segredinho sujo: as crianças têm o hábito de pegar fogo espontaneamente quando ficam chateadas. Eles entram em combustão espontânea sem realmente ficarem crocantes. Pense no bebê Jack Jack, só que menos fofo. Bessie e Roland cresceram com uma mãe estranha que tinha ideias estranhas e distorcidas sobre paternidade e carecia completamente das ferramentas para ajudá-los a conviver em seu habitat, em um mundo hostil às suas habilidades únicas. Embora inteligentes, sua educação é gravemente deficiente e eles são tão desajeitados socialmente quanto bichinhos selvagens na cidade. O pai deles, um político positivamente detestável, incapaz de ver além das suas próprias ambições, aquela pequena coisa chamada responsabilidade parental.

Acredito que esse livro deveria ser uma comédia, mas foi se tornando sombrio durante a escrita, repleta de metáforas. “Em algum lugar abaixo da superfície desta comédia peculiar sobre crianças, filhos de políticos, entrar em combustão espontânea, há um subtexto obscuro sobre o trauma emocional e psicológico vivido por crianças vítimas de abuso e negligência durante os períodos mais formativos da infância, e também sobre poderosos se acharem acima do bem e do mal”. 

Acho que o autor queria que os leitores vissem Bessie e Roland como crianças condenadas ao ostracismo, escondidas do público, por terem deficiência física ou mental. E a rejeição por parte daqueles que deveriam amá-los mais, independentemente das circunstâncias.  Ninguém deveria silenciar suas emoções, independente da idade.

SPOILER: Seu amor conflitante por Madison às vezes era irritante, porque quem não ama a si mesmo, não consegue amar o outro. Ela decidiu esquecer o passado ridículo da Mad, mas eu não. Então queria que desse tudo errado o tempo todo. Sempre que lia a parte das crianças, imaginava adolescentes irritantes e não crianças indefesas, então não senti empatia. Mas tem um ensinamento: Essas crianças aprenderam durante toda a vida que algo está errado com elas. Há uma reviravolta no final da história que realmente deixa claro: todos nos sentimos estranhos, todos nos sentimos um pouco inseguros, todos estamos confusos de alguma forma. Achei essa capa ridícula.

Mais Tempestades, por favor

O livro Palavras de Radiância, do autor americano Brandon Sanderson conta em 1328 páginas a continuação da Guerra das Tempestades e a história começa imediatamente após os eventos do Caminho dos Reis, onde Shallan e Jasnah ficaram presas em Shadesmar, Kaladin e a Ponte Quatro no comando da guarda de Dalinar, e Szeth assassinando em seu caminho ao redor do mundo. Tem muitas cenas fantásticas como a guerra entre o reino Alethi e os Parshendi; Shallan começa a trabalhar como espiã e é muito interessante como ela se molda na forma de outras pessoas; o Assassino de Branco confronta Dalinar, Adolin e Kaladin, todos ao mesmo tempo, e pessoas ao redor do mundo estão fazendo os juramentos dos Cavaleiros Radiantes, manifestando poderes estranhos que estavam desaparecidos há centenas de anos. Shallan é uma personagem extremamente aprimorada, com um propósito claramente definido. Seu passado trágico é explicado para mostrar porque ela toma certas atitudes irritantes. A admiração com que ela vê o mundo de Roshar ainda está lá, mas agora ela começa a experimentar seus poderes. Shallan se destaca também compartilhando cenas com personagens masculinos do primeiro time, muitas vezes levando a melhor sobre seus colegas com doses liberais de inteligência e humor. Fechou com chave de ouro com a cena da batalha climática entre o assassino Szeth e o lanceiro Kaladin, com os dois homens equipados com toneladas de Stormlight, e ambos realizando manobras malucas que até mesmo um bom cineasta teria dificuldade em adaptar. É como se Sanderson tivesse projetado seu sistema mágico apenas para dar vida a essa batalha.  Me parece que cada livro vai dar destaque a um personagem, enquanto O Caminho dos Reis foi o livro de Kaladin, Palavras de Radiância é a história de Shallan.

SPOILER: Li o livro em inglês e achei bem difícil. Words of Radiance é quase tudo o que você deseja de um livro de fantasia e tudo o que esperamos de Brandon Sanderson, só que com esse final, ele aumentou as expectativas para toda a série. A única coisa que Sanderson domina absolutamente neste livro, a razão pela qual tantas pessoas estão delirando sobre ele, são as sequências épicas de ação auxiliadas por magia. Desde duelistas de shardbearers lutando pela glória e pela posse de shardblades, até centenas de Knights Radiant tentando derrubar um Thunderclast parecido com duelo de seriados japoneses. A pesquisa sobre saúde mental deve ter sido grande aqui, porque Shallan e Kaladin são personagens que passaram por torturas psicológicas. Gosto de como os efeitos desses eventos passados moldam as atitudes, sobre como eles decidem viver suas vidas e como as emoções que sentem foram dolorosamente exploradas e colocadas como parte da personalidade. A maneira como Kaladin sempre tem medo de que tudo lhe seja tirado – de novo. A grande quantidade de absence seizure que Shallan tem, a ponto de nem estar mais consciente e abstrair muito do que acontece. Kaladin e sua Bridge Four nunca deixam de criar momentos emocionantes – isso para mim, apesar das reviravoltas na trama acontecendo fora do grupo, as cenas deles e as partes em que demonstram verdadeira lealdade e camaradagem, a traição, ainda são alguns dos meus momentos favoritos do livro. O autor não cria cenas polêmicas apenas para justificar o tema do “escolhido”, ele envolve cada personagem:todos são imperfeitos e quebrados e trabalhando lentamente para serem melhores; para sobreviver e viver de acordo com os ideais que todos os Cavaleiros Radiantes defendem.  Não é ‘certo por estar certo’. Não é preto e branco. Há um contexto para isso e foi uma jornada muito realista e as vezes esqueci que se tratava de uma fantasia.

O mais agradável, porém, foi a forma como o livro terminou. Em vez de perpetuar a tortura de certos personagens e deixar o leitor em um labirinto de especulações, o autor encerrou a essa fase da história. Alguns de seus artifícios foram forçados, mas entendo que o autor precisa forçar seus personagens a situações improváveis e irrealistas para alcançar pontos específicos numa narrativa de fantasia, mas me senti exausta durante a leitura. Grandes cenários de ação com pessoas extraordinárias fazendo coisas extraordinárias é exatamente o que eu quero da minha fantasia épica, e Sanderson entregou além do que eu poderia esperar. Há tanta coisa acontecendo que é difícil acompanhar tudo o que aconteceu, então tenho certeza de que relerei este livro pelo menos uma vez.

“Expectativa. Essa é a verdadeira alma da arte. Se você puder dar a um homem mais do que ele espera. então ele irá elogiar você por toda a vida. Se você conseguir criar um ar de antecipação e alimentá-lo adequadamente, você terá sucesso.”

Sessão da Tarde

O livro O Natal da Senhorita Kane da autora britânica Carolina Mickelson, conta a história de Noel que manda sua filha Carol para ajudar uma família que precisa de um pouco de alegria natalina e Carol é a melhor pessoa para isso. Ben Hanson está depressivo e faz com que o Natal de seus filhos não fosse comemorado, mas ele não está fazendo isso porque é um pai horrível, ele acredita que está fazendo o que é melhor, para que criançasnãosofram ao descobrira verdade sobre o Natal. Carol precisa impedi-lo de escrever um livro “Por que mentir para seus filhos sobre o Papai Noel é uma má ideia” e isso pode arruinar o Natal. Carol passa por muita coisa para que ele e as crianças tenham um Natal muito feliz, mas Carol não esperava se apaixonar.

Este livro foi muito divertido de ler e realmente me lembrou filmes de Natal da Sessão da Tarde, em que a mocinha é apaixonada pelo Natal e como se dedica a proporcionar um feliz Natal às crianças e o homem, como vilão que odeia o natal, está Ben, que ficou com muita raiva quando ela começou a decorar a casa. Mas ao ver seus filhos sorrirem, ele muda de idéia. Enquanto seus planos vão dando certo, Carol vai se apaixonando pelas crianças e também pelo pai delas. Até Papai Noel dá uma força para que esse amor aconteça.

Fada da Conveniência…

O livro Desenhos Ocultos do autor americano Jason Rekulak conta a história da jovem Mallory Quinn, recém-saída da reabilitação e se recuperando de uma tragédia recente, conseguiu um emprego como babá de um casal rico que mora no subúrbio nobre de Spring Brook, Nova Jersey, quando uma série de acontecimentos estranhos começam a fazer com que ela questione sua própria sanidade. Teddy, o menino precoce e tímido de 5 anos que ela está encarregada de cuidar, parece ser assombrado por um fantasma que canaliza seu corpo para fazer desenhos complexos e bem formados demais para uma criança tão pequena, mesmo sendo desenhos simples como coelhos, balões de ar quente, árvores. Mas então as ilustrações tomam um rumo sombrio, mostrando os detalhes de um assassinato horrível (mostrados no livro) com o aparecimento de bonequinhos que vão se tornando cada vez mais perturbadores e sofisticados. Com a ajuda de um atraente e jovem jardineiro (conveniente) e de uma vizinha médium (conveniente) e usando apenas os desenhos como pistas, Mallory tenta resolver o mistério do passado sombrio da casa antes que seja tarde demais. 

SPOILER: Mallory, que narra na primeira pessoa, não confia nos próprios julgamentos por ter sido usuária de drogas, então podemos estar ouvindo mentiras. Ela vai morar numa casa nos fundos, onde uma mulher foi assassinada. Ela diz que cuida de uma criança, mas a criança de 5 anos, faz tudo sozinha: toma banho, se arruma, se tranca no quarto pra desenhar e pintar, enquanto ela DORME de dia. Irresponsável aqui é elogio. No final jogam um homem apaixonado por ela, pra salvar da mulher psicótica, (conveniente) e ainda deixa ela livre para o jardineiro que, pasmem, é milionário e a ama! A fada da conveniência passou pelo texto desse autor, mais do que necessário.

Devia ter um Final Alternativo

O livro A Camareira da autora canadense Nita Prose conta a história de Molly Gray, uma jovem excêntrica obcecada por limpeza, mas que não tem a mesma habilidade de navegar pelos sinais sociais que as pessoas ao seu redor transparecem ao se comunicar silenciosamente, mas adora trabalhar como camareira no luxuoso Regency Grand Hotel. Criada por sua avó antiquada, que adorava limpar e assistir reprises de séries de TV, Molly tem um jeito excessivamente educado e direto que pode fazer com que ela pareça estranha e desagradável para seus colegas, apesar de ser a funcionária mais esforçada do hotel. Após a morte de sua avó, a vida rígida de Molly começa a perder um pouco do equilíbrio de longa data, e quando o infame Sr. Charles Black, um empresário rico e poderoso suspeito de vários empreendimentos criminosos, é encontrado assassinado em um dos quartos que ela limpa, todo o seu mundo vira de cabeça para baixo. Antes que Molly saiba o que está acontecendo, seu comportamento estranho convence a polícia de que ela é culpada do crime, e algumas pessoas no hotel ficam um pouco satisfeitas com isso. Com a ajuda de alguns novos amigos (e enquanto se defende de novos inimigos), ela deve começar a desvendar o mistério de quem realmente matou o Sr. Black para se livrar da situação de uma vez por todas. 

SPOILER: O clássico suspense policial, que não precisa desvendar todas as pistas, nem responder todas as dúvidas. Com traços de uma pessoa com Toc, a personagem principal não cativa. Como já disse, não gosto de protagonista mulher e burra. Ela faz burrices porque não entende o mundo, mas sua avó faz burrice porque não vê que ela tem problemas psicológicos e a deixa sozinha pra cuidar de muito dinheiro. Também não conta pra ela sobre com quem ela pode contar em caso de necessidade: portanto, mais um livro de mal entendidos causado por falta de comunicação.