Suspense Previsível

O livro de 1974, Por Um Corredor Escuro da autora americana Lois Duncan, conta em 208 páginas a história de Kit Gordy, uma adolescente que precisa ir para um internato, enquanto sua mãe vai viajar pelo mundo em lua de mel com o novo marido. Ela odeia deixar suas amigas para passar um tempo no meio do nada. Tudo piora quando Kit descobre que ela e os outros unicos três alunos, foram escolhidos por ter alto quociente de inteligência, e foram escolhidos para esse novo internato pela Sra Duret para morar na isolada mansão Blackwood, com uma atmosfera assustadora, sem telefone, sem contato com o mundo exterior, os portões trancados, as cartas não enviadas para a família e existem visitantes noturnos nos sonhos que servem para inspirar as meninas a descobrir talentos artísticos até então inexistentes. Quando esses guias espirituais, incluindo Emily Bronte, Schubert e o paisagista Thomas Cole, começam a usar as meninas cada vez mais cansadas como canal para entregar suas obras-primas póstumas à Sra. Duret que os usará para obter ganhos financeiros, Kit resolve se rebelar e não aceitar os dons oferecidos pelos fantasmas.

SPOILERS: O mistério ao longo do livro, sobre o que a escola estava tentando fazer, foi bem previsível. A sinopse no verso, descrevendo-a como uma “prisão psíquica”, estraga um pouco do mistério. Você vai precisar de um pouco de “suspensão da descrença”, pra acreditar em tudo que está acontecendo: uma mulher dirige uma escola onde adolescentes somem, fica rica, muda de país e abre outra escola onde adolescentes somem. Ela vende obras falsificadas só pra abrir outra escola? Que desperdício…

O filme tem uma atmosfera mais de terror, com cenas não descritas no livro.

Tirem o Diploma Dela!

O livro A Mulher na Cabine Dez da autora Ruth Ware conta a história da jornalista de viagens Lo Blacklock que vai subir à bordo do Aurora Boreal, um navio de luxo com destino ao Mar do Norte, em sua viagem inaugural. Ela deve fazer essa cobertura para a revista na qual trabalha. Mas à noite em seu apartamento, Lo é assaltada e começa a ter crises de pânico. Lo chega a pensar se é uma boa ideia entrar no navio, mas é a sua chance de fazer um novo trabalho para a Revista e ela não quer desperdiçar. Lo também se sente instável, toma remédios controlados, bebe em demasia e está com os nervos em frangalhos. Outros jornalistas estão à bordo, gente da nata, circulando pelos corredores, atendidos por funcionários que nunca tiram o sorriso do rosto. E enquanto Lo está se arrumando para a festa daquela noite, percebe que não trouxe a máscara de cílios e decide então bater nas portas das outras cabines em busca de ajuda. Na cabine 10, ao lado da sua, uma moça bonita abre a porta, ainda que pareça irritada, e lhe cede a tal máscara. Na sua cabine, depois da festa, bêbada e esparramada em sua cama, ela pensa ter ouvido um grito e pensa ter visto um corpo ser jogado no mar. Assustada, ela aciona a segurança do navio, mas para sua surpresa a cabine ao lado está totalmente vazia, já que o convidado que se hospedaria nela não pode ir e ninguém viu a mulher que Lo alega ter visto mais cedo. A cabine 10 não só está vazia, como ninguém a usara naqueles últimos dias.

SPOILER: Quem já leu ou assistiu O Assassinato No Expresso Oriente, de Agatha Christie, sabe que a autora tentou não mostrar sua inspiração e tinha a chance de tornar cada um daqueles passageiros os suspeitos perfeitos. Entretanto, a forma como isso foi trabalhado foi desastrosa. Quando a personagem começa a cogitar uma supeita, ela logo buga o cérebro sem nem elaborar melhor a ideia. Lo está instável pelo assalto, mas ela é uma jornalista e em nenhum momento usou sua perspicácia e faro jornalístico para investigar o que estava acontecendo. O que ela mais faz é beber e se intoxicar, tornando assim seu relato extremamente duvidoso e não é de se estranhar que a segurança não confie nela. A narrativa dá ao assalto que ela sofreu no começo uma grande importância, mas ele não se liga mais a nenhum evento posterior. As vezes eu esqueci que Lo era jornalista, uma mulher madura e não uma adolescente porque ela não agiu e nem trabalhou como uma, em nenhum momento da viagem. Ela se perde em muita paranoia e não age como uma pessoa determinada a descobrir o tal mistério da cabine 10. E isso não é culpa da personagem, é culpa da autora, de seu editor, que não tamparam os buracos nessa construção e publicaram assim mesmo. Há alguns momentos de tensão quando pensamos que a protagonista está mesmo pirando e outros em que Lo está mesmo em perigo que, infelizmente, não são suficientes para salvar o livro. Quase torci para que ela estivesse mesmo louca porque o final é decepcionante. Como já disse antes, detesto muito quando a protagonista é burra, não consegue ter o mínimo de inteligência profissional, nem estou falando da inteligência emocional, já que a autora criou alguém que não deveria estar vivendo em sociedade naquele momento, e sim, internada numa clínica de desintoxicação. É um livro de 320 páginas que poderia ser resumido em 150, cansativo e a história não flui em nenhum momento, achei o plot bem vazio e genérico, e com um final totalmente em aberto, de maneira ruim, onde o leitor não consegue imaginar como aquilo se desenrolou.

Podemos Confiar no Narrador?

O livro O Homem de Giz da autora britânica C.J. Tudor conta em 272 páginas a história de um assassinato que leva a assinatura de um misterioso desenho à giz. A história começa com Eddie aos 40 anos, tentando superar algo que aconteceu no passado, tem poucos amigos, não gosta do trabalho e tem como hobbie a bebida. Até que um dia um amigo com quem não falava há anos volta a cidade, em seguida todos os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Com o uso de flashbacks, a autora conta duas histórias ao mesmo tempo: a do passado e do presente do narrador, deixando o próprio leitor conectar os pontos e tentar encontrar um padrão nas duas histórias narradas por Eddie. Sendo mais um drama do que um thriller, Eddie vai tentando envolver o leitor nas sua vitimização, “ele é o que fizeram dele” , que quebra a descoberta de um final do tipo “plot twist”. Ele tenta dar sua versão da verdade, e sua versão é totalmente distorcida pelo álcool na idade adulta e insuficiente na idade de criança, porque ele não tem como ele saber tudo, ver tudo, julgar todos com o entendimento limitado de uma criança. Sua vida no presente está estagnada e seu vício em bebida fazem dele um personagem enigmático, chato e que não desperta muita confiança, com uma personalidade estranha e antissocial, não é o tipo de personagem pra quem o leitor torce. Chloe que está ali para servir de escada pra ele, foi a personagem mais descartável do romance, toda a sua existência na trama se resume em cumprir um final sem graça, sendo descrita como alternativa por causa das descrições de suas roupas “… naquela ocasião usava um top verde maçã, uma minissaia rendada laranja, legging fúcsia brilhante, botas gladiadoras adornadas com rebite de ouro…”

Tem muitas opiniões pessoais da autora no texto que poderiam ter sido mais sutis, deixando vestigios de suas ideologias, e de suas ideias a respeito de tópicos controversos, ou mesmo colocando uma NOTA do autor – o que acho mais favorável. Ela deixou transparecer muito na sua escrita as suas opiniões sobre aborto e religião, não apresentando nenhum desses temas imparcialmente, implicando que os pensamentos do personagem a respeito destes, são a verdade certa e definitiva, tornando propaganda óbvia, de forma equivocada, já que o personagem é um assassino.

Quando seu erro é sua salvação

O livro A Empregada da autora americana Freida McFadden conta a história de Millie, que se candidata para ser empregada doméstica dos Winchesters, ela não tem nenhuma chance de conseguir o emprego se uma verificação de antecedentes for feita, então é uma surpresa quando ela recebe um telefonema oferecendo-lhe um trabalho que parece bom demais para ser verdade: um teto sobre sua cabeça, já que não tem onde morar e um salário decente, e Nina Winchester parece adorável, e com uma filhinha esquisita. Millie continua tentando continuar com seu trabalho e ignorando o comportamento bipolar de Nina, mas ao fazer isso ela começa a ver Andrew com outros olhos e sentir pena dele, mas ela é a empregada e ele é casado. À medida que a história avança, aprendemos que o casamento entre Nina e Andrew está longe de ser perfeito, há tensão. As coisas começam a tomar um rumo sombrio. Em vez de reclamar de seu passado cruel, Millie agora pode agradecer, porque é o que a fará sobreviver.

SPOILER: se passa mais da metade do livro para que alguma coisa aconteça. Há pequenos eventos no primeiro tempo, mas nada muito emocionante. Para quem tem bagagem literária, a história é bem parecida com outros livros como Verity e A Outra Sra Parrish. Então acaba ficando cansativo e requer uma suspensão completa da crença para desfrutar de seu enredo desequilibrado, parece tudo articulado pela “fada da conveniência”. O final é de longe a melhor parte. Dá até vontade de ler o segundo livro. 

Além da falta de originalidade, o que mais me incomodou foi a péssima representação da saúde mental, onde os autores criam personagens não confiáveis por meio de deturpações do problema. Houve também um romance desnecessário que não acrescentou nada à história. Mas o empoderamento feminino me fisgou.