Fé +política = guerra

O livro A Magia da Aurora, finaliza a trilogia Ciclo Nessântico e conta o fechamento da história em 656 páginas. Agora já se passou muito tempo da ruptura entre Alessandra e seu filho, que ocupa o trono de Firenzia. Nessântico está prestes a viver seu momento mais sombrio. Atual ocupante do Trono do Sol, a kraljica Allesandra se vê obrigada a engolir o orgulho e possivelmente ceder o poder para o filho e rival político Jan, agora que a cidade está outra vez sob a ameaça dos tehuantinos, mesmo inimigo que deixou um rastro de destruição sem precedentes pelo reino, há mais de uma década. Allesandra precisa das tropas de Jan, mas talvez a salvação da cidade também dependa da revolucionária experimentação científica realizada por Varina, agora líder dos numetodos, os hereges que provocaram um cisma na Fé de Concénzia. Nesse tênue equilíbrio entre as forças políticas de Nessântico, surge Nico Morel, o líder carismático de um grupo de ténis, cuja visão ultrarradical vai abalar os cada vez mais frágeis alicerces religiosos de Nessântico. No encerramento do Ciclo Nessântico, volto à minha idéia de que essa história não é sobre personagens, mas sobre a cidade. Nessântico é a personagem principal, que se vê julgada por sua fé e invadida e destruída por fanáticos tehuatinos e numetodos. Nem a fé em Cenzi consegue salvar a cidade. Vale a pena a leitura.

Sci-fi e diversidade

O livro A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil da autora Becky Chambers, conta em 400 páginas a história de Rosemary, uma humana que está viajando em uma cápsula de subcamada em direção à nave Andarilha. Um pouco desorientada por estar viajando pelo espaço por muito tempo dentro de um cápsula e ansiosa por estar indo em direção ao seu novo emprego, Rosemary ainda precisa lidar com a angústia de ter subornado um funcionário do governo para conseguir um novo arquivo de identidade. Contado pelo ponto de vista dela, não conta o motivo da fuga. A humana que chegou à nave para ocupar a função de guarda-livros e colocar em ordem toda a papelada do Capitão Ashby, também humano, logo é introduzida ao ranzinza algaísta Artis Corbin somente para ser resgatada de sua rabugice por Sissix, uma aandriskana com garras, escamas brilhantes e penas verdes. Ainda vivem e trabalham na nave Kizzy, técnica mecânica; Jenks, técnico de computação; Dr. Chef, que é médico e chefe de cozinha; Oham; e Lovelace, a inteligência artificial responsável por toda a nave e suas particularidades.

Os temas que a autora mostra através dos personagens são interessantes: xenofobia, diferenças culturais e respeito, relacionamentos entre seres orgânicos e inorgânicos, relacionamentos entre espécies diferentes, um deles homossexual, lésbico. Tudo de forma leve apenas para situar a diferença de cada um.

SPOILER: achei confuso imaginar os personagens só pela descrição e raça. Tive que olhar na internet. Não consegui me afeiçoar a nenhum personagem, nem me solidarizar com os problemas da nave. Os detalhes do diário de bordo deixam o texto chato e não acrescentaram pra mim. As cenas que tentaram causar tensão, só me remetiam à Nabucodonosor sendo atacada por vírus. As cenas de “romance” me lembravam “Emanuelle no espaço”. Acho que minhas referências foram responsáveis por meu “não envolvimento “.

Um toque na Alma…

O livro A Melhor História está por vir (Mision Olvido) da autora espanhola María Dueñas, conta em 348 páginas a história de Blanca, que se separa de seu marido e vai viver na Califórnia durante uns meses para organizar um arquivo de um falecido professor. Lá conhece Daniel, um americano que já viveu muitos anos em solo espanhol e se cadou por lá. Os dois se unem para homenagear a memória de André Fontana.

A autora escreve a tristeza dos personagens de uma forma tão doce e nada dramática, que flui muito fácil a leitura. Não gostei da tradução do título, porque parece que a tradutora prefere imaginar que o final em aberto, vai trazer uma história melhor. Acho que autora fez exatamente como queria e eu gostei do final.

Trechos do livro: “Meus planos de futuro, porém, eram muito mais difusos… Eu gostava de línguas, gostava de livros, gostava de viajar. Banalidades indefinidas, em suma, com poucas possibilidades de se materializar imediatamente em um trabalho produtivo e razoavelmente bem remunerado.” ” Pela primeira vez na vida tive consciência de como são frágeis, na realidade, as coisas que julgamos permanentes, da facilidade com que o estável se racha e as realidades podem evaporar com um sopro de ar que entra pela janela.”