Uma história policial

O livro A Deusa Cega da autora norueguesa Anne Holt, conta em 200 páginas a história de um grupo de pessoas da lei que querem acabar com uma quadrilha de traficantes. O primeiro capítulo mostra um rapaz ensanguentado se entregando à polícia e conta que o homem encontrado morto foi ele que matou. E aí vamos até o final do livro sem nenhuma surpresa. Me pareceu assistir um seriado policial americano; só que o livro contando apenas um episódio e precisaria assistir até o final da série. Pode ser que esse não seja o melhor livro da autora, mas não favoritei, não pretendo ler outro. Alguns capítulos mostram duas pessoas conversando, mas não as identificam, tentando criar um suspense, mas não funcionou pra mim. O narrador onisciente diz uma coisa (o papel era tão pequeno e leve que demorou uma eternidade pra chegar ao chão) e o personagem diz outra (o papel tinha um tamanho de um cartão-postal dobrado duas vezes). O narrador conta sobre o personagem (ele pegou com a mão trêmula, como um mau ator) e o personagem desmente (ela sabia que o tremor era autêntico).

Trecho do Livro: “A deusa da justiça continuava sobre a mesa, na mesma posição, com as balanças erguidas e a espada ameacadora.”

Nem tudo que começa bem…termina bem =/

O livro A Livraria Mágica De Paris da autora alemã Nina George, conta em 303 páginas a história de um livreiro que tem sua livraria funcionando numa barca à beira do rio. Ele é uma lenda na cidade por ser solitário e descrever os sentimentos das pessoas só de olhá-las e “preescrever” livros para curar seus males. Só não consegue se curar da perda da mulher amada.

Premissa boa… mas a história segue por outro caminho. O livreiro mora num prédio em que os moradores só são citados rapidamente na história. Então foram páginas perdidas lendo sobre o prédio. Outro problema foi me convencer das “vozes” dos personagens: parecem a mesma pessoa, no caso dos pensamentos do livreiro e do diário da amada. A história dos livros fica em terceiro plano, mesmo tendo um livreiro, um editor e um escritor na história. Os homens aqui na história são “o sonho feminino”: eles são gentis, choram por amor, são sensíveis e sabem cozinhar, além de manter-se esbeltos.

Não é uma história que eu leria novamente, apesar da edição caprichada: o livro tem mapas, o design de capa é vintage, tem receitas, tem indicações de livros.

Trechos do livro: “À noite, eu roubaria das pessoas ruins tudo o que haviam tiradodos bons com suas mentiras. E deixaria para elas apenas um livro, que as purificaria, faria com que se arrependessem e as transformaria em pessoas boas…” “Acho que aprendi todos os meus sentimentos com os livros. Neles amei mais, sorri mais e aprendi mais do que em toda a minha vida sem leitura.” “É um vilarejo onde todos são loucos por livros…Quase toda loja é uma livraria, uma gráfica, uma encadernadora, uma editora…” “A felicidade é uma coisa que percebemos apenas em retrospecto? Não percebemos que estamos felizes, mas reconhecemos muito mais tarde que estávamos felizes…”

Uma saga da Era Vitoriana

O Livro das Crianças não é um livro infantil. Escrito em 2009 pela autora inglesa A.S. Byatt, o livro de 671 páginas conta a história de Olive, uma senhora casada e com vários filhos em 1895. Uma novidade é que ela bancava a família com seu ofício de escritora de histórias infantis. Cercada pelo mundo das artes e cultura, todos à sua volta são modernos. Ela escreve um livro pra cada filho. Ela pensa que cada um criou sua própria fantasia. A família tem vários segredos e sussurros. Uma trupe de atores alemães passa um tempo na propriedade e encenam uma peça que deixam todos meio que anestesiados. Todos acham que o alemão que cria as marionetes tem poderes místicos.

Uma turbulenta saga familiar que começa na Era Vitoriana e termina na guerra. A autora passa todas as informações políticas de cada período. Os personagens representam as classes familiares da Inglaterra do Séc. XIX. Tem o grupo das artes, atores, ceramistas, pintores, bordadeiras. Tem o grupo das feministas com mães solteiras que se apoiam, médicas. E tem as histórias que Olive escreve, histórias dentro da história.

As meninas Fludd me lembram “as virgens suicidas”. O narrador é onisciente mas deixa dúvidas quanto ao sentimento dos personagens. Nas duas últimas partes do livro me pareceu que a autora quis incluir toda sua pesquisa e a história fictícia se mistura com os relatos históricos, transformando em um livro acadêmico. O livro tem muitas notas de rodapé com informações da tradutora Elisa Nazarian.

A autora é premiada. Esse livro foi indicado para o Book Prize 2009.

Trechos do Livro: “…tendo sido educada na atmosfera fabiana de uma justiça social racional, foi forçada a admitir que não tina ‘direito’ de se sentir infeliz, uma vez que era excessivamente privilegiada. ” “Sua mãe era uma boa e temente luterana que despendia tempo e dinheiro visitando hospitais para os pobres, organizando bazares e juntando roupas. Mas ela comia em porcelana Meissen, com colheres de prata. Havia inconsistências terríveis.” “Sentiu prazer também na inerte solidez das vidraças e da mobília polida, na fileira de livros arrumados à sua volta…”

História Italiana

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O livro O Leopardo do autor italiano Tomasi Di Lampedusa é um clássico ďos anos 60, contando a versão romanceada de fatos reais da história italiana. Muita trama política e religiosa numa história que começa em 1860 e vai até 1910, contando um pouco da vida do Príncipe Fabrizio e seu séquito. Fiquei meio decepcionada com a trama, por ter assistido ao filme do diretor Luchino Visconti filmado em 1963, que coloca o personagem do ator Alan Delon como principal. No livro ele quase não aparece, apenas serve de ponte para as histórias do Príncipe. Mas o autor era um crítico literário então ele escreve muito bem, fez uma pesquisa histórica para descrever os fatos políticos, apesar de demonstrar não querer falar mal de seu país.

Trechos do Livro: “Esperava que Tancredi também os notasse e que se desagradasse perante esses traços reveladores de uma diferença de educação. Trancredi já os havia notado mas, infelizmente, sem resultado. Deixava-se arrastar pelo estímulo físico que aquela belíssima mulher oferecia à sua juventude fogosa e, digamos, ainda pela excitação dos cálculos que aquela moça rica produzia em seu cérebro de homem pobre e ambicioso.”

O filme no original  Il Gattopardo é um premiado filme de 1963 do diretor italiano Luchino Visconti, e estrelado por Burt LancasterClaudia CardinaleAlain Delon e Mario Girotti (Terence Hill) entre outros, o filme foi o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, no ano de seu lançamento. 

O filme recria a atmosfera vivida nos palácios da aristocracia durante o conturbado reinado de Francisco II das Duas Sicílias e o Risorgimento – longo processo de unificação dos Estados autônomos que originaram o Reino de Itália, em 1870. Essa parte é bem fiel ao texto do romance e o cenário político italiano é reconstituído com o intuito de interferir em dilemas dos personagens ficcionais.