Sobre ser um Estranho no Mundo

O livro O Estranho Caminho Entre Desejos do autor americano Patrick Rothfuss é uma ampliação de um conto já lançado, que conta a história do mais charmoso dos Encantados, Bast que veio do reino das fadas, e seguimos sua história durante um dia de sua vida, enquanto ele faz tramoias pela pequena cidade de Nalgures, fugindo com destreza dos problemas, seguindo seu coração mesmo quando isso vai contra o bom senso. Uma de suas maiores habilidades é fazer acordos. Vê-lo negociar é como observar um artista em ação. “Embora não se importe com as leis dos homens, ele é obrigado a seguir leis mais antigas e profundas e acaba caindo numa armadilha. Apesar de sua inteligência e cautela, Bast se vê forçado a escolher entre dois caminhos: trair a confiança de seu mestre ou ajudar um inimigo detestável.”

Assim como A Música do Silêncio  serviu como uma bela pequena história paralela sobre Auri,  essa novela é toda sobre Bast, companheiro Fae de Kvothe, personagem principal da duologia As Crônicas do Matador de Reis. É uma história leve e fácil de digerir que é um complemento divertido para os livros principais mais densos de Kingkiller Chronicle.

O livro vem com as obras de arte de Nate Taylor, famoso ilustrador, que fez uma arte em cada capítulo, que são peças de arte individualizadas que representam a progressão deste dia fatídico na vida de Bast com algumas dicas da história. 

Mas as polêmicas continuam,  de apoiadores querendo a devolução de 300 mil dólares que ele pediu, para finalizar o último livro que está 10 anos atrasados. Ele disse que esse dinheiro iria para a caridade,  mas não comprovou a entrega.

As Mulheres e as Ervas🌿

O livro A Filha da Feiticeira da autora britânica Paula Brackst, conta em 448 páginas a história de Elizabeth (Bess), que está se mudando para a cidadezinha de Matravers, onde vai continuar vendendo suas poções para ganhar o seu dinheiro. Até que ela acaba conhecendo Tegan, uma jovem solitária, muito insistente, o que de início faz com que Bess fique com um pé atrás em confiar na garota. Ela decide iniciá-la no mundo da magia porque ela provou sua lealdade. A história retorna ao ano de 1628, narrando os fatos que mataram toda a sua família e seu mundo literalmente desaba com a chegada da “Peste Negra” em sua vila, que acaba vitimando seu pai e seus dois irmãos. Sobrando somente Bess e sua mãe Anne, a menina também acaba adoecendo. Mas, como que por um passe de “magia”, Bess consegue se recuperar e retoma sua saúde. No pequeno vilarejo de Batchcombe, onde não sobrou quase nada, tudo ficou devastado e sem vida e aconteceu o momento histórico de Caça às Bruxas, uma perseguição política que aconteceu no séc. XI atingindo os séculos XVI e XVII, como em Portugal. Todos no vilarejo, a maioria idosos e muito católicos, desconfiam que foi por meio de bruxaria que as duas sobreviveram e acusam Anne de ser uma feiticeira. Anne é então acusada formalmente quando um Caçador de Feiticeiras chega ao vilarejo. Ela é condenada à forca, para desespero de Bess. Mas antes de morrer, a mãe pede para a filha procurar por Gideon Masters, que ensinou a Bess toda essa arte, um ser sombrio, de quem ela agora foge. Até que um terrível incidente a faz mudar de idéia, e ao pronunciar o encantamento que a tornaria eterna, Bess dá início a uma jornada sem fim, de fuga e luta contra o mal.

SPOILER: É cansativo ver Bess através dos séculos, Bess fugindo de seu algoz. Em 1888 ela foi Eliza, uma médica/enfermeira, trabalhando em um hospital em Londres. Em 1917 ela foi Elise, uma enfermeira auxiliando na frente de batalha na Guerra da França. E nos dias de hoje, ela é Elizabeth, vive sossegada cuidando de sua horta e vendendo ervas e óleos medicinais. Mas ela não mantém a consistência, parecendo várias histórias de várias mulheres que passaram a mesma situação. Tem um pouco de aventura, tem suspense, mas não vale pra todo mundo que gosta de fantasia. Poderia ter 200 páginas. Uma curiosidade sobre a autora: ela é pastora de cobras.

Cores do Mar 🌊

O livro Tress, A Garota do Mar Esmeralda é o primeiro dos quatro romances do projeto secreto do autor americano Brandon Sanderson. A história se passa em uma ilha chamada The Rock, no oceano verde-esmeralda, onde Tress viveu toda sua vida simples, onde gosta de colecionar xícaras recebidas de marinheiros de terras distantes e ouvir histórias contadas por seu amigo Charlie. Mas quando o pai de Charlie o leva em uma viagem para outro Mar, para encontrar uma noiva, um desastre acontece, e Tress resolve deixar sua vida simples para embarcar clandestinamente em um navio e procurar uma Feiticeira do Mar da Meia-Noite, tentando ajudar seu amigo. Tress faz amigos: Huck, Fort, Salay e todos os personagens são personagens bem escritos e agradáveis.  À medida que Tress e a tripulação do navio enfrentam perigo constantemente, os laços entre eles se tornam cada vez mais profundos.

Toda a história de Tress of the Emerald Sea é narrada através da perspectiva de Hoid. Hoid é um personagem integrante do universo Cosmere de Sanderson. É um livro encantador sobre seres humanos, contradições, liderança, amigos que se tornam família, Pets, amor, bravura e empatia. Felizmente, Tress é bondosa, engenhosa e curiosa – o que também a torna uma heroína atraente. Ao longo de sua jornada, Tress encontra um rato falante, uma tripulação de piratas relutantes e muitos perigos. 

SPOILER: Não é uma história tão adulta como os outros livros do autor, mas tem aquele plot twist, pegadinhas e sempre achei que o rato fosse gente, mas não esse personagem! Porque como rato, convenhamos, ele é mais inteligente (risos). Vale a pena a leitura.

Síndrome do livro do Meio

O livro Shorefall do autor Robert Jackson Bennet continua a saga de Sancia que em Foundryside, junto com sua equipe desorganizada de aliados, conseguiu salvar a cidade de Tevanne da destruição, esculpindo um pedaço dela para si mesmos. Três anos depois, a Montanha está em ruínas e os campos lutam entre si para preencher o vácuo de poder deixado após sua destruição.
Da primeira história so me lembrava da Sancia – a ladra mestre capaz de ver entalhes – e de Clave- a chave falante com coração de ouro.
Esse segundo livro avança em três anos e mostra Sancia passando um tempo na firma de escriturários Foundryside, roubando, inovando e beijando sua namorada, Berenice. Os Foundrysiders resolvem executar uma jogada ousada para roubar um dos campos em uma tentativa desesperada de garantir seu futuro e é o primeiro passo em seu plano para libertar Tevanne das garras das casas mercantes.
Mas assim que eles voltam para casa em triunfo, prontos para uma bebida, uma nova ameaça, infinitamente maior surge para atrapalhar os planos.
Em uma jogada impressionante, o campo Dandolo achou por bem ressuscitar Craesedes Magnus, o Primeiro dos Hierofantes e lendário escrivão, que está vindo direto para Tevanne. Embora os Foundrysiders não tenham certeza de por que os Dandolos fizeram isso, ou o que exatamente o Primeiro Hierofante pretende, eles têm certeza de que não querem saber nada sobre isso. Mas ao invés de fugir da cidade, eles decidem ficar e lutar. WHAT?
Mas os Foundrysiders não podem igualar o próprio hierofante lendário, então eles tentam achar alguém que pode, embora, para salvar sua cidade, Sancia e sua gangue possam ter que se amarrar a uma ameaça ainda maior do que Craesedes Magnus – pois o que pode enfrentar um malvado senão um malvado maior?
SPOILER: a história começou com um assalto emocionante. Foi ótimo ver Sancia e sua turma fazendo o que fazem de melhor: roubando coisas e fugindo. E deu tempo de reconectar com os personagens esquecidos. Seja Orso, ex-criança do campo e cérebro da tropa; Berenice, a bela e genial escriba por quem Sancia se apaixonou; Gregor, forte e silencioso, outro humano escriba com sangue manchando sua sombra; e Clave que praticamente é apenas uma chave agora. Uma chave que não abre porta nenhuma.
È um livro muito divertido. Mas senti falta da antiga Clave. Sua brincadeira com Sancia foi uma das coisas que fizeram de Foundryside uma ótima leitura (e praticamente a única coisa de que me lembrei sobre o livro anterior). Embora Bennett tente fazer algo semelhante em Shorefall usando alguns dos outros personagens, ele simplesmente não tem o mesmo apelo que o relacionamento Sancia-Clave teve. O diálogo aqui é mais complicado e mais vazio.
Não é exatamente um livro sombrio, mas tem seus momentos.

Um grande Caos!

O livro O Portal da Casa dos Mortos, o segundo da série Malazanos do autor Steve Erikson, continua a saga de muitos personagens. Duiker, o historiador imperial, e Kulp, o último mago sobrevivente do 7º Exército, estão prestes a partir de Hissar para resgatar Heboric (que não tem mãos), um historiador exilado e ex-sacerdote de Fenner, o Deus Javali. Heboric, junto com Felisin Paran e Baudin, um bruto enorme que obviamente é mais do que parece – estão todos exilados em uma ilha que é um anátema para a magia. Enquanto Duiker retorna para tentar se juntar a Coltaine e sua “cadeia de cães”, como o êxodo de refugiados se torna conhecido, Kulp, o mago, parte com um pequeno bando de fuzileiros navais, apenas para acabar preso dentro de um dos Anciões. Warrens (um Warren sendo uma espécie de plano mágico paralelo do qual a magia é canalizada).

Enquanto isso, Icarium (da raça imortal Jaghut) e seu companheiro Mappo (um Trell) – ambos humanóides não humanos – estão vagando pelo continente das Sete Cidades na eterna busca de Icarium para recuperar seu passado, sua memória. Mappo, no entanto, tem outra agenda: ele está secretamente tentando impedir que seu amigo atinja esse objetivo de vida. Mas algo sobre o Redemoinho está atraindo Icarium cada vez mais perto do que ele pensa que quer encontrar. E também está atraindo os Soletaken (metamorfos) e D’ivers (transformadores capazes de assumir várias formas, como uma matilha inteira de lobos, uma horda de ratos, uma praga de aranhas).

 Impressões de leitura: há muita coisa acontecendo, e há muitos jogadores envolvidos, uma história complicada, com personagens complexos e uma profundidade que às vezes corre o risco de se exceder, com certeza é divertido. A escrita é capaz de provocar emoções no leitor e, embora às vezes você se pergunte o que realmente está acontecendo, não há um momento de tédio. A cena das moscas-vampiro é aterrorizante!!

Para quem leu e gostou de Gardens of the Moon , o primeiro romance de Erikson, você pode sentir nos primeiros capítulos que ter lido o primeiro livro não lhe deu nenhuma vantagem real. Portões da Casa dos Mortos é uma história completa por si só, embora complicada, que é tudo menos uma leitura leve. Vale, no entanto, o esforço. Mas tive que colar os nomes e os fatos da Internet, porque não é fácil lembrar tudo de todo mundo. Além de muitos nomes, as pessoas têm dois e até três nomes. Não pretendo continuar a série.

Muito do mesmo.

O livro O Livro Perdido da série Os Segredos de Wintercraft da autora Jenna Burtenshaw, conta a história de Kate, que teve seus pais levados por uma organização e é acolhida por seu tio, Artemis, e cresce na livraria com ele e seu amigo, Edgar. Mas agora os guardas estão de volta e procurando mais pessoas que estãoenvolvidas em traição. No entanto, eles também estão procurando pelos Dotados – uma raça que está em extinção, de pessoas que podem ver através do véu da vida e da morte. Com os guardas está Silas Dane, um homem que costumava estar morto, mas foi trazido de volta à vida como parte do experimento do Alto Conselho e foi deixado andando no véu entre a vida e a morte desde então.

Artemis criou Kate acreditando que o véu e os Dotados não passam de mitos. Mas então, enquanto se escondia dos guardas, Kate traz um pássaro morto de volta à vida. Artemis é descoberto e levado para o sul no Trem Noturno para ajudar nos esforços de guerra. Kate é sequestrada por Silas; ele quer que Kate o ajude a morrer novamente e encontrar a paz. O que Kate precisa para fazer isso é Wintercraft, um livro de conhecimento escondido nas profundezas da cidade-cemitério de Fume. Mas o Alto Conselho tem outros planos para Kate e Wintercraft. A viagem de descoberta de Kate a leva por Albion, de Morvane à distante cidade de Fume, outrora a cidade funerária do país, mas agora sob domínio do Alto Conselho.

Impressões de leitura: a leitura é fácil, o mundo criado pela autora é misterioso e dark, e tive um “deja vù” nas bibliotecas ocultas e nas rodas espirituais – uma parede que responde às suas perguntas por meio de uma série de rodas giratórias, muito parecidas com o aletômetro de Pullman, que não gostei. A parte boa é que tem muita aventura.

Salvar o reino?

O livro Os Seis Grows da autora Elizabeth Lim conta a história de Shiori’anma, a única princesa de Kiata, que tem um segredo: magia proibida corre em suas veias, que ela esconde muito bem do seu pai e seus irmãos, mas na manhã de sua cerimônia de noivado, com um príncipe que não conhece, Shiori perde o controle. A princípio, seu erro parece um golpe de sorte, impedindo o casamento que ela nunca quis, mas também chama a atenção de Raikama, sua madrasta, com quem ela se dá muito bem. Mas, em vez de apoiá-la, Raikama bane a jovem princesa de seu Palácio, colocando uma magia em seus irmãos transformando-os em corvos. Ela avisa Shiori que não deve falar sobre isso com ninguém: pois a cada palavra que sai de seus lábios, um de seus irmãos morrerá.

Sem dinheiro, sem voz e sozinha, Shiori procura por seus irmãos e descobre uma conspiração sombria para tomar o trono. Apenas Shiori pode colocar o reino em ordem, mas para isso ela deve colocar sua confiança em um pássaro de papel, um dragão mercurial e o mesmo rapaz com quem ela lutou tanto para não se casar. E ela deve abraçar a magia que foi ensinada durante toda a sua vida a renegar – não importa o custo.

Impressões de leitura: realmente gostei do livro, porque tem tudo que eu gosto: fantasia, suspense, aventura, conto de fadas que apresenta o folclore do Leste Asiático e conta uma história verdadeiramente bonita. A autora gosta de descrever o cenário, desde a vista da montanha nevada em Iro até as urtigas no Monte Rayuna e até o jardim de Raikama, incrivelmente bem escrito. 

A razão pela qual o livro foi apenas 3 estrelas para mim foi o motivo da luta da garota: salvar o reino. A primeira parte do livro foi boa, mas realmente não capturou meu interesse, mas gostei dela se interessar por culinária já no Palácio e depois precisar disso pra sobreviver.  Não fiquei surpresa com nenhuma das reviravoltas ou o final, mas ainda assim fiquei totalmente cativada com a história.

Um ótimo Título

O livro Atrás do Espelho da autora americana AG Howard explora questões de como a ida da “Alice” ao País das Maravilhas poderia afetar seus descendentes e segue Alyssa (uma descendente de Alice) em sua jornada pela toca do coelho para quebrar uma maldição que atormenta as mulheres de sua família, o que as deixa loucas quando começam a ouvir as vozes de insetos e plantas.

Unhinged (Desequilibrada) passa mais tempo no reino humano enquanto Alyssa tenta viver uma aparência de vida normal com seus entes queridos. No entanto, Morpheus não está feliz com isso e faz tudo o que pode para interferir, trazendo o País das Maravilhas para Alyssa na esperança de forçá-la a aceitar sua natureza e entrar novamente na luta contra a Rainha Vermelha.  

País das Maravilhas ainda é sombrio, mas extravagante, perigoso, mas encantador – tudo o que você deseja em uma recontagem gótica do País das Maravilhas. Flores parecidas com zumbis, o oceano de lágrimas de Alice, uma visão perturbadora do Coelho Branco, um cemitério esquisito e uma festa do chá bagunçada são algumas das coisas pelas quais esperar.

SPOILER: A história original é boa, então qualquer reconto é bom, mas os personagens têm aspectos irritantes, como adolescentes mimados. A personagem principal é irritante e eu não consego entender sua obsessão por Jeb. Ele é um cara legal com boas intenções, mas nocauteá-lo para contar a história sem ele foi uma péssima ideia. Morreu é o personagem ambíguo que vai fazer o leitor amar/odiar por não saber se ele é bom ou mau. O triângulo amoroso é totalmente forçado. Alyssa e suas idéias de relacionamentos são excessivamente sexualizadas, especialmente considerando que Alyssa começa a série como uma virgem de dezesseis anos que nunca foi beijada e então cita cenas de amassos patetas e horríveis; muitas insinuações ruins; diálogo terrível; e alguns momentos que são absolutamente desnecessários. Ao contrário de muitos livros YA, os pais de Alyssa estão presentes nesta série. Eles têm seus próprios problemas e jornadas a percorrer, mas são pessoas decentes que cuidam de sua filha e ambos são um pouco durões.

Sobre Perda e Memória

O livro Tigana a Lâmina na Alma, do autor canadense Guy Gavriel, conta a história de uma cidade. A história se desenrola através dos olhos de Devin, que é convidado para o grupo de conspiradores para corrigir um erro cometido contra a nação de Tigana e seu povo. A relativa inocência de Devin sobre a situação tem a ver com essa história. Quando Brandin de Ygrath atacou Tigana para expandir seu império e dar a seu filho Stevan um lugar próprio para governar, o impensável aconteceu. A pacífica e artística nação Tigana resistiu, e Stevan foi morto em uma batalha decisiva. Com uma raiva tomada pela dor, Brandin destruiu as maravilhas de Tigana e lançou um feitiço que tornou o nome Tigana incapaz de ser ouvido por qualquer pessoa, exceto um nativo de Tigana. Com efeito, destruindo a alma do país e a vontade de seu povo, tornando impossível lembrar ou mesmo saber sobre Tigana, exceto entre eles. (Me lembrou Um Estranho Sonhador, que a cidade foi destruída e ninguém consegue falar o nome dela).

Tigana sempre foi uma nação orgulhosa, que mantinha a crença fervorosa de que era favorecido pelo deus Adaon. Em vez de se renderem ao filho de um tirano, eles fizeram uma última resistência que traria consequências no futuro. Brandin de Ygrath não se contentou em simplesmente conquistar Tigana, em sua raiva e dor. Ele derrubou suas esculturas e sua arte. Ele derrubou as Torres de Avalle. Ele renomeou suas terras em homenagem ao seu maior inimigo e nomeou sua capital em homenagem ao filho que mataram. E o pior de tudo, ele usou sua poderosa feitiçaria para apagar a existência deles da memória. Ninguém podia ouvir o nome Tigana. Ninguém conseguia se lembrar da orgulhosa cidade à beira-mar. No que diz respeito à maioria das pessoas, Tigana sempre foi o Lower Corte.

Todos, exceto aquelas poucas pessoas que não podiam ser tocadas pela feitiçaria, foram feitos para esquecer. Silenciosamente e sutilmente, os sobreviventes de Tigana encontraram seus próprios meios de rebelião. Alguns acendiam uma única vela nas Noites das Brasas, um desafio aos deuses da Tríade que permitiram que sua orgulhosa terra caísse. Outros enviaram seus filhos ao mundo, armados com uma pista ou uma música que só poderia ser reconhecida por outros cidadãos de Tigana. Eles sabiam que sua esperança e o futuro de sua nação estavam com seus filhos.

Quinze anos depois, alguns que escaparam do banho de sangue juraram matar Brandin, restaurando a província ao seu nome legítimo e o herdeiro exilado Alessan ao seu trono. Posando como músicos viajantes, depois como comerciantes, o pequeno grupo de conspiradores traça seus planos e reúne forças até a hora certa. Enquanto isso, desconhecido para todos, a concubina favorita de Brandin é filha de Tigana, e também jurou matá-lo, mas é incapaz de agir contra ele. Esses tópicos da trama chegam a um clímax convincente, mas o cenário colorido do romance quase rouba o show. 

Impressões: em toda literatura de fantasia antiga, este está longe de ser perfeito em seu retrato das mulheres. O autor queria criar uma narrativa sobre a opressão e seu impacto na vida privada dos oprimidos. Ele explora esse tema pelas lentes da sexualidade e como ela pode ser usada como meio de rebelião. Embora esse tópico possa ser interessante, nem sempre envelhece bem, especialmente por apresentar distorções. E os arcos de caráter de algumas das mulheres estão enraizados em estereótipos.

História de Capa e Espada

O livro O Trono de Diamante do autor David Eddgings, conta a história de um Cavaleiro que quer salvar sua Rainha. A narrativa em terceira pessoa segue os passos de Sir Sparhawk, o campeão de justas do reino de Elenia, que volta para casa depois de dez anos de exílio por descobrir que a rainha Ehlana foi acometida por uma doença misteriosa e que foi feito um feitiço para preservá-la dentro de um Domo de diamante colocado em seu trono. Isso farácom que fique viva e adormecida até que se possa achar uma cura. Mas o feitiço tem data de validade, então Sparhawk terá que agir rápido para salvar a vida de sua soberana, a qual não vê desde que ela era criança.

Sparhawk pertence a ordem dos Cavaleiros Pandions, muito semelhante à Igreja católica em termos de organização, hierarquia e até características do deus monoteísta (“o deus eleno todo-poderoso”) e há outras ordens/religiões em outros continentes, claramente inspiradas nas orientais.

Também tem magia, que é parte importante do mundo: existem vários deuses, todos reconhecidamente reais, que atuam em diferentes partes de Eosia e são a fonte do poder dos seus adoradores. A raça dos styricos – feiticeiros e bruxas espalhados por diversas regiões – tem seus Deuses Jovens e Deuses Anciãos, um dos quais, Azash, que troca a alma em troca de grandes poderes para pessoas que não se importam em cometer algumas barbaridades.

SPOILER: O roteiro do autor foge dos esquemas de grandes plot twists ou ciclos de “tentativa e erro”: a história é basicamente uma corrida louca para se anteceder aos planos dos vilões e tentar encontrar uma cura para Ehlana. Nisso vemos o grupo de cavaleiros indo de um lado para outro, alguns conflitos, preconceitos religiosos, e não resolve o problema nesse primeiro livro. E não deixa um gancho para a próxima história, onde devem descobrir o que é o talismã, pra que serve, como usá-lo para salvar a Rainha, e quais as consequências disso. Portanto, a história toda ficou pro próximo livro.

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