Fofocas de Hollywood

O livro Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, da autora americana Taylor Jenkins Reid, conta a história de Evelyn, uma estrela de cinema que rapidamente se tornou uma celebridade de Los Angeles na década de 1950, com uma carreira de sucesso que se estende por três décadas, culminando com uma vitória no Oscar nos anos 80, quando ela toma a decisão de deixar o show business e seus casamentos, que foram menos bem-sucedidos e duraram menos do que sua carreira de atriz. Essa história está sendo contada para uma escritora desconhecida que é abordada por essa mega estrela no final de sua vida, para escrever uma biografia multimilionária. Mas o que ninguém entende é por que Monique foi escolhida para ser a escritora? 

Não consegui gostar nem um pouco de Evelyn, talvez por já ter visto muito vídeos sobre estrelas internacionais sendo admiradas, que acho que é a marca registrada de uma grande personagem e o grande motivo para ela ter sete maridos e o mesmo da vida real dos anos 40, eles escondem seu único amor verdadeiro, uma mulher. E aí mesmo sendo duas adultas idosas, tem falas adolescentes, e mostra como foi boa a vida das duas jovenzinhas apaixonadas. Não tem contexto de amor maduro e eterno. O “tom de voz” usado para a personagem não muda da juventude pra fase adulta e nem dá juventude para a velhice: tem que se esforçar muito para acreditar nessa voz.

Não consegui ficar animada em ouvir todos os detalhes da vida dela e me vi completamente desconectada de tudo que ela contou, pensando o quanto ela mudou a história real. Exatamente como eu me sentiria lendo qualquer livro de memórias ou autobiografia- não dá pra acreditar em tudo, mas dá pra pesquisar e ver o que foi escrito em jornais e TV sobre aquela pessoa. Entao, simplesmente não é para mim, mas eu recomendo fortemente para pessoas que gostam de histórias com traição, luxo, drama familiar, porque está bem escrito. Mas pareço estar vendo um vídeo do canal Sociocrônica, que conta as fofocas da Hollywood dos anos 30,40,50:

Moderno para a Época

O livro A Dama Oculta, da autora Ethel Lina White conta em 272 páginas a história de Iris Carr, jovem inglesa, órfã e rica, que costuma viajar com um grupo de amigos para curtir a vida nas paisagens mais estonteantes da Europa continental,  uma garota destemida, vestida em seus shorts e botas de alpinismo, arriscando-se sozinha em passeios pelas montanhas para apreciar a paisagem. O comportamento moderno de Iris é motivo de fofoca e de julgamentos morais pelos demais hóspedes do hotel, todos membros da preconceituosa sociedade britânica da primeira metade do século XX, que ainda preservava ares aristocráticos e pós-coloniais. Mais do que a juventude esfuziante e barulhenta de Iris e seus amigos, é a propensão da moça à independência que horroriza seus conterrâneos. No dia seguinte, ela e os demais turistas deverão pegar o trem de volta à Londres. Enquanto os outros arrumam a bagagem, enviam mensagens aos criados na Inglaterra e bebem chá na varanda de forma civilizada, Íris, um espírito livre, aproveita os últimos minutos para se divertir. Entre os hóspedes estão um pároco e a esposa, duas senhoras fofoqueiras, daquelas que parecem saídas de um romance de Jane Austen, e um casal em lua de mel que passa por desentendimentos durante as férias. Todos embarcam no mesmo trem, mas fazem questão de ficar longe da moça que “não se comporta de forma adequada”. Os amigos de Íris voltaram para a Inglaterra no dia anterior e por isso, ela viajará sozinha. A autora criou uma heroína que enfrenta diversos dissabores justamente por ser mulher, jovem e solteira em uma sociedade machista, patriarcal e preconceituosa. Por meio dos diálogos dos outros hóspedes, percebemos o quanto uma mulher como Íris incomodava por não corresponder ao que a sociedade esperava das moças naquele período. Ela não só gerencia o próprio dinheiro, como vive como se estivesse eternamente em férias. De repente acontece uma situação, em que precisa lidar sozinha com a solução de um misterioso desaparecimento, enquanto todos ao redor acreditam que ela está louca. Até então, Íris era bajulada por ser rica e gozava dos privilégios de sua classe social. Mas também era considerada uma cabeça oca. Pela primeira vez, está sendo abertamente hostilizada e confrontada. Íris passa a ser tratada como se estivesse em meio a uma crise ‘histérica’. Os passageiros dizem que a moça é louca e a todo momento tentam convencê-la disso, minando sua autoconfiança, atacando sua autoestima e questionando a capacidade da jovem de cuidar de si mesma. Por isso, precisa se superar e provar, não aos outros, mas a si mesma, que é capaz de muito mais.

Impressões: vários trailers tem essa brincadeira com o leitor de colocar personagens entre sanidade e loucura, jogando com a percepção da protagonista e do leitor sobre realidade x fantasia. Então penso que para a época, o livro é de 1936, causou um impacto sobre ter uma “detetive” feminina, empoderada e à frente dos padrões da época.

O livro é de 1936. Dois anos depois, Alfred Hitchcock o transformou em filme e também já foi refilmado em 1979 e 2013.

Os Ciclos da Vida

O livro A Balconista do autor/ator americano Steve Martin, premiado com o Emmy por roteiros que já escreveu para TV. Famoso por filmes de comédias,  esse é seu primeiro romance. O narrador conta a história de Mirabelle, uma mulher de 28 anos que se muda para Los Angeles para ter sucesso. Ela encontra um emprego numa galeria de lojas de luxo, chamada Neiman, onde vende luvas, um item que ninguém mais compra.

Solitária e deprimida, ela tenta estabelecer um relacionamento com o milionário de meia-idade e mulherengo de Seattle, Ray Porter, enquanto Jeremy tem mais haver com seu perfil, mas é preguiçoso, socialmente inepto e pouco ambicioso.

Mirabelle começa a se importa por estar presa em um emprego sem futuro  porque é realmente uma artista, que consegue vender algumas obras. Ray Porter, o milionário de Seattle que está cortejando Mirabelle, não pretende assumir nenhum compromisso com ela, embora Mirabelle entenda a conversa em que ele procura estabelecer sua cautela educada em termos exatamente opostos.  A delicadeza da percepção do autor é tão atraente que ele consegue construir uma novela a partir de nada além de explicações ininterruptas de coisas que os personagens não entendem: em primeiro lugar, por que Ray se sente atraído por uma heroína tão pouco atraente, como sua bondade infalível é diferente do amor que ela anseia, como ela periodicamente recua nos terrores da depressão clínica, por que o romance deles está condenado, embora eles se amem. As vezes o romantismo do livro é totalmente estragado por cenas de sexo que começam na cabeça de Ray que banca a personagem com viagens e presentes,  transformando o amor dela num típico “amante” paga.

O livro se tornou um filme com o próprio autor/ator em 2005, mas foi banido por seu teor adulto.

O Sentido da Obsessão

O livro O Perfume do autor alemão Patrick Süskind conta em 263 páginas a história do jovem Greenwille, do nascimento embaixo de uma mesa de peixaria até a adoração das pessoas mesmo sendo um assassino – não é spoiler, já que o subtítulo é esse. Nas favelas da França do século XVIII, o bebê Jean-Baptiste Grenouille nasce com um dom sublime, só descoberto quando cresce. Ele tem um olfato absoluto. Quando menino, ele vive para decifrar os odores de Paris e se torna aprendiz de um perfumista proeminente que lhe ensina a antiga arte de misturar óleos e ervas preciosas. Mas a genialidade de Grenouille é tal que ele não se contenta em parar por aí e fica obcecado em captar os cheiros de objetos como maçanetas de latão e madeira cortada. Então, um dia, ele sente um cheiro que o levará a uma busca cada vez mais aterrorizante para criar o “perfume definitivo” – o perfume de uma bela jovem virgem. É impossível se identificar com o personagemprincipal: Jean-Baptiste Grenuille é um personagem desapegado, sem emoção e não exatamente humano, carecendo de características humanas em todas as áreas que poderiam fazer outro ser humano sentir simpatia. Seu sofrimento constante não faz com que sintamos nada mais por ele; até a sua sede por fragrâncias e a sua obsessão em criar o perfume perfeito parecem excessivas ao ponto de perder a maior parte do seu significado, pois é tão primorosamente desvinculado das emoções humanas, memórias olfativas que a maioria das pessoas associa aos aromas. Grenuille é descrito no livro, mais de uma vez, como um carrapato. Desde o começo da história seu destino é traçado.

O livros é um dos mais bem escritos que já li, contado de forma lírica e que explora o sentido do olfato da maneira mais evocativa e poderosa que se possa imaginar. Como qualquer perfumista pode dizer, aroma não é algo fácil de transmitir, no entanto o autor consegue fazê-lo de forma brilhante, recriando o mundo da França do século XVIII com todos os seus horrores e fedor fétido. Aqui é mostrada a dualidade da natureza humana em sua forma mais desprezível e do perfume em sua forma mais sublime, uma combinação inebriante de depravação e beleza olfativa. O livro de 1985 -uma releitura pra mim – é bastante difícil de ler, para quem como eu assimila tudo que lê, mas o autor gastou mais tempo para nos provocar com detalhes sensoriais, oferecendo aos leitores um verdadeiro banquete de descrições dos óleos, das ervas, das plantas, dos cheiros das flores mais bonitas do planeta. O livro pode ser considerado fantasia, onde a magia reside no impacto exagerado do perfume e no dom notável de Grenouille, ser impossível. 

Existe o filme baseado no livro, mas sem a mesma característica de dualidade do livro:

Sem suspense

O livro Os artistas do Crime da autora australiana Edith Ngaio Marsh, foi escrito em 1938 e faz parte de uma série policial. A história é mais sobre o porquê do crime ter ocorrido, do que uma tensão pra achar o criminoso ou reviravoltas. Um grupo de artistas se reúne com Agatha Troy, artista famosa, para praticar técnicas de pintura e escultura no estúdio da casa da pintora. Entre o grupo de artistas está a modelo Sonia, cuja função é posar estática e nua por horas a fio durante as aulas práticas do grupo, como modelo vivo, sendo observada e reproduzida nas telas e argila. O assassinato de Sonia – ela tem uma faca cravada nas costas ao se deitar numa posição para posar – e alguém escondeu o objeto de lâmina bem fina por baixo do banco onde a modelo ficaria, e como suas posições eram sempre marcadas com giz no estrado, o assassino colocou a faca de modo que atingisse o coração. Todos os alunos do curso são suspeitos, é claro, e cabe ao detetive Roderick Alleyn resolver o caso.

A história tem um estilo Agatha Christie, com um final com vários suspeitos reunidos num mesmo ambiente para que o detetive enquadre o culpado. O ambiente das telas, cavaletes e argilas é descrito de uma forma visual por Ngaio, mas o final não é satisfatório.

Essa história virou uma série de Tv:

Suspense Previsível

O livro de 1974, Por Um Corredor Escuro da autora americana Lois Duncan, conta em 208 páginas a história de Kit Gordy, uma adolescente que precisa ir para um internato, enquanto sua mãe vai viajar pelo mundo em lua de mel com o novo marido. Ela odeia deixar suas amigas para passar um tempo no meio do nada. Tudo piora quando Kit descobre que ela e os outros unicos três alunos, foram escolhidos por ter alto quociente de inteligência, e foram escolhidos para esse novo internato pela Sra Duret para morar na isolada mansão Blackwood, com uma atmosfera assustadora, sem telefone, sem contato com o mundo exterior, os portões trancados, as cartas não enviadas para a família e existem visitantes noturnos nos sonhos que servem para inspirar as meninas a descobrir talentos artísticos até então inexistentes. Quando esses guias espirituais, incluindo Emily Bronte, Schubert e o paisagista Thomas Cole, começam a usar as meninas cada vez mais cansadas como canal para entregar suas obras-primas póstumas à Sra. Duret que os usará para obter ganhos financeiros, Kit resolve se rebelar e não aceitar os dons oferecidos pelos fantasmas.

SPOILERS: O mistério ao longo do livro, sobre o que a escola estava tentando fazer, foi bem previsível. A sinopse no verso, descrevendo-a como uma “prisão psíquica”, estraga um pouco do mistério. Você vai precisar de um pouco de “suspensão da descrença”, pra acreditar em tudo que está acontecendo: uma mulher dirige uma escola onde adolescentes somem, fica rica, muda de país e abre outra escola onde adolescentes somem. Ela vende obras falsificadas só pra abrir outra escola? Que desperdício…

O filme tem uma atmosfera mais de terror, com cenas não descritas no livro.

Roteiro de Filme

O livro Upgrade (Atualizado) do autor americano Blake Crouch, conta em 352 páginas a história de um vírus que modifica o código genético humano, tornando-o geneticamente modificado, para melhor. O laboratório que o criou, quer testar em grande escala, infectando um número grande de seres humanos. O personagem principal, Logan, se vê tendo modificações genéticas em seu corpo, e começa a fugir de agentes que querem colocá-lo trancado, em observação e também descobrir quem fez essa transmissão para o corpo dele. Ele não sabe se deve considerar ajudar a ciência e partilhar essas melhorias com o mundo ou erradicar o vírus.

A história se passa num momento no futuro, onde as formas de terapia genética com experimentação em humanos, foram banidas por causa de uma experiência genética que correu mal. Responsável por fazer cumprir a proibição está o GPA, uma agência governamental encarregada de rastrear todo e qualquer geneticista desonesto, quando o agente do GPA Logan descobre que foi infectado por um vírus desconhecido que lentamente muda seu DNA, aprimorando suas habilidades físicas e mentais e transformando-o no tipo de anomalia que o GPA persegue. Para piorar a situação, Logan acredita que sua atualização não foi um acidente.

Impressões de leitura: o novo romance do autor que gosto muito, não o chamaria de muito original, tendo como tema a biologia e a genética. No entanto, o que falta em originalidade é mais do que compensado com reviravoltas intrincadamente traçadas e muitas sequências de ação emocionantes, parecendo o equivalente literário de um filme de sucesso da melhor maneira possível. O livro as vezes me lembra partes de histórias de ficção científica semelhantes, como Blade Runner,  Matrix, Missão Impossível e muito do filme Limitless. Isso não é necessariamente ruim, se você gosta desse tipo de ação. Só que eu esperava mais, que tudo mudasse no final. Muito deste livro parece ter sido influenciado pelos eventos da pandemia e das alterações climáticas, às questões de justiça social, onde a história prevê um colapso total da humanidade, cria uma América futurista onde a humanidade está à beira da destruição. E neste mundo, a ciência alcançou a ficção científica, pois os humanos agora têm a capacidade de manipular os seus genes. É meio louco pensar que você pode se editar e mudar sua cara, torná-lo mais inteligente ou até mesmo criar novas espécies de animais e, mesmo assim, ainda estamos no caminho do fim de nossa espécie. Como diz Gênesis, nem todos estão preparados para o Conhecimento.

Baseado no livro de Jó

O livro Um Lugar Bem Longe Daqui da autora americana Delia Owens conta em 336 páginas a história de Kya Clark, que quando criança foi deixada em casa com seu pai e ficou conhecida localmente como a “Garota do Pântano”. Ela conta como sempre vai sendo deixada para trás por seu pai, sua mãe e seus irmãos na década de 1950, e Kya aprende a navegar pelos complexos ecossistemas do pântano, desistindo de ir pra escola estudar com outras crianças. Catherine se torna uma figura misteriosa e faz amigos entre outros “excluídos” da pequena cidade costeira. Ao longo do livro f8camos conhecendo sua mãe, que incapaz de suportar as surras de seu marido bêbado, assim como seus quatro irmãos, vão embora deixando Kya crescer na companhia descuidada e às vezes selvagem de seu pai, que acaba desaparecendo também. Sozinha desde os 6 anos, Kya aprende a ser autossuficiente e a encontrar consolo e companhia em seu ambiente natural, se interessando pelos pássaros, insetos, luz nas árvores e marés inconstantes dos pântanos. As coleções de conchas e penas da menina, sua comunhão com as gaivotas, sua exploração dos pântanos são evocadas em frases líricas que só ocasionalmente atingem o excesso. Mas quando a criança se torna adolescente e faz amizade com o garoto local Tate Walker, que a ensina a ler, o romance se estabelece em um padrão menos mágico e mais previsível. Intercalada com a maioridade de Kya está a investigação de assassinato de 1969 decorrente da descoberta do corpo de um homem no pântano. A vítima é Chase Andrews, que já foi amante de Kya. Aos olhos de um par de policiais locais Kya acabará se tornando a principal suspeita e deve ser julgada. A essa altura, as fraquezas do romance se tornaram aparentes: a caracterização monocromática (bom menino Tate, bad boy Chase) e implausibilidades (Kya evolui para um polímata – uma escritora, artista e poeta e especialista em biologia!), mas a reviravolta final é para mostrar a redenção dentro da Redenção.

Impressões de leitura: quando publicou essa história a autora já era coautora de três livros de não ficção sobre sua vida como cientista da vida selvagem. A história não tem um ritmo e passa um tempo indo do passado para o presente para permitir ao leitor uma verdadeira visão do mundo de Kya.  A prosa poética e descritiva nos transporta para o pântano costeiro da Carolina do Norte. O pântano quase se tornou um personagem à parte. Você pode visualizar as imagens e sons vívidos da casa de Kya e admirar as maravilhas secretas que existem dentro dela. Você pode ver claramente a experiência real da autora no mundo natural, pois suas descrições são tão sugestivas e detalhadas.

PROBLEMA: Uma garota analfabeta do pântano seria capaz de se autoeducar ao nível de uma acadêmica? Um adolescente criado sem a mãe consegue transformar uma selvagem em uma dama educada? Ensiná-la a ler em pouco tempo sem metodologia? Faz tudo parecer muito fácil depois de tanto drama. Igual Jó: tinha tudo, perde tudo, passa pelo fundo do poço e dá a volta por cima.

O filme foi baseado na trama final do livro, mas tem um visual mais clean, do que os personagens e lugares do livro.

Não valeu o hype

O livro A Mulher na Janela do autor americano A. J. Finn conta a história da Dra Anna, que há dez meses trata uma depressão causada por stress pós-traumático, no qual ela não quer melhorar, misturando remédios fortes com bebida alcoólica. Uma nova família está se mudando para sua rua no Harlem, e a Dra. Anna Fox já sabe seus nomes, históricos de empregos, quanto eles pagaram pela casa e qualquer outra coisa que você possa descobrir usando um mecanismo de busca. Após um acidente misterioso, Anna sofre de agorafobia tão grave que não sai de casa há meses. Ela fala com o marido e a filha ao telefone – eles se mudaram porque “os médicos dizem que muito contato não é saudável” – e conduz seus relacionamentos com os vizinhos inteiramente pelas lentes de zoom de sua Nikon D5500. Como ela explica aos colegas sofredores em seu grupo de suporte on-line, comida e medicamentos (para não falar das caixas de vinho) podem ser entregues à sua porta; sua faxineira pode levar o lixo para fora. O psiquiatra e o fisioterapeuta de Anna fazem visitas domiciliares; um inquilino em seu porão trabalha como faz-tudo. Para combater o tédio, ela tem xadrez online e uma enorme coleção de DVDs; ela memorizou a maior parte de Hitchcock. Tanto o jogo de xadrez quanto os enredos de filmes noir, se tornarão metáforas assustadoramente adequadas para os eventos que se desenrolam quando o filho adolescente de seus novos vizinhos bate em sua porta para entregar um presente de sua mãe. Não muito tempo depois, a própria mãe dele aparece. Então Anna testemunha algo quase chocante demais para ser real acontecendo na sala de estar deles. O tédio não será mais um problema.

Impressões: o livro  literalmente escolheu pontos de trama de tantos livros e filmes conhecidos que é difícil encontrar um único momento de originalidade em suas páginas, o leitor sente que está numa releitura. Sabe quando você já leu ou viu algo antes? Um pouco Janela Indiscreta, filme clássico.  A história toda é uma mistura de suspense com drama, imitando partes de A GarotanoTrem, Mentirosos, Vertigo e muitos filmes clássicos policiais. AJ Finn não tem vergonha de deixar o leitor saber o quanto ele está roubando de outros escritores – o personagem principal senta e assiste aqueles filmes em preto e branco todas as noites e os usa para ajudá-la a descobrir o que está acontecendo.

O principal problema é que, se Anna já viu essa situação antes em um filme, é provável que o leitor também o tenha visto. Portanto, nada parece novo ou diferente. Se ele escrevesse uma biografia sobre ele mês, provavelmente acharia isso muito mais interessante do que este livro, já que sua vida gira em torno de polêmicas.

Porque a Arte é importante

Não me Abandone Jamais do autor japonês Kazuo Ishiguro conta a história de três amigos que se conhecem em Hailsham, um internato único e secreto. Kathy, Tommy e Ruth nunca conheceram um mundo fora de Hailsham, mas suas vidas lá dentro são bem completas: eles têm aulas de artes e ciências, praticam esportes e até realizam vendas e trocas, oportunidades para os alunos terem um vislumbre do mundo exterior. Alguns itens descartados e de segunda mão são levados a Hailsham para os alunos escolherem, para que possam fazer com que, em seus dormitórios, se sintam mais em casa tendo pequenos confortos como lindos estojos de lápis e toca-fitas portáteis, tornando suas vidas restritivas mais suportáveis.

SPOILER: A história é contada do ponto de vista de Kathy que tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de “cuidadora”. Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos os “alunos” de Hailsham são clones, produzidos com a única finalidade de servir de peças de reposição. Assim que atingirem a idade adulta, e depois de cumprido um período como cuidadores, todos terão o mesmo destino – doar seus órgãos até “concluir”.

Impressões de leitura: Sobre o que é o livro?  se passa em um presente alternativo onde a sociedade aperfeiçoou e implementou a clonagem humana para fins de extração de órgãos. E seus doadores não sabem disso, informações que deveriam ter alterado a maneira como Tommy e Kathy olhavam para toda a infância, apenas recebem um “dar de ombros”, outro dilema moral que o autor deixa de resolver é o do poder da doutrinação: nenhum dos personagens do livro questiona a aparente inevitabilidade de seus destinos, demonstra que seus personagens têm uma curiosidade passageira sobre o mundo ao seu redor, mas nenhum interesse em se envolver ativamente com ele. Os elementos de ficção científica não chegam a lugar nenhum. Mas adorei a parte em que mostra que a Arte importa! Serve para criar memórias, mostrar quem somos, mostrar humanidade, nos diferenciar dos irracionais, aumentar a percepção de mundo e dos seres a nossa volta.

Foi lançado um filme de mesmo nome: