Moderno para a Época

O livro A Dama Oculta, da autora Ethel Lina White conta em 272 páginas a história de Iris Carr, jovem inglesa, órfã e rica, que costuma viajar com um grupo de amigos para curtir a vida nas paisagens mais estonteantes da Europa continental,  uma garota destemida, vestida em seus shorts e botas de alpinismo, arriscando-se sozinha em passeios pelas montanhas para apreciar a paisagem. O comportamento moderno de Iris é motivo de fofoca e de julgamentos morais pelos demais hóspedes do hotel, todos membros da preconceituosa sociedade britânica da primeira metade do século XX, que ainda preservava ares aristocráticos e pós-coloniais. Mais do que a juventude esfuziante e barulhenta de Iris e seus amigos, é a propensão da moça à independência que horroriza seus conterrâneos. No dia seguinte, ela e os demais turistas deverão pegar o trem de volta à Londres. Enquanto os outros arrumam a bagagem, enviam mensagens aos criados na Inglaterra e bebem chá na varanda de forma civilizada, Íris, um espírito livre, aproveita os últimos minutos para se divertir. Entre os hóspedes estão um pároco e a esposa, duas senhoras fofoqueiras, daquelas que parecem saídas de um romance de Jane Austen, e um casal em lua de mel que passa por desentendimentos durante as férias. Todos embarcam no mesmo trem, mas fazem questão de ficar longe da moça que “não se comporta de forma adequada”. Os amigos de Íris voltaram para a Inglaterra no dia anterior e por isso, ela viajará sozinha. A autora criou uma heroína que enfrenta diversos dissabores justamente por ser mulher, jovem e solteira em uma sociedade machista, patriarcal e preconceituosa. Por meio dos diálogos dos outros hóspedes, percebemos o quanto uma mulher como Íris incomodava por não corresponder ao que a sociedade esperava das moças naquele período. Ela não só gerencia o próprio dinheiro, como vive como se estivesse eternamente em férias. De repente acontece uma situação, em que precisa lidar sozinha com a solução de um misterioso desaparecimento, enquanto todos ao redor acreditam que ela está louca. Até então, Íris era bajulada por ser rica e gozava dos privilégios de sua classe social. Mas também era considerada uma cabeça oca. Pela primeira vez, está sendo abertamente hostilizada e confrontada. Íris passa a ser tratada como se estivesse em meio a uma crise ‘histérica’. Os passageiros dizem que a moça é louca e a todo momento tentam convencê-la disso, minando sua autoconfiança, atacando sua autoestima e questionando a capacidade da jovem de cuidar de si mesma. Por isso, precisa se superar e provar, não aos outros, mas a si mesma, que é capaz de muito mais.

Impressões: vários trailers tem essa brincadeira com o leitor de colocar personagens entre sanidade e loucura, jogando com a percepção da protagonista e do leitor sobre realidade x fantasia. Então penso que para a época, o livro é de 1936, causou um impacto sobre ter uma “detetive” feminina, empoderada e à frente dos padrões da época.

O livro é de 1936. Dois anos depois, Alfred Hitchcock o transformou em filme e também já foi refilmado em 1979 e 2013.

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