Uma anti-heroína?

O livro Sobre Homens e Lagostas da autora americana Elizabeth Gilbert impressionou os críticos em todos os lugares com Stern Men  – um romance sábio e encantador ambientado na costa do Maine, que conta a história de Ruth Thomas, que nasceu durante uma disputa travada por gerações entre dois grupos de lagosteiros locais pelos direitos de pesca nas águas que ficam entre suas respectivas ilhas. Aos dezoito anos, ela voltou do colégio interno mal-humorada e determinada a se juntar aos “homens severos” e trabalhar nos barcos de lagosta. Embora a história seja contemporânea, ela tem a qualidade fora do tempo típica da melhor ficção – e tem uma anti-heroína que fala palavrão, não quer ser bem-tratada por um homem, não quer dinheiro fácil. 

Impressões: o que me pareceu é que a autora, que é jornalista, fez uma longa pesquisa sobre a pesca da lagosta – e que não seria mais usada – então resolveu transformar num romance. Mas algumas páginas e parece que as histórias não se misturam. A personagem principal passa noventa por cento da história sendo rebelde, odiando os ricos, mentindo sobre gostar de pescar, não sabe o que quer da vida e aí, se torna uma inteligência máxima!! Sabe tudo sobre negócios, sobre leis trabalhistas, leis de herança e se torna o homem que ela detestou a vida toda! E tem muita descrição repetida sobre personagens. Muitas vezes. Cansativo.

Não Responda! 🌐🛰

O livro O Problema dos Três Corpos do autor chinês Cixin Liu é a primeiro da trilogia The Remembrance of Earth’s Past e se tornou uma sensação internacional desde sua publicação original em chinês em 2006 e subsequente tradução para o inglês por Ken Liu em 2014. Na história, o pai da Ye Wenjie é um professor de física bem-sucedido na prestigiosa Universidade Tsinghua, em Pequim. Ele está na vanguarda de seu campo, ensinando as principais teorias da física moderna, como a relatividade geral e a mecânica quântica. Sua aceitação da ciência ocidental – incluindo o trabalho de Einstein e Bohr – o leva a ser acusado de abraçar ideologias reacionárias. Ele é espancado até a morte por estudantes da Guarda Vermelha na frente de sua filha apavorada. A própria Ye Wenjie mais tarde é perseguida e presa por abraçar o pensamento ocidental. Ela é salva por dois cientistas militares que trabalham na Costa Vermelha, um programa espacial ultrassecreto do governo chinês, que reconhecem as excelentes habilidades de Ye Wenjie como física. Miao é um engenheiro de nanotecnologia e foi envolvido em um videogame online de realidade virtual chamado Three Body , que é tão profundamente metafísico que começou a se assemelhar a um culto.

O romance começa durante a Revolução Cultural chinesa, um período de fanatismo político em que a República Popular da China se tornou essencialmente um culto à personalidade de Mao, dominando a vida das pessoas de forma distópica, procurando apagar todos os aspectos não comunistas da história e cultura chinesas, por meios violentos, se necessário, significando também um controle rígido sobre o sistema educacional chinês para impedir o ensino de idéias antigovernamentais.

A ideia central de The Three-Body Problem se baseia diretamente no clássico de ficção científica de Stanisław Lem de 1961, Solaris , que considera se um planeta que orbita dois sóis pode suportar a evolução da vida, então Cixin Liu aumenta a aposta ao apresentar um terceiro sol ao problema. O caminho orbital de um planeta em torno de três sóis representa um problema matemático complexo que desafiou pessoas pela solução por centenas de anos. Em The Three-Body Problem , o planeta em órbita, Trisolaris, experimenta períodos de relativa estabilidade pontuados por períodos de súbito caos climático. No momento em que o livro atinge seu auge, é revelada uma conspiração que abrange sistemas solares – uma que não apenas ameaça alterar a raça humana, mas os próprios blocos de construção da física que evoluímos para entender.

Além de seu excelente tratamento dos princípios científicos, O Problema dos Três Corpos levanta várias questões filosóficas importantes, sendo a mais profunda delas: Vale a pena salvar a humanidade? O conhecimento é importante para todo mundo? Em que ponto a ciência se torna dogma e em que ponto esse mesmo dogma se torna religião? À medida que Ye Wenjie se torna uma das principais cientistas em busca de vida extraterrestre, suas experiências durante a Revolução Cultural moldaram sua visão sobre o valor da humanidade.

SPOILER: Não recomendo pra quem não gosta de descrições detalhadas, no caso sobre Revolução, exposição técnica sobre tudo, desde a mecânica quântica até a inteligência artificial, enigmas filosóficos que beiram o psicodélico e raças alienígenas.

A Netflix já lançou uma série sobre o livro 👇

Ficção Histórica

O livro A Biblioteca Perdida do Alquimista do autor italiano Marcello Simoni conta história do desaparecimento de uma rainha e um grupo liderado por Ignazio Alvarez é convocado pelo Rei Fernando III para uma missão muito especial: resgatar a Rainha da França, Branca de Castela, que foi abduzida em estranhas circunstâncias. Parte do mistério está relacionado ao Turba Philosophorum, um livro de alquimia atribuído a um dos discípulos de Pitágoras. Logo o mistério de Airagne, prende o leitor em sua teia de conspirações, alquimia e conhecimento perdido. Destaque desta vez para Uberto, que recebe uma missão independente e parte sozinho para enfrentar seu destino, se tornando peça chave na trama enquanto o personagem toma rumos assombrosos.

Impressões de leitura: ao terminar o primeiro capítulo percebi que esse não é o primeiro volume da série, mas é uma história completa, com os mesmos personagens. Dez anos se passaram desde os acontecimentos do primeiro livros-que só li resenhas, Uberto agora não é mais um jovem que viveu trancado em um mosteiro: aprendeu esgrima e a usar um arco com Willalme, teve experiências com mulheres e já é tratado por Ignazio de Toledo com igualdade.

Em nota histórica após a narrativa o autor explica que a maioria dos eventos citados durante o livro são reais, como as guerras da Rainha Branca de Castela contra condes rebeldes no sul da França, bem como as descrições arquitetônicas de castelos e mosteiros. Parte da pesquisa foi feita durante as publicações acadêmicas sobre história medieval, que eventualmente lhe deram a ideia da narrativa.

A Suave Sensação da vida no Campo

O livro A Cidade do seu Destino Final do autor Peter Cameron conta em 335 páginas a história de vida de ricos ingleses desenraizados, vivendo longe de tudo e todos. Narra também a história de um inseguro aspirante a professor de literatura, Omar que pretende escrever uma biografia sobre o escritor alemão exilado no Uruguai, Jules Gund, recentemente falecido de modo misterioso. Omar recebeu uma bolsa da universidade para escrever essa biografia. Para obter a autorização dos reticentes herdeiros, vai até estância onde vivem os três herdeiros, na América do Sul, onde acaba por ser o elemento desestabilizador de uma plácida mas fossilizada harmonia. Essa “família” é composta pelo irmão homossexual de Gund: Adam, seu amante Pete: um asiático, a mulher do escritor, Caroline e sua amante Arden, que também vive na propriedade com a filha Portia. A “família” de Gund vive na propriedade isolada e decadente do falecido autor. A chegada sem aviso prévio de Omar vai perturbar a frágil coexistência desta família e faz com que todos questionem as suas próprias circunstâncias e os seus destinos, que por sua vez leva o próprio Omar a questionar-se sobre em que grau, se for o caso, ele tem sido o autor da sua própria existência até agora, se ele quer essa pesquisa ou foi induzido.

O livro tem uma atmosfera interessante, o contraste entre a vivacidade da namorada de Omar e a apatia dele. Da vida na Nova York cheia de eventos, e a vila sem hotel ou um bom restaurante. A facilidade de ir a muitos lugares na América do Norte e a dificuldade de ir, de compreender, de entender, de se localizar na América do Sul.

Sorrir em Meio às Lágrimas

O livro O Reino dos Deuses da autora americana N. K. Jemisin conta a história de Sieh, o primeiro dos muitos filhos dos deuses que sempre ocupou uma posição estranha na hierarquia divina: apesar de ser o mais velho, sua natureza é a infância, o que o faz conservar a aparência e o comportamento de uma criança, uma combinação que o torna uma grande e perigosa contradição, até mesmo para si próprio. No último livro da trilogia Sieh busca dar sentido à própria vida, depois de dois mil anos almejando a liberdade, e agora que enfim a conquistou, acaba indo revisitar o Céu, palácio da soberana família Arameri que serviu de cativeiro em seu período como escravizado. Lá, percebe que aquela família já não é mais tão soberana assim, e é então que encontra duas crianças que representam o futuro daqueles a quem mais odeia.

Impressões de leitura: nunca fui fã da mitologia grega em que deuses ficam lutando entre si. A diferença do poder dos deuses de Jemisin é que não dependem da força das crenças de seus seguidores. Eles existiram antes dos mortais, existirão depois dos mortais, e a devoção dos mortais é divertida, mas não necessária para sua existência. Em vez disso, sua força depende de quão fiéis eles são à sua própria natureza. Por exemplo, Sieh é o deus trapaceiro da infância e qualquer coisa relacionada a ser um adulto responsável o enfraquecerá. Este é, de fato, todo o enredo do terceiro livro: ele vai assumir a responsabilidade pelas coisas, pedir desculpas, pegar o caminho certo em vez de pregar uma peça ou fazer uma observação útil em vez de uma piada, e são coisas contra sua natureza e vai enfraquecê-lo. Além disso, a construção do mundo é incrivelmente sofisticada. Jemisin é inteligente sobre as origens e limitações da magia em seu mundo. Ela também nunca deixa o leitor perder de vista o fato de que seus deuses não são humanos. Há uma certa semelhança com as pessoas, mas Nahadoth, Sieh e o resto pensam e agem de maneira muito diferente dos personagens humanos. É tão bom e tão diferente do que a maioria das pessoas supõe que seja fantasia, mas considero ficção científica. Cada livro tem um personagem principal diferente e conta uma história distinta e independente, mas eu recomendo fortemente lê-los em ordem. 

Manipulação da Verdade?

O livro Verity da autora Colleen Hoover conta a história Lowen, uma escritora que não consegue se manter financeiramente devido à morte recente de sua mãe. Em desespero, Lowen aceita uma oferta de emprego que a deixa muito desconfortável, mas pode amparárá-la para o resto da vida. Quando Lowen assina na linha pontilhada para se tornar co-escritora com Verity Crawford, uma autora de renome que está atualmente incapacitada, a pressão aumenta para terminar o que essa autora popular começou. Para se familiarizar com o trabalho de Verity, Lowen viaja para a casa da família de Verity em uma tentativa de entender os requisitos de seu contrato. Enquanto vasculha as anotações e pertences de Verity, Lowen faz uma descoberta chocante. Um misterioso manuscrito descreve a história da vida de Verity. Esta narrativa em estilo de confissão arrepiante descreve todos os eventos trágicos que impactaram a família de Verity.  No entanto, conforme Lowen desenvolve sentimentos românticos por Jeremy, seu senso de proteção aumenta. Lowen decide manter o manuscrito escondido de Jeremy, sabendo que seu conteúdo devastaria o já enlutado pai. Mas conforme os sentimentos de Lowen por Jeremy começam a se intensificar, ela reconhece todas as maneiras pelas quais poderia se beneficiar se ele lesse as palavras de sua esposa. Afinal, não importa o quão dedicado Jeremy seja a sua esposa ferida, uma verdade tão horrível tornaria impossível para ele continuar a amá-la. Os nomes dos personagens indicam as características? Verdade, “Zé Ninguem” e Jeremias era conhecido como reclamão. Parece que já temos pistas.

SPOILER: Só ler a sinopse, jáme deixou desconfortável: mais uma mulher se tornando uma adolescente burra, por causa de um macho que nem conhece! É uma história que parece um sonho febril em que nada faz sentido, e o único aspecto assustador é que a mente da personagem inventou tudo. O enredo não é apenas totalmente implausível, mas é quase juvenil, se não fosse o conteúdo Hot. As motivações da personagens mudam do começo para o final. Não apenas sua bússola moral está torta por uma razão quase insubstancial, mas está claro que a maioria de suas decisões foi escrita apenas para progredir na trama. Tive que usar muito a “suspensão da descrença” para aceitar algumas atitudes de uma mulher de 32 anos, querendo ser adolescente apaixonadinha, que faz tudo por amor.

Ver as decisões impensadas de Lowen é como assistir a um terrível filme de terror e gritar para a TV: “Pare! Não entre aí!” Mas insisti para descobrir as razões que fez Lowen agir da maneira que ela fez. Para minha decepção, o passado dela nãotem nada demais. O evento considerado horrível que transformou a personagem principal é insatisfatório. 

O romance e caso amoroso de “Verity” também é limitante: Jeremy não tem uma característica marcante: ele é pai, mas não dá pra dizer se é um bom pai ou mediano. É um amante fogoso no texto descrito, mas que é desfeito na carta. É confiável, mas todas as coisas que mostrou a ela foi: mentiu sobre quem a escolheu para escrever o livro, então não esbarrou nela “sem querer” , já sabia do manuscrito e parece ter criado toda a situação de propósito. Mas o leitor não tem a visão deste lado da história.

De Lowen, não sabemos se o que ela está vivenciando é a verdade ou se as coisas estão apenas em sua imaginação. Lowen não é a heroína mais inteligente, lê sobre obsessão e se torna a personagem da história, quer a vida dela. Se envolve com o marido dela. E, mesmo achando ele uma boa pessoa, ele manipula ele dizendo “mata ela”. Aff!

Tem a Verity, personagem que dá nome ao livro, uma mulher atraente e doentia que escreveu um manuscrito tão chocante que você não pode deixar de desprezá-la. A Verity que conhecemos no manuscrito é um psicopata horripilante. Não sabemos se isso combina com a Verity que está em coma – ela não pode se mover ou falar, é que tem um álibi para os eventos do livro.

É um livro distorcido, sombrio e perturbador, com representações gráficas de abuso, então preste atenção aos avisos de gatilho antes de pegá-lo.

E essa capa feia que nada significa? Uma rede prendendo uma garota? Espelhado no lago? A pessoa não leu essa parte direito.

Síndrome do livro do Meio

O livro Shorefall do autor Robert Jackson Bennet continua a saga de Sancia que em Foundryside, junto com sua equipe desorganizada de aliados, conseguiu salvar a cidade de Tevanne da destruição, esculpindo um pedaço dela para si mesmos. Três anos depois, a Montanha está em ruínas e os campos lutam entre si para preencher o vácuo de poder deixado após sua destruição.
Da primeira história so me lembrava da Sancia – a ladra mestre capaz de ver entalhes – e de Clave- a chave falante com coração de ouro.
Esse segundo livro avança em três anos e mostra Sancia passando um tempo na firma de escriturários Foundryside, roubando, inovando e beijando sua namorada, Berenice. Os Foundrysiders resolvem executar uma jogada ousada para roubar um dos campos em uma tentativa desesperada de garantir seu futuro e é o primeiro passo em seu plano para libertar Tevanne das garras das casas mercantes.
Mas assim que eles voltam para casa em triunfo, prontos para uma bebida, uma nova ameaça, infinitamente maior surge para atrapalhar os planos.
Em uma jogada impressionante, o campo Dandolo achou por bem ressuscitar Craesedes Magnus, o Primeiro dos Hierofantes e lendário escrivão, que está vindo direto para Tevanne. Embora os Foundrysiders não tenham certeza de por que os Dandolos fizeram isso, ou o que exatamente o Primeiro Hierofante pretende, eles têm certeza de que não querem saber nada sobre isso. Mas ao invés de fugir da cidade, eles decidem ficar e lutar. WHAT?
Mas os Foundrysiders não podem igualar o próprio hierofante lendário, então eles tentam achar alguém que pode, embora, para salvar sua cidade, Sancia e sua gangue possam ter que se amarrar a uma ameaça ainda maior do que Craesedes Magnus – pois o que pode enfrentar um malvado senão um malvado maior?
SPOILER: a história começou com um assalto emocionante. Foi ótimo ver Sancia e sua turma fazendo o que fazem de melhor: roubando coisas e fugindo. E deu tempo de reconectar com os personagens esquecidos. Seja Orso, ex-criança do campo e cérebro da tropa; Berenice, a bela e genial escriba por quem Sancia se apaixonou; Gregor, forte e silencioso, outro humano escriba com sangue manchando sua sombra; e Clave que praticamente é apenas uma chave agora. Uma chave que não abre porta nenhuma.
È um livro muito divertido. Mas senti falta da antiga Clave. Sua brincadeira com Sancia foi uma das coisas que fizeram de Foundryside uma ótima leitura (e praticamente a única coisa de que me lembrei sobre o livro anterior). Embora Bennett tente fazer algo semelhante em Shorefall usando alguns dos outros personagens, ele simplesmente não tem o mesmo apelo que o relacionamento Sancia-Clave teve. O diálogo aqui é mais complicado e mais vazio.
Não é exatamente um livro sombrio, mas tem seus momentos.