Muita Aventura! =D

O livro “Mamãe não pode Saber”, do autor Johannes Mario Simmel se passa em Viena, 1952 e conta em 138 páginas a história de um aluno de 9°ano, que recebeu um boletim ruim e não se atreve a ir para casa. Sua mãe doente ficaria muito chateada com o resultado negativo e, como o médico que a tratou havia lhe explicado pouco tempo antes, isso significaria uma recaída em sua doença. Então ele decide não ir para casa. Um amigo da escola é forçado a ajudar. A fuga de casa torna-se uma perseguição. Ele se esconde em um cinema onde é pego no final do filme. Um homem esteanho oferece ajuda para ele e o convida para jantar. Ele diz que ajudará a conseguir um emprego onde ele pode ganhar muito dinheiro. Sem saber, ele cai nas mãos de assaltantes e se envolveu em um assalto. Mas, como seria de esperar depois da guerra, há um final feliz. Estilisticamente, da perspectiva de hoje, pode-se dizer “brega”. Em termos de tempo, é entretenimento de leitura. Não gostei de aparecer uma mini-sinopse no início de cada capítulo. Isso parece um esboço de trabalho do autor. Desenhos a tinta ilustram os eventos.

Eu amei esse livro! É muito fofo, cheio de amor e aprendizados. É interessante ler um livro para adolescentes quando adulto. Se for de um período anterior – no caso após a Segunda Guerra Mundial” – torna-se duplamente interessante. É de outra época. Quando as pessoas tinham outras preocupações.

2 livros, Muitas Histórias

O Livro da Dança da autora nacional Inês Bogea conta em fragmentos e imagens a história de sua passagem por várias formas de arte em movimento durante a vida: ginástica olímpica, capoeira, ballet clássico e ballet moderno. Fez parte de grupos de dança muito famosos aqui no Brasil.

Conto– é uma narrativa curta, que se passa necessariamente num lugar único, abrange um espaço de tempo muito curto e contém poucos personagens. No conto tudo é conduzido de forma breve. O livro Contos Brasileirohs II reunidos por Alaíde Gomes em 1997 e contém contos de autores brasileiros famosos: Álvares de Azevedo, Moacyr Scliar, Clarice Lispector e outros. Todos os textos tem um parágrafo com comentário crítico. Meus dois contos favoritos são: Pausa, onde mostra um homem que, pra fugir da rotina imposta por sua mulher, aluga um quarto numa zona de meretrizes e vai uma vez por semana. O final é hilário. O outro é Notícias, onde uma mulher que posta anúncios procurando marido, cheia de exigências quanto às qualidades. E durante o ano ela vai repostando e diminuindo as qualidades, menos que envie flores. O final é digno de plot twist. 😉

Juventude Desperdiçada

O livro A História Secreta de Donna Tart conta em 592 páginas a história de Richard contada por ele mesmo, onde ele decide estudar grego em uma Universidade longe de sua casa. Lá ele inveja um grupo de belos alunos que estudam grego, um grupo de estudantes clássicos decadentes em uma faculdade de elite de Vermont na década de 1980.  Em termos de enredo, este romance é um mistério de assassinato reverso ou uma história de detetive invertida, em outras palavras, sabemos quem são os perpetradores e sabemos quem foi a vítima desde o início. 

A primeira cena do romance é a de um grupo de amigos, incluindo o narrador de dezenove anos Richard Papen, dirigindo de volta ao Hampden College depois de assassinar um amigo e colega de classe (isto não é um spoiler). O restante do romance é uma explicação de tirar o fôlego de como o assassinato foi permitido, o ‘porquê’ aconteceu e seus efeitos devastadores sobre os personagens.

Uma curiosidade de A História Secreta está no título. “Esta é a única história que poderei contar”, afirma Richard no prólogo; imediatamente vemos como é a habilidade de Tartt em dar ao leitor a impressão de que está sendo informado de um enorme segredo, que o leitor pensa que se trata do crime. Isso da tendência confessa de Richard de mentir, ele manipula o leitor o tempo todo, também tem a habilidade de comover: ele deixa de lado suas origens humildes na pequena cidade da Califórnia e inventa um passado cheio de com internatos caros e pais magnatas do petróleo para se encaixar com seus colegas de classe abastados. Esses colegas são maravilhosamente observados: os gêmeos Macaulay, vestidos de branco e belos; Henry Winter, um gênio linguístico, misterioso e mão aberta, órfão do Missouri; Edmund ‘Bunny’ Corcoran, filho de um financista quase falido, é impetuoso, irresponsável. É uma façanha considerável para Tartt nos apresentar esse elenco de personagens curiosos e desonestos, e ainda torná-lo totalmente crível quando o grupo conta a Richard como uma “bacanal para estudar os gregos” que eles empreenderam na zona rural de Vermont terminou em assassinato.

Depois da inserção de Richard no grupo, as aulas de grego são substituída por várias práticas – alcoolismo, incesto, abuso de medicamentos prescritos, invasão, armas – que os personagens usam para se proteger do mal que cometeram com uma calma arrepiante. Essa, é claro, é a trágica ironia da obra: em seus esforços para responder às suas próprias ações báquicas depravadas de maneira racional, os alunos se vêem atraídos para um tipo diferente de fuga, que revela a horrível banalidade do mal. Há muito para os estudantes de clássicos se divertirem aqui, incluindo alusões a Sófocles, Homero e Platão, mas há mais do que o suficiente para aqueles que não conhecem o assunto gostarem do romance. De fato, uma parte significativa da atração do romance é o “desejo mórbido do pitoresco” lendo em faculdades e bibliotecas antigas, o ar sombrio e soturno das cenas, chamado de “dark academia“.

Esta é uma história sobre personagens que se deixam cair em excessos de todos os tipos, desde o abuso de substâncias, até estarem tão distantes da realidade atual que não sabem que um homem pousou na lua! Vale a pena o final, mas podia diminuir umas 100 páginas desse calhamaço.

Essa pra mim é a capa perfeita: o clássico, a luz, a prisão.

Releitura Psicodélica =/

O livro O Lado mais Sombrio da autora americana A G Howard, conta em 368 páginas a história de Alyssa, uma descendente da Alice Liddel da famosa história de Lewis Carrol. A família de Alyssa é amaldiçoada com o poder de escutar insetos e plantas, devido à desventuras de Alice no País das Maravilhas. Sua mãe, Alisson, foi internada em uma clínica de pacientes com transtornos mentais quando Alyssa era mais nova e agora ela teme que as pessoas descubram que ela também ouve inseto e flores e que esteja ficando louca como a mãe.

Quando resolve acreditar na magia, ela descobre que se voltar à toca do Coelho Branco, talvez possa libertar sua mãe e ela mesma da maldição e, com isso, se ver livre dos pesadelos e transtornos causados por Alice. Ela toma coragem para voltar ao País das Maravilhas, mais de 80 anos depois de Alice Liddel e, aos poucos, Alyssa começa a descobrir que os mistérios que rondam a maldição são mais assustadores e bem mais complexos do que imaginava. Com a ajuda do amigo (e paixão platônica) Jeb, ela percebe que a cabeça de criança de Alice percebeu o País das Maravilhas de uma maneira bem diferente do que é na verdade: ela enfeitou o mundo encantado, os monstros e obstáculos que ali habitam. O vilão aparece na pele de outro rapaz bastante sedutor chamado Morfeu (mesmo nome do Senhor do Sono) e ele vem acompanhando e até treinando Alyssa desde pequena para que ela pudesse quebrar a maldição.

SPOILER: O título original já diz o quê será da história: Dividida. O triângulo amoroso é muito adolescente, enjoativo. Mesmo não sendo fã do País das maravilhas, já me diverti muito assistindo a filmes e desenhos inspirados na obra original. Só que todo aquele esplendor e fascinação que foi descrito por Lewis Carrol para atrair crianças, foi distorcido e o País das Maravilhas não é essa maravilha toda, é bem dark e sombrio: o meu personagem favorito não é coelho, e sim quase um zumbi, com seus ossos e pele necrosada no lugar dos pelinhos. O gato de Cheshire, o Chapeleiro Maluco, as irmãs Tweed, rainha branca e a rainha de Copas estão todos lá, só que com outra vibe. Reforçando a ambiguidade do reino encantado, Jeb é o cara carinhoso, que faz de tudo para proteger Alyssa e está constantemente preocupado com sua segurança. Já Morfeu é o típico Bad Boy que as meninas amam, com um forte sotaque britânico e muitas artimanhas, ele se preocupa muito com a Alyssa, porém usa de modos mais drásticos para ajudar e não tem medo de manipular quem precisar para conseguir o que quer. Achei tudo muito corrido e repetitivo.

Um Trono para a Rainha

O livro A Rainha de Tearling da autora americana Erika Johansen conta em 352 páginas a história de Kelsea, única herdeira do trono Tearling, que foi criada por uma família adotiva durante a maior parte de sua vida. Já se passaram muitos anos entre a morte de sua mãe, a infame rainha Elyssa, e a própria coroação de Kelsea. Quando a Guarda da Rainha chega em seu décimo nono aniversário no chalé onde Kelsea e seus pais adotivos estão escondidos nos arredores do reino de Tearling, ela não tem escolha a não ser ir com eles e governar Tearling por quantos dias ela puder sobreviver. Entre os querem sua morte está seu tio ganancioso que quer o trono para si, o misterioso e perigoso Fetch, um líder de um grupo de bandidos, e a poderosa Rainha Vermelha do reino vizinho, com o objetivo de fazer Tearling se curvar diante dela. O reino está em ruínas – os bandidos querem tirar vantagem e ganhar o controle para si mesmos, e os mocinhos são tão cautelosos em evitar mais danos que, a menos que Kelsea possa provar ser uma força poderosa para o bem, ela está em perigo até mesmo das pessoas que deveria estar do lado dela. Será preciso um milagre para corrigir todos os erros feitos por sua mãe em Tearling – Kelsea é esse milagre, ou ela é apenas uma garota perdida que foi enganada por toda a vida? Kelsea deve ganhar a confiança e a lealdade da guarda de sua rainha e de seu capitão Lazarus, conquistar seu povo e enfrentar obstáculos que variam de uma igreja corrupta, um fora-da-lei popular e uma guilda de assassinos empenhados em acabar com sua vida, mas ela é empurrada para a responsabilidade e espera-se que salve todo o reino.

SPOILER: A magia não aparece até 70% das páginas e depois é algo que Kelsea toma emprestado de uma safira, ao invés de possuir um poder mágico. E nem sabe como usar. As referências à cultura moderna são desconcertantes, sem qualquer contexto sobre o porquê de citar livros como “Senhor dos Anéis” ou “J.K.Rowling” existirem nesta narrativa. Não sabemos onde essa história se passa, mas tem referências a nomes e lugares da América ou Europa. O livro tenta ser feminista, onde todo vilão é um escravizador, um estuprador ou um pedófilo; às vezes todos os três, mas as mulheres não são empoderadas e qdo podem , fazem as mesmas coisas que um homem. Os pensamentos das personagens são masculinizados, pensando mal das formas do corpo de uma mulher ou da vaidade de outra.

Existe uma igreja pseudo-cristã, onde tudo que vemos é sua hierarquia corrupta e ganância geral, dando à rainha motivos para menosprezar qualquer um que acredite em deus, apesar do fato de que na sociedade medieval real, a igreja era frequentemente a fonte de entretenimento, cultura, estudo e até cuidados médicos. Isso é contraditório porque a rainha está bastante preparada para acreditar instantaneamente e agir de acordo com visões misteriosas que ela começa a receber de gemas mágicas; até mesmo esperando que outros seguissem sua liderança após revelar o poder da safira sem nenhuma evidência além de sua palavra!

A Luta Contra o Patriarcado

 O livro Garotas Feitas de Neve e Vidro da autora Melissa Bashardoust, conta a história de Linet, uma princesa que tem a pele feita de neve e sua madrasta, Mina que tem um coração de vidro. Nenhuma delas é inteiramente humana; elas foram feitas para serem mais criaturas do que meninas, autômatos mágicos que não podem sentir frio ou conhecer o amor. A história se passa em um reino amaldiçoado pelo inverno eterno, que serve como uma metáfora para a beleza física que é moeda de troca e maldição tanto para Lynet, a filha amada do rei Nicolau, quanto para Mina, a filha negligenciada de um mágico infame. Mina se casa com o rei viúvo e que eventualmente se torna a madrasta “má” de Lynet. Sempre sendo definida nos limites da sombra de sua mãe, Lynet quer ser livre para ser ela mesma. Consolando-se com a compaixão de sua madrasta Mina, Lynet começa a se perguntar como seria uma vida própria. Mas antes que seus desejos possam fugir dela, ela descobre uma terrível verdade: que o mesmo mago que substituiu o coração de Mina a criou da neve com seu sangue para ser a imagem perfeita da rainha morta, a pedido de seu pai. Com a ajuda da enfermeira do reino, Lynet quer fugir de seu destino. É uma história, principalmente, sobre corações e seus usos, onde o ritmo se recusa a deixar para trás as motivações primordiais do conto original da Branca de Neve: as ideias de beleza e inveja que colocam princesa e madrasta em rota de colisão. A história de Mina mostra sua ascensão ao poder quando ela é transplantada de sua casa ensolarada para a corte gelada do rei no norte, um lugar que parece rejeitá-la a cada passo. Lynet é um espírito mais livre, mimado desde jovem, mas não menos preso às rígidas tradições do reino de seu pai. As duas mulheres habitam um mundo congelado e sufocado, onde se espera que sejam bonitas, delicadas e recatadas, moldadas perfeitamente para se encaixarem em seus papéis como figuras reais. Com o tempo, vemos que ambas lutam para preencher o vazio deixado pela falecida rainha, cuja morte a transformou em uma espécie de santa em seu reino; mas não importa o que aconteça, elas não conseguem se moldar no que os outros pensam que deveriam ser.

SPOILER: a história não tem medo de levar os personagens a lugares sombrios, mas o livro ainda mantém uma inocência fresca e cativante, contornando as armadilhas de reinicializações excessivamente corajosas ou excessivamente açucaradas, então a personagem principal não é tão sem noção mas também não é empoderada. Ambas as mulheres são moldadas e magicamente controladas por seus pais, que também são seus criadores, mas as duas odeiam isso e tentam seguir suas próprias idéias. Os tópicos importantes do conto da Branca de Neve estão todos aqui, mas isso não significa que não haja muitos toques específicos e surpreendentes no romance de Bashardoust que nos levam a um novo mundo. Nada de mineiros anões. Sem muito trabalho doméstico. Nenhum príncipe, mas uma bela cirurgiã que instiga o despertar sexual de Lynet. E há uma espécie de espelho mágico – um rapaz animado por vidro criado para fazer companhia à madrasta Mina depois que ela é empurrada para a posição solitária de rainha em uma terra estrangeira e nevada. Tudo é muito conveniente, as garotas dão a volta por cima descansando em quem elas realmente são, insistindo em momentos tranquilos em que podem se reunir e tomar uma decisão. Isso evocou imagens de ‘monstros’ criados por homens como Frankenstein e me fez pensar sobre o poder do espírito feminino para a criação, uma bela intertextualidade dentro da história.