Coelhinho da Páscoa, o quê trazes…

O livro Bunny, da escritora canadense Mona Awad, conta a história de Samantha, que compartilha seu seminário de escrita criativa com as Bunnies, numa prestigiosa Universidade. As bunnies são um grupo de garotas ricas e superpróximas em vestidos espumosos que bajulam o trabalho umas das outras, constantemente se abraçam e se chamam de Coelhinhas. Usando vestidos estampados de gatinhos, frequentam um café onde toda a comida é em miniatura, desde os mini cupcakes até às mini batatas fritas. Samantha não é, por definição, uma coelhinha. Mas então um bilhete aparece em sua caixa de correio de estudante, sinistro e açucarado ao mesmo tempo. No começo Sam as odeia junto com sua amiga Ava. E então as Coelhinhas a convidam para um dos seus Smut Salons, ela é atraída para o seu mundo fascinante e fantástico, cheio de mistério sobre “de onde vem os meninos”. Contada sobre o ponto de vista de Samantha, ela categoriza cada uma em seu tipo muito raramente nomeando-as. Uma mulher personifica tanto um cupcake que é consistentemente descrita como comestível, a garota gótica, a garota mauricinha: esses estereótipos parecem tão reconhecíveis quanto os filmes adolescentes que aparentemente insistem que todos têm apenas uma identidade, como Meninas Malvadas. Ela também tenta insultar o curso de artes ironizando os seminários, o Smut Salon é inofensivo comparado ao que os Bunnies chamam de “Workshop”, que, explicam elas, é um projeto “experimental” e “intertextual” que “subverte todo o conceito de gênero” e também “o patriarcado da linguagem”.

A questão do que é real e do que não é real é uma grande questão ao longo do romance, tanto para Sam quanto para o leitor, e criou uma espécie de névoa na última parte do romance, ficando meio perdido, tudo muito subjetivo, parece que ela criou “a história secreta” só que com meninas ricas. Não pretendo ler outra história da autora.

Moderno para a Época

O livro A Dama Oculta, da autora Ethel Lina White conta em 272 páginas a história de Iris Carr, jovem inglesa, órfã e rica, que costuma viajar com um grupo de amigos para curtir a vida nas paisagens mais estonteantes da Europa continental,  uma garota destemida, vestida em seus shorts e botas de alpinismo, arriscando-se sozinha em passeios pelas montanhas para apreciar a paisagem. O comportamento moderno de Iris é motivo de fofoca e de julgamentos morais pelos demais hóspedes do hotel, todos membros da preconceituosa sociedade britânica da primeira metade do século XX, que ainda preservava ares aristocráticos e pós-coloniais. Mais do que a juventude esfuziante e barulhenta de Iris e seus amigos, é a propensão da moça à independência que horroriza seus conterrâneos. No dia seguinte, ela e os demais turistas deverão pegar o trem de volta à Londres. Enquanto os outros arrumam a bagagem, enviam mensagens aos criados na Inglaterra e bebem chá na varanda de forma civilizada, Íris, um espírito livre, aproveita os últimos minutos para se divertir. Entre os hóspedes estão um pároco e a esposa, duas senhoras fofoqueiras, daquelas que parecem saídas de um romance de Jane Austen, e um casal em lua de mel que passa por desentendimentos durante as férias. Todos embarcam no mesmo trem, mas fazem questão de ficar longe da moça que “não se comporta de forma adequada”. Os amigos de Íris voltaram para a Inglaterra no dia anterior e por isso, ela viajará sozinha. A autora criou uma heroína que enfrenta diversos dissabores justamente por ser mulher, jovem e solteira em uma sociedade machista, patriarcal e preconceituosa. Por meio dos diálogos dos outros hóspedes, percebemos o quanto uma mulher como Íris incomodava por não corresponder ao que a sociedade esperava das moças naquele período. Ela não só gerencia o próprio dinheiro, como vive como se estivesse eternamente em férias. De repente acontece uma situação, em que precisa lidar sozinha com a solução de um misterioso desaparecimento, enquanto todos ao redor acreditam que ela está louca. Até então, Íris era bajulada por ser rica e gozava dos privilégios de sua classe social. Mas também era considerada uma cabeça oca. Pela primeira vez, está sendo abertamente hostilizada e confrontada. Íris passa a ser tratada como se estivesse em meio a uma crise ‘histérica’. Os passageiros dizem que a moça é louca e a todo momento tentam convencê-la disso, minando sua autoconfiança, atacando sua autoestima e questionando a capacidade da jovem de cuidar de si mesma. Por isso, precisa se superar e provar, não aos outros, mas a si mesma, que é capaz de muito mais.

Impressões: vários trailers tem essa brincadeira com o leitor de colocar personagens entre sanidade e loucura, jogando com a percepção da protagonista e do leitor sobre realidade x fantasia. Então penso que para a época, o livro é de 1936, causou um impacto sobre ter uma “detetive” feminina, empoderada e à frente dos padrões da época.

O livro é de 1936. Dois anos depois, Alfred Hitchcock o transformou em filme e também já foi refilmado em 1979 e 2013.

E o Navio Revive

O livro O Navio Arcano da autora americana Robin Hobb é o primeiro de uma série de fantasia intitulada The Liveship Traders, com 864 páginas,  ambientada no mesmo mundo da impressionante trilogia de Hobb,  O Aprendiz de Assassino de 1997. O navio mercante Vivacia, de propriedade e capitaneado por Ephron Vestrit da cidade de Bingtown, é construído em madeira mágica: uma vez que três gerações de Vestrits tenham morrido a bordo, a madeira mágica irá “reviver”, tornar-se senciente e será incorporada em seu movimento com a figura de proa falante. Dois Vestrits anteriores faleceram; agora Ephron está morrendo, tendo entregue a capitania a seu arrogante e inexperiente genro Kyle Haven e não a sua sucessora natural, a sua segunda filha Althea. Kyle, por sua vez, manda buscar seu filho Wintrow, a quem entregou para a igreja para ser sacerdote de Sá, mas ele deseja apenas permanecer em seu mosteiro. Ephron morre, Vivacia revive e torna-se amiga de Wintrow. Kyle expulsa Althea do navio, porque ela se sente injustiçada, e começa a treinar brutalmente o relutante Wintrow e organiza o transporte de escravos. Enquanto isso, o capitão pirata Kennit nutre ambições de capturar um navio vivo; algumas serpentes marinhas inteligentes têm seus próprios planos; A viúva de Ephron, Ronica, deve pagar uma dívida paralisante com os mágicos Rain Wild, colocando em perigo sua neta, a adolescente teimosa Malta; e Althea planeja recuperar seu navio. 

Não precisa pedir uma atmosfera melhor em uma história de fantasia com piratas, serpentes marinhas e figuras de proa falantes, e  os personagens também são um grupo bastante interessante mesmo não sendo um grande elenco.

Althea foi realmente interessante de ler por causa de sua determinação e realizações, apesar de muito irresponsável. Ela, sem dúvida, teve o maior crescimento de personagem neste primeiro livro, viajou sob a bandeira de seu pai desde criança e sempre teve a impressão de que o Livership se tornaria sua posse e amiga. Kennit é um pirata conspirador e movido pelo poder e, embora faça coisas boas, ele as faz para seu próprio ganho pessoal, e também um pirata sombrio, charmoso e bonito que tem um amuleto Wizardwood no pulso que fala, e ele também quer ser o rei de todos os piratas. Ele também deseja comandar um Liveship. Ele decide fazer um acordo com seu primeiro imediato de que toda vez que eles tentarem pegar um Liveship eles terão que liberar a carga de um navio negreiro. Maulkin e suas companheiras serpentes marinhas não me deu curiosidade. Aqui não existe bem ou mal, mas sim velho versus novo e resistência à mudança. Eu gostei muito do rapazinho Wintrow. Se Fitz tocou meu coração, acho que Wintrow será um fardo emocional semelhante em sua mente pelo drama e pelo que o destino reservou para ele. Contra seu juramento, mas forçado pela vontade de seu pai, ele se afasta da vocação de Sa, à qual sua vida foi dedicada.  

Por outro lado, o enredo deste primeiro romance é incrivelmente lento, e um de seus principais fios nem sequer se conecta com nada até o final. Outros fios, como o das próprias serpentes, efetivamente não levam a lugar nenhum em todo o livro e, embora sejam importantes mais tarde na trilogia, sua inclusão aqui parece bastante sem objetivo. 

Prefiro a capa internacional,  acho essa capa daqui muito “tempestade”.

Empoderada Ela!

O livro A Filha do Rei Pirata da autora americana Tricia Levenseller, vai contar a história de Alosa,que tem  seu próprio navio e tem uma fiel tripulação ao seu lado, é filha única do maior pirata já conhecido, o Rei Pirata. Ele é uma lenda viva e todos o temem.  Quando seu navio é atacado pelos piratas do Perigos da Noite, que desejam sequestrá-la para descobrir a localização do Rei Pirata e destroná-lo, parece que este é o fim da jovem princesa. Mas a verdade é que Alosa esconde muitos segredos. O que eles não sabem é que, na verdade, sua captura foi um plano totalmente articulado por ela e seu pai a fim de localizar um pedaço de um mapa de um tesouro há muito tempo perdido que foi dividido em três partes. A primeira delas já está com o Rei Pirata, mas há outras duas a serem encontradas e uma delas está com certeza a bordo do Perigos da Noite, navio do pirata rival, o capitão Draxen. É missão de Alosa encontrá-la e enviá-la ao pai. Ela só não contava, conhecer Riden, um pirata charmoso mas irmão do malvado capitão. Riden, o irmão do capitão, mais ponderado e inteligente dos dois, está encarregado de interrogar a prisioneira e está cismado com algumas das atitudes de Alosa. Nota-se a desconfiança mútua e em alguns momentos ele vai fazer o jogo da garota na esperança de descobrir o que está acontecendo. Para um pirata, ele até que é bem educado, inteligente, charmoso e até mesmo evita deixar Alosa ser vigiada por homens ruins. Mas até ele se irrita com as impertinências dela e resolve levá-la para o seu quarto, onde pode vigiá-la mais de perto.

Impressões de leitura: Me lembrou Tress. Alosa é simplesmente maravilhosa! Mesmo tendo que fazer o papel de dama frágil, ela não perde a oportunidade de debochar de seus captores ou de subjugá-los para escapar da cela e procurar pelo mapa. É notável que muitos piratas passam a respeitá-la e até criar uma afeição por sua vítima. A autora soube criar uma protagonista forte, divertida e irreverente, que luta com unhas e dentes pelos seus objetivos e não baixa a cabeça para homem nenhum. Em vários momentos fica bem evidente que a situação de treinamento com seu pai, foi toda abusiva. Essa garota foi testada em situações cruéis, como ficar trancada num calabouço sem janelas, água ou comida, e ela entende que foi para seu próprio bem, para torná-la uma capitã melhor e mais forte. Há longas ponderações dela sobre como seu pai a tornou a capitã que ela se tornou.

O livro é considerado um fenômeno do TikTok com mais de 21 milhões de visualizações na hashtag internacional #daughterofthepirateking.

A Violência da Colonização

O livro Babel, da autora sino americana R.f. Kuang conta em 560 páginas a história de Robin, um menino do Cantão, onde vive e é o único sobrevivente da cólera em seu bairro, onde ele ainda tem um nome chinês, não se chama Robin, mas quando o professor britânico Lovell, invade sua casa e o resgata da doença, utilizando barras de prata trazidas da Grã-Bretanha, isso mudará sua vida para melhor. Robin escolhe o nome de Robin Swift para si mesmo quando Lovell o traz para o Reino Unido, onde paga pela educação em uma ótima escola, criando oportunidades para o jovem, que está treinando em grego antigo e outras línguas para frequentar a Babel na Universidade de Oxford, que é o Instituto de Tradução.

E Robin eventualmente entra em Babel, alcançando os objetivos de sua vida até aquele ponto. Robin se torna amigo de três membros de um grupo: Ramy, que é de Calcutá, Victoire, que é do Haiti, e Letty, que é filha de um general britânico. Os três se envolvem na vida do instituto, estudando uma infinidade de idiomas para poder utilizá-los com barras de prata. As barras de prata usadas pelos britânicos são o elemento mágico da fantasia: codificadas com a linguagem do usuário, podem ser usadas para qualquer coisa, seja para a complacência dos escravos ou para uma boa colheita. Somente as elites ricas têm acesso a essas barras, e quando Robin acidentalmente conhece seu irmão, Griffin, que foi expulso de Babel, ele é cada vez mais sugado para o mundo subterrâneo de “Hermes”. Eles o estão recrutando para trazer as barras de prata de Babel para roubar, já que as proteções impedem que qualquer pessoa, exceto os estudantes e professores de Babel, entrem na torre. A torre está usando da magia das barras para abertamente manter o domínio colonial britânico sobre os oprimidos, e Robin, embora resista a Griffin e na verdade lhe diga para se ausentar por meses seguidos, está cada vez mais desiludido com esse modo de vida.

Porquê Robin deixa de ser grato e trai Lovell? Quando ele bate em Robin por perder uma de suas aulas, esse incidente estabelece um precursor de raiva para o relacionamento deles. Após uma tentativa fracassada de roubar da torre, Robin descobre que Ramy e Victoire estão envolvidos nas atividades da Hermes, e ele assume a culpa por eles. E o quarteto é enviado para Cantão, que enfrenta o início das Guerras do Ópio, e Robin enfurece ainda mais o Professor depois que um general chinês explode todos os seus suprimentos de ópio. Victoire, Robin e Ramy estão cada vez mais contra o que os britânicos estão fazendo neste momento, que é orquestrar uma guerra contra a China e que Lovell, e muitos dos professores, estão envolvidos nas operações, então se comprometem com a causa da Hermes.

Eles sitiam a torre, e à medida que os britânicos se aproximam da torre e Oxford começa a desmoronar devido à falta de manutenção da prata, o grupo decide que precisa explodir a torre, encerrando todas as pesquisas realizadas e, finalmente, acabando com suas vidas junto com ela.

Acho que por ser longo  Babel perde o fôlego à medida que despenca em direção ao arco final. Acabei pulando muitas notas de rodapé porque, embora eu entenda que Kuang está tentando imitar um livro acadêmico, ela insere muita informação de uma forma engessada, não dando tempo para o leitor pensar e as vezes o leitor nem precisava daquela informação para entender a história. Por ela ser historiadora, penso que ela quis mostrar sua pesquisa. Também vejo a história impor ideologias modernas aos personagens – parece um livro que seria lançado em 2022, e grande parte da linguagem em si não parece pertencer a 1828, quando o romance começa.

Mas caso você ainda esteja em dúvida, sim, Babel é realmente muito bom e você deveria absolutamente comprar uma cópia.

Têm muitos livros de mesmo nome, então procure pelo nome do autor: