Ilha da Fantasia

O livro Caraval da autora americana Sthefanie Garber conta em 352 páginas a história de Scarlett, uma menina que vai se casar num arranjo feito por seu malvado pai. Pela descrição das vestimentas tudo se passa no século XVIII (?). As filhas devem obedecer sem questionar. Scarlett tem uma irmã chamada Donatella, que por ser a caçula é mimada pela irmã, que vê no casamento a chance de se livrar e salvar a irmã das grosserias do pai. Mas sua irmã adora o Caraval, uma espécie de teatro itinerante que passa em cada ilha apenas uma vez. Então Scarlett escreve cartas para “Lenda” o dono/criador do espetáculo para que volte a ilha para que sua irmã possa assistir. Ela e a irmã não podem sair da ilha onde seu pai é o cruel governador. ” Tudo o que você já ouviu sobre Caraval, não se aproxima da realidade. É mais do que um jogo ou uma performance. É o mais perto que você chegará da magia neste mundo.”

SPOILER: Já assistiu o antigo seriado “A Ilha da Fantasia” onde o Sr Roarke atendia o desejo de seus convidados? É exatamente isso o livro: o Lenda convida Scarlett para a ilha dele e vai conceder a ela um desejo. Mas, assim que chegam, Donattela desaparece, e Scarlett precisa encontrá-la o mais rápido possível. Como no seriado, o convidado têm que cumprir algumas etapas, passar por perigos, e realizar sonhos. Achei os blurb exagerados:”Os Jogos Vorazes se encontram com O Circo da Noite.” Entertainment Weekly – ninguém vai lutar até a morte como no primeiro e não tem mágica acontecendo como no segundo, e sim alucinações. Coisas que ela vê e depois não aconteceu. Achei a personagem fraca, não consegue guardar uma única informação a história toda!! As outras pessoas que querem receber o desejo somem e aparecem do nada. É como se a “câmera focasse nesses personagens durante essas cenas” e depois o diretor esqueceu de filmar os outros atores. Não existe tensão nem perigis reais. O único vilão/perigo seria o pai dela, que a própria irmã avisa que é pra ir atrás delas na ilha de Lenda. Só faltou a picadinha do Tatoo no final. 😉

O Personagem briga com a Autora :)

O livro O Outro lado da História da autora Rosana Rios, tem uma forma diferente de ser contada: o enredo deveria ser o clássico dos contos de fadas, com o rei e a rainha festejando o nascimento do príncipe, suas aventuras na floresta encantada, uma cavalgada para salvar a princesa aprisionada pelo cavaleiro indigno e o final feliz, com o casamento dos jovens. Cheio de referências, a história, desde o prefácio e o sumário, o vilão e o mocinho, a princesa, todos se rebelam contra seu destino, questionando as coisas que fizeram ou deveriam ter feito. Personagens se rebelam contra o autor e recriam a história de fadas, num jogo de linguagem original e numa paródia das histórias de príncipes e princesas, não acontecendo o que o autor da referência quis que acontecesse. Dessa vez, os personagens resolvem dizer o que pensam. O Príncipe, a Fada, o Camponês e a Princesa rebelam-se contra seu destino, intervêm no enredo criando as mais inusitadas e engraçadas situações, parecendo uma “fanfic” de um conto de fadas.

Têm um livro de não-ficção de mesmo nome.

Os Contos do Poeta

 O livro O Sorvete e Outras Histórias do autor Carlos Drummond de Andrade é um livro de contos. O conto favorito foi A Doida, uma história triste, de superar os medos pra ajudar alguém. Vários contos são de crianças ou animais, sempre com aquela “moral da história”, como nas fábulas. O livro vem com um texto sobre o autor e exercícios de compreensão do texto.

Trecho do livro: “aos vinte anos escreveu suas memórias. Daí por diante é que começou a viver. Justificava-se: se eu deixar par aescrever minhas memórias quando tiver 70 anos, vou esquecer muita coisa e mentir demais.”

Conhecendo as origens

O livro De olho nas penas  da autora Ana Maria Machado é uma história de fantasia e constitui-se além disso, na história pessoal de muitas crianças, filho de exilados políticos, que, durante os anos de ditadura nasceram e foram obrigados a viver fora de seu país de origem. Assim a história começa com uma verdadeira viagem pelas tradições culturais da América Latina. Voando com MIguel nos braços de Amigo – personagem mágica que sintetiza nossas raízes – o leitor participa de uma jornada pelas terras das montanhas, dos rios e das savanas. E descobre uma história de lutas e de sangue, mas também de muita beleza. A narrativa juvenil na qual Miguel, filho de militantes políticos exiliados pela Ditadura Militar, tenta entender a sua identidade ao mesmo tempo em que vai descobrindo, com o olhar curioso da infância, a história da América Latina. Nas asas de um maravilhoso pássaro, que assume diferentes formas ao longo da aventura, Miguel passeia pela “Terra das Montanhas e Vulcões” a “Terra das Savanas, Além do Mar”, e conhece os segredos dos nossos antepassados. A linguagem coloquial confere leveza à narrativa, dividida em quatro capítulos, nos quais são abordados assuntos como a violência das ditaturas latino-americanas, a perseguição política e o exílio. As ilustrações complementam o tom poético do texto, enfatizando a fusão entre o real e o maravilhoso, o homem e a natureza, e ampliando o olhar do leitor para os conceitos de família, pátria e cultura.

Sobre a ausência e a solidão.

O livro Eu que Nunca Conheci os Homens (Moi qui n’ai pas connu les hommes) da autora belga Jaqueline Harpman conta em 192 páginas a história de uma menina/moça, contada em primeira pessoa por ela mesma, e começa mostrando trinta e nove mulheres que estão presas junto com ela em uma jaula coletiva em um porão, sob a vigilância de guardas homens que permanecem sempre em silêncio. Eles as observam com seus chicotes. Não é permitido qualquer tipo de toque entre elas. O choro nem a insônia têm lugar. Não conhecem sequer os próprios rostos. Não se sabe como lá chegaram nem por quê. Vestem trapos, excretam em público, não veem a luz do dia. Um dia, misteriosamente, uma sirene soa, os guardas fogem e as grades se abrem. É ela que conduz as demais prisioneiras em fuga, para a parte de cima e pra fora da construção, apenas para encontrarem um lugar deserto e desconhecido. Agora, contando apenas umas com as outras, elas terão que reaprender a viver e enfrentar outro desafio: a liberdade absoluta.

Jacqueline Harpman (1929-2012) foi uma escritora e psicanalista belga de origem judaica. Sua vida foi marcada na juventude pela invasão nazista do país, que obrigou sua família a fugir para Casablanca até o final da guerra. Depois de estudar literatura francesa, ela começou sua carreira médica, mas contraiu tuberculose e não conseguiu completar os estudos. Formou-se em psicologia e depois em psicanálise, que exerceu desde então até sua morte. Publicou seu primeiro trabalho em 1958, mas parou de escrever depois de oito anos; retomou sua carreira literária duas décadas depois e lançou quinze romances, que lhe renderam vários prêmios literários, incluindo o Médicis, em 1996.

SPOILER: não vi nada de ficção científica, a não ser ela dizer que encontrou um livro sobre astronautas. Não vi nada de distopia, a não ser elas estarem presas e ter guardas seguindo regras. Mas nada é dito sobre governos ou ditaduras ou regras. O que vi foi um drama muito bem escrito, sobre mulheres que tentam ser fortes porque não tem ninguém pra cuidar delas.

Contos Nacionais

O livro Histórias do Modernismo reune cinco contos de autores consagrados da literatura brasileira do período modernista.
“Nízia Figueira, sua criada”, de Mário de Andrade: mostra a história de uma moça que passa sua vida apenas existindo e que ninguém se importa com ela.
“Apólogo brasileiro sem véu de alegoria”, de Antônio de Alcântara Machado: ambientado no Pará dos anos 1920, o texto mostra as conseqüências de uma revolta num trem às escuras.
“Na rua Dona Emerenciana”, de Marques Rebelo: mostra o cotidiano simples de uma família no subúrbio carioca.
“Galinha cega”, de João Alphonsus: um homem compra uma galinha que fica cega e passa a dedicar-lhe carinhos e cuidados extremos e fica com raiva de quem não o entende.
“O rato, o guarda-civil e o transatlântico”, de Aníbal Machado: trata da chegada de um navio estrangeiro à orla carioca, sob os pontos de vista de um guarda-civil, de um rato e de um transatlântico. 

Não favoritei nenhum. Acho o linguajar apropriado pra quem tem referências literárias, não pra indicar para alunos do ensino fundamental.

Eu ja vi essa História Antes =)

O livro The House in the Cerulean Sea do autor TJ Klune conta a história de um funcionário do rígido Departamento de Magia. Ele visita lugares onde são colocadas crianças excluídas. Para esse funcionário, Linus, é para proteção delas porque podem se machucar com seus poderes. Ele emite relatórios sobre os lugares, podendo ser fechados se não seguirem as regras do Departamento. Ele os chama de “orfanatos” mas só quer fazer seus relatórios e voltar pra casa, onde mora sozinho, e ouvir suas músicas antigas. Ele não quer mudar o sistema. Mas o próximo orfanato vai mudar sua idéia!

Linus Baker é uma alma gentil que vive uma vida de desespero silencioso. Linus adora crianças e é um assistente social que audita orfanatos e garante que as crianças estejam recebendo os cuidados adequados. Por causa da organização em que Linus trabalha, é fundamental que Linus informe e observe os orfanatos com objetividade. Ele precisa permanecer imparcial e não se apegar às crianças. Linus geralmente faz isso bem, pois ele é um defensor mais eficaz das crianças quando é uma testemunha imparcial. Mas, mesmo com tudo o que faz pelas crianças, Linus é uma pessoa solitária e insatisfeita. Ele sai do escritório todas as noites, chega em casa, discute com seu vizinho intrometido e vai dormir. As únicas paixões que ele se permite são o amor pela música e um gato rabugento com quem compartilha sua vida. 

SPOILER: Em um dia bastante comum, a vida de Linus muda. Extremamente Alta Gerência o convoca. Eles querem que ele avalie o Orfanato da Ilha Marsyas, lar de seis crianças especiais que não são humanas. Neste mundo, Linus está muito familiarizado com a população não humana e trabalhou com eles muitas vezes. Mesmo assim, este é um projeto estranho a ser dado. 

Linus chega ao orfanato, e é aí que a mágica acontece na história.  Linus fica apavorado ao descobrir que a casa inclui meia dúzia de crianças: Baby Lucy, abreviação de Lúcifer, um gnomo de jardim mal-humorado, um duende corajoso, um menino tímido que se transforma em um pomerano quando assustado, um jovem wyvern e Chauncy, cuja natureza é um mistério, algum híbrido de invertebrado marinho e humano. Chauncy está obcecado em se tornar um bell hop quando crescer. As interações entre os seis filhos: um wyvern, um gnomo, um weredog, uma bolha verde, um sprite e o filho do diabo e Linus são encantadoras. É também um exercício de aceitação. Enquanto Linus está nervoso e às vezes aterrorizado por essas crianças, especialmente em Baby Lucy, ele vê sua inocência e quer protegê-las. Ele quer ensiná-los como um ancião sobre coragem e bondade, mesmo diante de pessoas da cidade que não querem sua espécie por aqui. Linus tem um mês nesta ilha e, embora tente manter sua objetividade típica, não é fácil diante das belas interações com as crianças. 

Além disso, Linus precisa interagir com o diretor da escola. Um Sr. Arthur Parnassus, por quem Linus está intrigado, mas novamente tenta permanecer imparcial, pois está lá para avaliar Arthur também. 

 O Orfanato da Ilha Marsyas estava curando a alma de Linus após anos de estagnação e repressão, e parece curativo para leitores como eu após esse longo ano de sucção. Esta história é como uma caneca quente de chocolate quente com uma dose de uísque em frente ao fogo. A mensagem desta história é poderosa e a gente já viu antes: o humano que vai encontrar seres considerados diferentes/perigosos e se envolve/apaixona por eles. (Bela com a familia Cullen; Jake com os Naïvi em Avatar). Os estranhos bonzinhos que só querem ser aceitos do jeito que são. É sobre aceitar o diferente e aprender alguma coisa com a diversidade.

As Cores Tristes =(

O livro O Meu Amigo Pintor da autora Lygia Bojunga conta a história de uma amizade improvável entre dois vizinhos de um prédio: um menino de onze anos e um pintor em decadência, que não consegue dar vida à própria arte e por isso também não quer estar vivo. A morte de seu amigo faz o menino criar várias teorias, imaginar com que cores seu amigo ia pintar cada pessoa e situação. E o maior problema: o porquê ele resolve deixar essa vida que ele achava linda e colorida. E as cores têm sempre uma função e um significado na narrativa do menino.

Este é um livro para adultos e o tema tabu nos deixa desconfortáveis de conversar sobre o assunto com uma criança.  

Tudo por um Trono

O livro Rainhas de Fennbirn da autora Kendare Blake é um spin off da série Três Coroas Negras. Aqui vemos alguns contos, sendo o primeiro contando as gerações anteriores que está tentando conseguir o trono para uma envenenadora. Mas a atual rainha Elsebet é uma vidente e é enganada por seu irmão e sua amiga, para ser encarcerada como louca e o trono passar para sua descendência. Depois dela, todas as rainhas com a dádiva da visão foram afogadas no nascimento, extinguindo qualquer chance de perpetuar a linhagem. Vemos a história por trás da rainha que podia prever o futuro, mas não a sua própria queda. Em As jovens rainhas, acompanhamos o passado de Mirabella, Arsinoe e Katharine. Antes de virarem inimigas, as rainhas trigêmeas viviam em harmonia, e a ideia de terem de batalhar entre si até a morte sequer era uma possibilidade. Até elas serem separadas. Um plano bem orquestrado e executado, vai trazer uma nova tradição a Ilha de Fennbirn e suas trigêmeas. Traição, envenenamento, o Conselho Negro se fortalecendo, tudo que nos leva de volta ao mundo fantástico de Arsinoe, Mirabella e Katherine.