…Como em outra história.

O livro Jack e o Porquinho de Natal, da famosa autora inglesa J.K. Rowling conta uma mensagem de Natal através da história de Jack e seu bichinho de pelúcia. Ao brigar com sua nova meia-irmã dentro do carro, ela atira seu porquinho pela janela, numa rodovia movimentada e estradas cheia de neve. Ele se desespera e ela arrependida, lhe presenteia com um urso novo. Mas ele não quer um substituto. Então planeja voltar à estrada sozinho para buscar seu amigo perdido. A aventura começa quando seus brinquedos gangam vida e resolvem ajudá-lo à chegar à Terra das Coisas Perdidas. Lá Jack e seu novo porquinho vão conhecer “coisas/pessoas” que querem ajudar a encontrar seu amigo perdido. Mas vão enfrentar um inimigo de todas as coisas e eles tem até a véspera de Natal para realizar essa tarefa, senão ficarão presos lá para sempre.

SPOILER: não acho que este seja um livro para crianças: muito adulto para os pequenos e muito infantil para os adolescentes. Parece que a autora vive em uma ditadura e precisa “esconder” sua mensagem para adultos, então usa metáforas em uma história infantil: a autora critica explicitamente o “valor simbólico” das Coisas, e como essa noção do “valor” se reflete na autoconsciência da personificação das Coisas e suas classes (um par de brincos de diamantes não se conforma de estar no mesmo lugar que um óculos de plástico e um brinquedo de pelúcia). Tem também crítica à classe pobre que reverencia as classes mais ricas por causa da ideologia meritocrática: eles viram satisfeitos faxineiros dos aristocratas. Tem também crítica ao militarismo, ao punitivismo, ao sistema carcerário, ao sistema judiciário, e à lógica social do capitalismo. Só adultos com boa bagagem de leitura vão conectar as referências à Marx ou ao livro “O Peregrino”. Para o desenvolvimento crítico-social dos pequenos, a história pode ensinar a compartilhar brinquedos, quando ganhar um novo, doar o mais antigo.

Um Livro Onze Estrelas ♡

O livro O Caminho dos Reis do autor americano Brandon Sanderson é o primeiro da série Stormlight Archive e conta em 1240 páginas três histórias principais: O grão príncipe Darlina, que luta pelo rei, seu sobrinho, que luta com sua consciência por não ter conseguido manter seu irmão com vida. Shallan uma moça que resolve roubar um artefato pra salvar seus irmãos da vergonha que a morte e falência de seu pai os deixou. Kalladin, que devia ser um cirurgião mas vai parar no campo de batalha pra salvar seu pequeno irmão e vive com dor na consciência por não conseguir salvá-lo. Três personagens que fariam tudo por sua família mas não conseguem e se culpam. Enormes tempestades devastam regularmente a superfície desse mundo de Roshar. Plantas e animais se recolhem em conchas endurecidas para proteção. As próprias cidades são construídas apenas onde há uma medida de segurança.

O livro começa na velocidade máxima, servindo ao propósito de fisgar o leitor – e faz isso muito bem. As coisas estão loucas desde o início: assassinatos, batalhas épicas, feitos heróicos solitários, fracassos dramáticos, situações aterrorizantes e magia incrível, acontecendo muito RÁPIDO. As descrições das batalhas são fantásticas!

SPOILER: os três personagens também têm em comum ter visões. As histórias religiosas tem muitas referências de outros livros religiosos. Arrepia ler sobre a empolgação de Kalladin nas lutas. Os “sprenos” me lembra aqueles desenhos dos quadrinhos que mostra como o personagem está se sentindo! 😁 Quando você começa o romance com um arco muito alto e termina com um também, é provável que haja um vale no meio. Essas 400 páginas intermediárias, embora extremamente interessantes, podem se arrastar, repetindo gestos e dúvidas e pensamentos e arrependimentos… A escrita é muito boa, a história é muito boa e os personagens são os melhores. Achei mais elaborado que ELANTRIS e até da trilogia Mistborn. Não li um livro de Sanderson que não tenha gostado. Então, quando digo que TWoK é talvez tão bom quanto MISTBORN, é um elogio, porque este foi apenas o primeiro livro. Esta série tem um enorme potencial. Isso pode muito bem se transformar em uma séries de fantasia pra favoritar quando terminar.

Muita Arte pra pouca história

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O livro Os Ladrões de Cisne da autora e Artista americana Elizabeth Kostova conta em 533 páginas a história de um médico psiquiatra, que toma para si a obsessão de seu paciente. O Dr Andrew também estudou artes e é convidado a tratar um paciente, Robert, um conhecido pintor que entrou em um museu e tentou esfaquear um quadro famoso, uma mulher com um cisne. No primeiro dia ele nota agressividade no paciente e resolve investigar o motivo de seu descontrole. Então traz para o quarto onde ele fica, telas, pincéis e tintas. E ele, que resolveu ficar mudo, começa a pintar a mesma mulher obsessivamente. Passando por cima das regras de médico/paciente, ele resolve entrevistar todas as pessoas que conheceram Robert. E descobrir quem é a mulher do quadro. Para quem gosta de museus e arte, e toda a aura que envolve o universo, o livro é muito bem escrito.

Intercalando os capítulos, a história é contada pelo ponto de vista do médico, da ex-mulher, da ex-amante, das cartas escritas em 1878. E ainda tem o narrador do passado.

Spoiler! Eu amo arte, ler sobre isso, então essa parte eu gostei, mas tive problemas com a história. É inverossímel um solteirão médico, largar sua vida pra viajar e “investigar” uma paranóia. Ele se torna tão obsessivo quanto seu paciente. Ter vários pontos de vista, é como ler a mesma história várias vezes. Cansativo. O médico apesar de cinquentão, quer parecer um garotão, muito irritante. A Mary é o pior ponto de vista: ela é meio retardada, o que me faz entender a aproximação com um psiquiatra. E a história que ela conta parece um looping.

Trechos do Livro: “Eu era uma criança ranzinza, malcomportada, que estava sempre decepcionada, achando que a vida não era o que prometera ser…” “Quão terrível deve ser envelhecer. Senti muita pena dele e fiquei muito feliz por mim, por toda minha juventude e todo o meu otimismo… era um hábito meu ter pena de todo mundo com mais de 30 anos…”

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A HQ de um clássico nacional

O livro O Cortiço do autor nacional Aluísio Azevedo é sempre indicado em provas de vestibulares. Essa HQ sintetiza bem a história, com imagens fortes, com traços vulgares, isto é, sem a arte final elaborada.arte de Rodrigo Rosa e roteiro de Ivan Jaf.

Spoiler! Apesar de sua veia erótica, a história diz mais sobre agrupamentos humanos e seus problemas e conta a trajetória de João Romão, ele é o dono do cortiço, um português sem escrúpulo, tem como objetivo na vida enriquecer a qualquer custo. Ambicioso ao extremo, não mede esforços, sacrificando até a si mesmo. Seu pensamento gira em torno apenas do dinheiro, não se importa com ninguém, é um sujeito sem sentimentos, ética e moral. Passa por cima de tudo e de todos. Veste-se mal, dorme no mesmo balcão em que trabalha. Das verduras de sua horta, consome as piores e restante vende. Arranja uma escrava e se amiga com ela, rouba o dinheiro que ela junta pra alforria e “cria” uma carta falsa. Ao ficar com inveja do rico Barão, quer se casar com a filha dele e prepara uma armadilha pra se ver livre da escrava.

 

HQ, sem palavras (duplo sentido sim)

O livro/Hq A Chegada do autor e ilustrador Shaun Tan conta em 120 páginas a história de um homem que deixa sua terra e vai morar em um país desconhecido longe dos amigos e família e encontra pessoas boas e ruins, conhece novas formas de se alimentar e de viver. A história é contada em forma de fantasia, com desenhos sobrenaturais.

O livro contem um texto do autor no final, dizendo que se inspirou na história de seus pais que foram da Malásia para a Austrália nos anos 60. Ele também mostra de onde tirou a inspiração para seus desenhos.

O traço do artista é do tipo realista, com sombra e luz dando contornos em 3d; ele utiliza tons em sépia e marron, deixando o ambiente sombrio e ao mesmo tempo vintage.

Filosofia em Quadrinhos

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A HQ Nietzsche conta em 127 páginas de quadrinhos a vida do professor e filósofo Friedrich Nietzsche que morreu em 1900 aos 55 anos, após um período de loucura onde permaneceu internado. Nesse livro ficamos sabendo de sua “rixa” com sua irmã, que após a loucura do irmão e recente aumento nas vendas de seus livros, altera os textos mais imorais e anticristãos e torna-se sua herdeira. Parte de suas idéias niilistas estão nos quadrinhos, mas que não vejo como uma boa introdução à filosofia para adolescentes. Para isso, ainda indico O Mundo de Sofia, do Jostein Gaarder.

Os desenhos são de Maximilien Le Roy que idealizou o projeto e convidou o filósofo Michel Onfray para escrever o texto.

Trechos do livro: “Mesmo durante o sono, as idéias de Schopenhauer dançavam em minha cabeça sem que eu soubesse se ainda estava lendo ou dormindo…” “Seria perfeito! Conversaríamos muito, leríamos um pouco, escreveríamos menos ainda. Acho que era assim que faziam Platão e seus discípulos…” “A senhora sabe, a liberdade é um grande luxo. Quanto menos você possui, menos é possuído!”

 

Grafic Novel =)

A grafic novel O Curioso Caso de Benjamin Button, baseado na obra de Scott Fitzgerald de mesmo nome, com 128 páginas, conta a história de um nascimento diferente: o bebê nasce com cerca de setenta anos e vai “rejuvenescendo” até virar um bebê de verdade. Todos os problemas com a comunidade, a escola, sua esposa envelhecendo e ele cada vez mais jovem, deixa o leitor grudado na história pra saber como o autor irá resolver esse problema. Com as ilustrações por Kevin Cornell, a história fica mais engraçada do que dramática. O filme de 2009 com elenco famoso, vencedor de vários prêmios, mas muito longo com três horas de duração.

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O amor não realizado e a transição política

O livro Esaú e Jacó, penúltimo livro de Machado de Assis, com 277 páginas, publicado em 1904, foi escrito em uma época de transição na política brasileira: o país deixava de ser uma Monarquia para ser uma República. Então o livro conta a história de duas famílias vivendo esse momento político. A família dos gêmeos Pedro e Paulo (sim! o título do livro é só pra te enganar – não existem personagens com esses nomes) que querem e vão ser advogado e médico e futuramente deputados, e a família da moça Flora, apaixonada pelos dois irmãos e objeto de paixão dos mesmos. Gêmeos idênticos, mas com personalidade diferente, os dois fazem um acordo de “sair de campo” quando Flora escolher um deles. Mas a moça começa a ter alucinações de que os dois são um só, porque gosta de ambos, então enfraquece e morre. E os dois seguem concorrentes na vida.

No livro aparece Aires, um personagem de outro livro de Machado. O autor escreve como se estivesse conversando com ” a leitora”. Em alguns capítulos ele chega a contar o que vai acontecer no próximo. Achei que ele queria contar uma história e resolveu mudar o roteiro no final do livro. Pra não se parecer com os personagens do título.

Trechos do livro: “Eis aí vinha a realidade do sonho de dez anos, uma criatura tirada da coxa de Abraão, como diziam aqueles bons judeus, que a gente queimou mais tarde, e agora empresta generosamente o seu dinheiro às companhias e às nações. Levam juro por ele, mas os hebraísmos são dados de graça.” “…enquanto ele enfiava uma beca no jovem advogado…também lhe ensinava a enriquecer depressa; ajudá-lo-ia começando por uma caderneta na Caixa Econômica…” “Nada disso foi escrito como aqui vai,, devagar, para que a ruim letra do autor não faça mal à sua prosa.” “Não amava o casamento. Casou por necessidade do ofício; cuidou que era melhor ser diplomata casado que solteiro…” “O salto é grande, mas o tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo.” “A abolição é a aurora da liberdade; esperemos o sol; emancipado o preto, resta emancipar o branco.”

Contos de mistério para crianças

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O livro Encantamento – Contos de Fada, Fantasma e Magia do escritor e poeta inglês Kevin Crossley-Holland e da ilustradora e autora de livros infantis Emma Chichester Clark , com 126 páginas, mostra histórias que estão especificadas nas fontes no final do livro. São contos irlandeses, escoceses, das ilhas britânicas de Orkney and Shetland e ingleses. Dos vinte contos, apenas dois são interessantes, tendo em vista a nossa cultura. Contos de fadas pode tudo? Para ser lido para crianças menores de cinco anos, não. Esses contos são pesados, apesar das ilustrações bem infantis. Contém morte, roubo, traição, maldade, abandono de crianças por uma mãe que vai atrás do seu amor e não é cobrada por isso, neném jogado no fogo… bem, nada que um contador de histórias não possa modificar, para passar uma boa mensagem. Os dois melhores contos pra mim, foram: O Rei dos Gatos e Bu!

Só em meio à multidão

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O livro ilustrado À Esquerda, À Direita (Turn Left, Turn Right) do Tailandês Jimmy Liao, com 124 páginas, conta a história de um rapaz e uma moça que sentem solitários, moram próximos, mas ele sempre vira à esquerda e ela à direita e nunca se encontram. As ilustrações ajudam a preencher as lacunas da história escrita com poucas frases. E sempre mostra o que acontece com os dois personagens.

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Por um momento em um dia de sol, eles se encontram, descobrem uma química e trocam números de telefones em pedaços de papel. (O livro foi lançado em 2007 no Ocidente, mas foi escrito em 1999). Uma chuva molha os personagens, seus papéis e dissolvem seus números, tirando a possibilidade de um reencontro. :/

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O livro mostra a solidão das grandes cidades, em que todos vivem sozinhos no meio da multidão. Em que a falta de comunicação acontece mesmo entre as pessoas que estão próximas. Que mesmo se mudando do local onde acontece o sentimento de solidão, esse sentimento viaja dentro da pessoa.

O autor ganhou prêmios com essa história que foi transformada em filme e animação. Apesar de indicado como juvenil, a história é bem complexa, cada frase e seu desenho mostra significados que só um adulto pode entender.