A Dualidade do bem e do mal

O livro Onde os Pássaros Cantam da autora inglesa Evie Wyld, conta em 256 páginas a história de uma mulher australiana chamada Jack White, que escolheu viver na solidão de uma fazenda com suas ovelhas e seu Cão sem nome. Mas ela vê a morte de uma ovelha, como um recado e ela fica em dúvida o quanto está realmente sozinha. Em outra parte da história vemos Jack jovenzinha aprendendo a cuidar dos animais e o que acontece nesse local, molda sua vontade de ser sozinha na vida adulta. Quando estamos no presente, Jack conta essa história mostrando como conduz sua vida ao futuro desejado, sobre a experiência de tentar descobrir quem ou o que está matando suas ovelhas, a hostilidade indiferente da polícia local e sua amizade com um homem misterioso chamado Lloyd que aparece em sua propriedade. Quando estamos vendo a vida dela no passado, ela conta como se fosse o agora, e vemos por que ela se envolveu sexualmente com um velho fazendeiro sujo chamado Don e o motivo pelo qual ela fugiu de casa.

Impressões de leitura: gosto da personagem feminina,  que é uma mulher física e mentalmente forte, que mantém distância das outras pessoas, mas descobre que não consegue se afastar completamente da sociedade ou dos perigos do mundo. Da mesma forma, sua descrição desses momentos mostram o constrangimento social em suas interações com os demais personagens, de modo que pequenos gestos indicam muito sobre o que não foi dito.

O sorriso de Jake é um termômetro,  uma maneira de descrever se ela está sorrindo como uma fachada para esconder seus verdadeiros sentimentos, porque ela acredita que é isso que as pessoas querem. É algo que ela aprendeu para sobreviver e navegar em situações complicadas onde ela pode estar vulnerável. Na verdade, seu sorriso provavelmente é registrado como uma careta falsa que existe apenas para esconder e fingir.

Os animais desempenham um papel importante na narrativa, mostrando a dualidade do bem e mal, de animais selvagens à espreita em cada esquina, desde raposas inglesas a ninhos explosivos de aranhas e animais australianos mais exóticos, como goanna, pademelon e galah, e os animais domces e domésticos como o cão e as ovelha, os caçadores e os “caçados”, tornando a narrativa hábil e inventiva. Pequenos detalhes que parecem insignificantes no início da narrativa adquirem um significado emocional mais profundo à medida que a história avança e aprendemos mais sobre o passado de Jake. O final é realmente chocante, profundamente comovente e dá espaço para interpretações ambíguas.

Não gosto da capa nacional,  não me remete à história, visivelmente a escolha da figura remete ao título e não ao texto. Muito mais interessante a capa inglesa, mostrando um quebra-cabeça dessa dualidade entre o doce e o selvagem.

  

Sobre ser um Estranho no Mundo

O livro O Estranho Caminho Entre Desejos do autor americano Patrick Rothfuss é uma ampliação de um conto já lançado, que conta a história do mais charmoso dos Encantados, Bast que veio do reino das fadas, e seguimos sua história durante um dia de sua vida, enquanto ele faz tramoias pela pequena cidade de Nalgures, fugindo com destreza dos problemas, seguindo seu coração mesmo quando isso vai contra o bom senso. Uma de suas maiores habilidades é fazer acordos. Vê-lo negociar é como observar um artista em ação. “Embora não se importe com as leis dos homens, ele é obrigado a seguir leis mais antigas e profundas e acaba caindo numa armadilha. Apesar de sua inteligência e cautela, Bast se vê forçado a escolher entre dois caminhos: trair a confiança de seu mestre ou ajudar um inimigo detestável.”

Assim como A Música do Silêncio  serviu como uma bela pequena história paralela sobre Auri,  essa novela é toda sobre Bast, companheiro Fae de Kvothe, personagem principal da duologia As Crônicas do Matador de Reis. É uma história leve e fácil de digerir que é um complemento divertido para os livros principais mais densos de Kingkiller Chronicle.

O livro vem com as obras de arte de Nate Taylor, famoso ilustrador, que fez uma arte em cada capítulo, que são peças de arte individualizadas que representam a progressão deste dia fatídico na vida de Bast com algumas dicas da história. 

Mas as polêmicas continuam,  de apoiadores querendo a devolução de 300 mil dólares que ele pediu, para finalizar o último livro que está 10 anos atrasados. Ele disse que esse dinheiro iria para a caridade,  mas não comprovou a entrega.

Seguir o Próprio Caminho

O livro A Providencia do Fogo do autor americano Brian Staveley, conta em 640 páginas a continuação das Crônicas do Trono de Pedra Bruta e, a temível conspiração para destruir a família que governa o Império Annuriano está longe de terminar. Após descobrir a identidade do assassino, sendo Ran Il Torn-ja que estava por trás da conspiração que levou à morte de seu pai, Adare, completamente perdida, foge do Palácio da Alvorada em busca de improváveis aliados e decide deixar a capital do império Annuriano em busca de algo para impedir a ascensão do traidor. A jovem, porém, criada em meio a confortos palacianos, parece completamente despreparada para os implacáveis perigos à espreita. E como esconder de todos seus olhos tocados pelo fogo, imediatamente reconhecíveis? Enquanto isso, Valyn e sua facção, agora membros renegados da maior elite de combate do Império, recebem a missão de escoltar o imperador Kaden até os kenta, os misteriosos portões que conduzem a qualquer parte de Annur. Em seu encalço, a melhor parte da facção kettral está destinada a caçá-los. Em seu caminho, os urghuls, hordas bárbaras que vivem nas fronteiras do Império e cujas hediondas histórias de sacrifício ao deus da Dor, Meshkent, que são dignas de provocar os pesadelos mais assustadores, sãoinimigos. Contudo, há presságios de intrigas e traições ocultas que prometem ser ainda piores.

Impressões de leitura: Adare, apesar de mais uma vez estar inserida na parte política do livro, é a grande estrela e consegue roubar toda a cena para si. Gostei de ver como a personagem se mostrou inteligente em determinadas situações e conseguiu se safar de destinos mortais e difíceis. Adare vira um misto de protagonista, antagonista e com as decisões mais difíceis de serem tomadas. Enquanto o primeiro objetivo de Kaden é escapar, e o de Valyn é sobreviver, Adare navega por dilemas morais e complexos. Aconteceu um aprofundamento bastante perceptível em relação ao aspecto religioso do universo. Se em O Imperador das Lâminas ( título horrível) o autor introduziu os deuses de modo geral, aqui o foco acaba ficando para a deusa da Luz (Intarra) e o deus da Dor (Meshkent), numa narrativa repleta de segredos, reviravoltas e traições que fazem as mais de seiscentas páginas valerem a pena. 

Kaden é outra grata surpresa. Cercado por inimigos e com mínimas opções de alianças, ele começa o livro como um prisioneiro não declarado dos Ishien (a seita de seu mestre, Tan) e termina proclamando uma república enquanto destrói tanto os defensores do império quanto seus antigos carcereiros em um único golpe de mestre, forçando os demais apoiadores de sua recém fundada república, antes reticentes, a forçarem suas jogadas. Enquanto Adare assume de vez as rédeas por seu destino e Kaden evolui a ponto de minar um governo e solidificar sua posição jogando inimigo contra inimigo, Valyn permanece quase imutável, principalmente na maior crise, quando fica mais claro que ele precisa se adaptar. Sua teimosia  e apego a seus métodos são, no final, a principal causa por sua queda, um personagem ótimo no primeiro livro e quase nada no segundo.

Não gostei da capa esverdeada sem conexão com a história:

Realismo Mágico ou Alucinação?

O livro A Estrela de Strindberg do autor sueco Jan Wallentin conta em 348 páginas a história de Don Titelman, um professor de história conhecido por suas pesquisas em símbolos e mitos, que é o anti herói, neto de uma sobrevivente do experimento do campo de prisioneiros da Alemanha nazista. Ele cresceu assombrado pela coleção de recordações nazistas de sua avó e por suas histórias horríveis sobre os experimentos realizados com ela, o que faz com que passe a história tomando uma série contínua de drogas que prescreve para si mesmo. Após o bizarro assassinato do mergulhador que descobriu o ankh, Don Titelman, é detido pelo crime, é misteriosamente raptado por alemães da Embaixada da Suécia e trancado com o sua esquisita advogada, que ele acabou de conhecer, numa adega. Eles escapam e ficam com a ajuda da estranha e reclusa irmã de Titelman, Hex, que literalmente vive no subsolo, tem acesso a conexões de alta tecnologia e transportes de emergência. A ação para entregar um artefato mágico, leva ao Ártico, onde Titelman descobre a verdade por trás de uma malfadada expedição de balão em 1897, durante a qual três homens morreram, incluindo o fotógrafo sueco Nils Strindberg, que dá título ao livro.

Felizmente, a história não depende de Don como personagem – ele apenas precisa seguir em frente com inimigos carregando ele, que está sob efeito de entorpecentes. E sua advogada passa a ser sua ajudante e é colocada em igual perigo. Don muda no final como resultado de poderes mágicos depois que ele, de fato, descobre sobre o inferno.

Best-seller na Suécia, Alemanha e França, o primeiro romance do jornalista sueco Wallentin é  No início, ele é uma alternativa divertidamente excêntrica aos mistérios sombrios pelos quais os suecos são conhecidos, mas quanto mais Wallentin se aprofunda nos seus conceitos grandiosos, que incluem a descoberta de uma antiga cidade enterrada no deserto de Taklimakan, na China, mais ele perde o fio narrativo: malignos esquemas nazistas, a mitologia nórdica, a lenda de Pompeia e uma expedição de balão ao Pólo Norte, conspirações secretas, poderes psíquicos, relíquias místicas antigas e visões mitológicas de um submundo, são companheiros narrativos neste extenso e fantasioso conto impulsionado pela busca desesperada de um ankh de metal, ou amuleto, descoberto em um cadáver em uma mina de cobre abandonada, numa narrativa sobrecarregada de explicações elaboradas que, na maioria das vezes, simplesmente retardam seu avanço. A explicação do pano de fundo do ankh e da estrela e como eles funcionam não é nada esclarecedora e parece durar para sempre. Às vezes, as pistas que seguem são meramente gratuitas. Há, por exemplo, grande alarde sobre uma nota com algumas citações de Baudelaire, mas, além da identificação do poeta com o mal, ele e seu poema dificilmente parecem relevantes. Na verdade, toda a exposição sobre a expedição de Strindberg em 1897, embora possa ser historicamente interessante, e até mesmo necessária para o enredo, nunca é apresentada de forma convincente. E para um historiador, pega mal ir a um hotel procurar por um documento antigo, que a funcionária do hotel diz que fica no arquivo da cidade!

O blurb citando o autor Dan Brown não é real, já que não me interessei por nada do “segredo”, não torci por nenhum personagem,  não gostei das referências judaicas, já que quem quer ler um drama sobre os judeus, procura um livro específico,  não um triller. A tradução das partes em alemão estão diferentes de quem aprendeu e conhece os termos usados. Não recomendo.

A capa parece bem feita, mas na página 60 diz que o artefato era “de metal não completamente liso, uma espécie de decoração se entrelaçava em relevo na superfície” – totalmente diferente do item da capa.

Coelhinho da Páscoa, o quê trazes…

O livro Bunny, da escritora canadense Mona Awad, conta a história de Samantha, que compartilha seu seminário de escrita criativa com as Bunnies, numa prestigiosa Universidade. As bunnies são um grupo de garotas ricas e superpróximas em vestidos espumosos que bajulam o trabalho umas das outras, constantemente se abraçam e se chamam de Coelhinhas. Usando vestidos estampados de gatinhos, frequentam um café onde toda a comida é em miniatura, desde os mini cupcakes até às mini batatas fritas. Samantha não é, por definição, uma coelhinha. Mas então um bilhete aparece em sua caixa de correio de estudante, sinistro e açucarado ao mesmo tempo. No começo Sam as odeia junto com sua amiga Ava. E então as Coelhinhas a convidam para um dos seus Smut Salons, ela é atraída para o seu mundo fascinante e fantástico, cheio de mistério sobre “de onde vem os meninos”. Contada sobre o ponto de vista de Samantha, ela categoriza cada uma em seu tipo muito raramente nomeando-as. Uma mulher personifica tanto um cupcake que é consistentemente descrita como comestível, a garota gótica, a garota mauricinha: esses estereótipos parecem tão reconhecíveis quanto os filmes adolescentes que aparentemente insistem que todos têm apenas uma identidade, como Meninas Malvadas. Ela também tenta insultar o curso de artes ironizando os seminários, o Smut Salon é inofensivo comparado ao que os Bunnies chamam de “Workshop”, que, explicam elas, é um projeto “experimental” e “intertextual” que “subverte todo o conceito de gênero” e também “o patriarcado da linguagem”.

A questão do que é real e do que não é real é uma grande questão ao longo do romance, tanto para Sam quanto para o leitor, e criou uma espécie de névoa na última parte do romance, ficando meio perdido, tudo muito subjetivo, parece que ela criou “a história secreta” só que com meninas ricas. Não pretendo ler outra história da autora.

E o Navio Revive

O livro O Navio Arcano da autora americana Robin Hobb é o primeiro de uma série de fantasia intitulada The Liveship Traders, com 864 páginas,  ambientada no mesmo mundo da impressionante trilogia de Hobb,  O Aprendiz de Assassino de 1997. O navio mercante Vivacia, de propriedade e capitaneado por Ephron Vestrit da cidade de Bingtown, é construído em madeira mágica: uma vez que três gerações de Vestrits tenham morrido a bordo, a madeira mágica irá “reviver”, tornar-se senciente e será incorporada em seu movimento com a figura de proa falante. Dois Vestrits anteriores faleceram; agora Ephron está morrendo, tendo entregue a capitania a seu arrogante e inexperiente genro Kyle Haven e não a sua sucessora natural, a sua segunda filha Althea. Kyle, por sua vez, manda buscar seu filho Wintrow, a quem entregou para a igreja para ser sacerdote de Sá, mas ele deseja apenas permanecer em seu mosteiro. Ephron morre, Vivacia revive e torna-se amiga de Wintrow. Kyle expulsa Althea do navio, porque ela se sente injustiçada, e começa a treinar brutalmente o relutante Wintrow e organiza o transporte de escravos. Enquanto isso, o capitão pirata Kennit nutre ambições de capturar um navio vivo; algumas serpentes marinhas inteligentes têm seus próprios planos; A viúva de Ephron, Ronica, deve pagar uma dívida paralisante com os mágicos Rain Wild, colocando em perigo sua neta, a adolescente teimosa Malta; e Althea planeja recuperar seu navio. 

Não precisa pedir uma atmosfera melhor em uma história de fantasia com piratas, serpentes marinhas e figuras de proa falantes, e  os personagens também são um grupo bastante interessante mesmo não sendo um grande elenco.

Althea foi realmente interessante de ler por causa de sua determinação e realizações, apesar de muito irresponsável. Ela, sem dúvida, teve o maior crescimento de personagem neste primeiro livro, viajou sob a bandeira de seu pai desde criança e sempre teve a impressão de que o Livership se tornaria sua posse e amiga. Kennit é um pirata conspirador e movido pelo poder e, embora faça coisas boas, ele as faz para seu próprio ganho pessoal, e também um pirata sombrio, charmoso e bonito que tem um amuleto Wizardwood no pulso que fala, e ele também quer ser o rei de todos os piratas. Ele também deseja comandar um Liveship. Ele decide fazer um acordo com seu primeiro imediato de que toda vez que eles tentarem pegar um Liveship eles terão que liberar a carga de um navio negreiro. Maulkin e suas companheiras serpentes marinhas não me deu curiosidade. Aqui não existe bem ou mal, mas sim velho versus novo e resistência à mudança. Eu gostei muito do rapazinho Wintrow. Se Fitz tocou meu coração, acho que Wintrow será um fardo emocional semelhante em sua mente pelo drama e pelo que o destino reservou para ele. Contra seu juramento, mas forçado pela vontade de seu pai, ele se afasta da vocação de Sa, à qual sua vida foi dedicada.  

Por outro lado, o enredo deste primeiro romance é incrivelmente lento, e um de seus principais fios nem sequer se conecta com nada até o final. Outros fios, como o das próprias serpentes, efetivamente não levam a lugar nenhum em todo o livro e, embora sejam importantes mais tarde na trilogia, sua inclusão aqui parece bastante sem objetivo. 

Prefiro a capa internacional,  acho essa capa daqui muito “tempestade”.

A Violência da Colonização

O livro Babel, da autora sino americana R.f. Kuang conta em 560 páginas a história de Robin, um menino do Cantão, onde vive e é o único sobrevivente da cólera em seu bairro, onde ele ainda tem um nome chinês, não se chama Robin, mas quando o professor britânico Lovell, invade sua casa e o resgata da doença, utilizando barras de prata trazidas da Grã-Bretanha, isso mudará sua vida para melhor. Robin escolhe o nome de Robin Swift para si mesmo quando Lovell o traz para o Reino Unido, onde paga pela educação em uma ótima escola, criando oportunidades para o jovem, que está treinando em grego antigo e outras línguas para frequentar a Babel na Universidade de Oxford, que é o Instituto de Tradução.

E Robin eventualmente entra em Babel, alcançando os objetivos de sua vida até aquele ponto. Robin se torna amigo de três membros de um grupo: Ramy, que é de Calcutá, Victoire, que é do Haiti, e Letty, que é filha de um general britânico. Os três se envolvem na vida do instituto, estudando uma infinidade de idiomas para poder utilizá-los com barras de prata. As barras de prata usadas pelos britânicos são o elemento mágico da fantasia: codificadas com a linguagem do usuário, podem ser usadas para qualquer coisa, seja para a complacência dos escravos ou para uma boa colheita. Somente as elites ricas têm acesso a essas barras, e quando Robin acidentalmente conhece seu irmão, Griffin, que foi expulso de Babel, ele é cada vez mais sugado para o mundo subterrâneo de “Hermes”. Eles o estão recrutando para trazer as barras de prata de Babel para roubar, já que as proteções impedem que qualquer pessoa, exceto os estudantes e professores de Babel, entrem na torre. A torre está usando da magia das barras para abertamente manter o domínio colonial britânico sobre os oprimidos, e Robin, embora resista a Griffin e na verdade lhe diga para se ausentar por meses seguidos, está cada vez mais desiludido com esse modo de vida.

Porquê Robin deixa de ser grato e trai Lovell? Quando ele bate em Robin por perder uma de suas aulas, esse incidente estabelece um precursor de raiva para o relacionamento deles. Após uma tentativa fracassada de roubar da torre, Robin descobre que Ramy e Victoire estão envolvidos nas atividades da Hermes, e ele assume a culpa por eles. E o quarteto é enviado para Cantão, que enfrenta o início das Guerras do Ópio, e Robin enfurece ainda mais o Professor depois que um general chinês explode todos os seus suprimentos de ópio. Victoire, Robin e Ramy estão cada vez mais contra o que os britânicos estão fazendo neste momento, que é orquestrar uma guerra contra a China e que Lovell, e muitos dos professores, estão envolvidos nas operações, então se comprometem com a causa da Hermes.

Eles sitiam a torre, e à medida que os britânicos se aproximam da torre e Oxford começa a desmoronar devido à falta de manutenção da prata, o grupo decide que precisa explodir a torre, encerrando todas as pesquisas realizadas e, finalmente, acabando com suas vidas junto com ela.

Acho que por ser longo  Babel perde o fôlego à medida que despenca em direção ao arco final. Acabei pulando muitas notas de rodapé porque, embora eu entenda que Kuang está tentando imitar um livro acadêmico, ela insere muita informação de uma forma engessada, não dando tempo para o leitor pensar e as vezes o leitor nem precisava daquela informação para entender a história. Por ela ser historiadora, penso que ela quis mostrar sua pesquisa. Também vejo a história impor ideologias modernas aos personagens – parece um livro que seria lançado em 2022, e grande parte da linguagem em si não parece pertencer a 1828, quando o romance começa.

Mas caso você ainda esteja em dúvida, sim, Babel é realmente muito bom e você deveria absolutamente comprar uma cópia.

Têm muitos livros de mesmo nome, então procure pelo nome do autor:

Teor Adulto?

O livro Dark Swan da autora americana Richelle Mead é o primeiro livro de uma série de fantasia,  que ficou muito famosa por um tempo. E, na minha idéia na época,  é que seria uma série juvenil,  mas agora entendo porque nunca foi filmada. Surpresa é a palavra que resume o que senti ao ler A Filha da Tempestade, sabia que se tratava de uma xamã que caçava seres sobrenaturais e ao ver a capa eu imaginei algo que soasse como a série Supernatural.

Na trama Eugenie Markham é uma xamã, trabalha e ganha dinheiro banindo espíritos, criaturas mitológicas e  fantasmas para o Outro Mundo ou para o Mundo da Morte. Certo dia Eugenie foi contratada para um caso de uma adolescente que foi sequestrada para o Outro Mundo por um nobre ao mesmo tempo em que se envolve com Kiyo, um homem por quem ficou atraída de maneira intensa e incomum. Sem tirar Kiyo da cabeça Eugenie parte para o Outro Mundo, e o que era para ser mais um caso ordinário, sofre uma reviravolta. Contra sua vontade descobre que tem relações com um mundo que abomina e ainda mais seus laços familiares com os nobres. E o caso agora é lutar por sua própria vida e descobrir do que é capaz.

Eugenie é uma mulher forte, não tem medo de desafios e foi criada para defender seu mundo das ameaças do Outro Mundo, assim tem verdadeiro horror de tudo que se relaciona com ele. A ação é constante, Eugenie está ou lutando contra alguma criatura que quer matá-la ou contra os fantasmas que existem dentro de si.  Quando descobre sua ligação com esse mundo se vê diante de uma crise de identidade, tudo que ela acreditava se vê abalado, as verdades que ela comprava da mãe como verdadeiras, não são bem verdades. Os nobres não são todos iguais e a sua vida não pode mais ser tão simples quanto ela gostaria.

Existem cenas mais fortes de sexo, não é um YA, é um romance hot adulto. A narração acontece em primeira pessoa, através de Eugenie, que é engraçada e sincera com os seus pensamentos, o que torna a leitura mais divertida. O desfecho não chega a ser surpreendente, mas é bom. O título é muito genérico,  tendo vários livros com mesmo nome.

Metáforas religiosas?

O livro Hyperion do autor americano Dan Simmons é o primeiro livro da série Hyperion Cantos, lançado em 1989. Hyperion conta a história de um grupo de pessoas que está em peregrinação a este lugar misterioso chamado Tumbas do Tempo, que é um monumento centrado na misteriosa criatura conhecida como Picanço. No caminho para as Tumbas, entrelaça as histórias desses sete peregrinos em uma jornada pelo planeta Hyperion, e eles contam uns aos outros histórias sobre por que estão ali e como estão ligados ao Picanço. Os humanos são colecionados como Hegemonia e está se preparando para uma guerra contra os Ousters, uma facção menor da humanidade que se separou da Hegemonia há centenas de anos e é vista por esse grupo como um grupo de bárbaros ou rebeldes. Muito interessante é o Picanço, descrito como uma criatura de três metros de altura e quatro braços feita de metal afiado com grandes olhos vermelhos brilhantes que aparentemente podem se mover sem se mover, sendo a criatura mais poderosa do que todas as outras, mas tudo o que se sabe sobre isso é que, juntamente com as Tumbas do Tempo, é algo do futuro que está constantemente viajando para trás no tempo para algum propósito possivelmente nefasto. Há toda uma religião construída em torno delas, e a construção do mundo que a rodeia.

Os mundos mais avançados dessa civilização estão interligados por um sistema de teletransporte instantâneo, enquanto os menos desenvolvidos são atingidos por espaçonaves que viajam a velocidades relativísticas, quase inferiores à da luz. Em Hyperion, veículos aéreos são raros e os  personagens viajam por regiões selvagens em barcaças arcaicas. Em outros mundos, veículos aéreos são comuns, mas se apoiam em um princípio absurdo: voam por levitação magnética, ou seja, “repelem” o campo magnético do planeta, mas esse processo não se aplica a Hyperion porque o campo magnético desse planeta é “fraco”.

Impressões: É um daqueles livros que sabemos que é um clássico da ficção científica que estará incluído em todas as listas de “Histórias clássicas de ficção científica que você deve ler”, junto com livros como Duna e Guia do Mochileiro das Galáxias. A maneira como esses personagens são afetados por este mundo incrivelmente único e por tudo que há nele é muito interessante. A forma como suas histórias se formam e os próprios personagens mudam em tão poucas páginas, deixam a desejar. A conexão abrangente do livro com o poeta John Keats e seu poema Hyperion, pra quem não leu o poema de Keats, não dá pra dizer que compreendeu totalmente a extensão da conexão entre o livro e o poeta morto e seu longo poema. Esta obra é mais de ficção teológica do que ficção científica. A especulação que realmente importa é sobre a natureza do Deus católico – em um tom extremista e “cruzadista” que demonstra muito preconceito contra outras religiões, principalmente o Islã e o budismo.

Muitas Referências

O livro O Silêncio da Cidade Branca da autora espanhola Eva Garcia Saenz de Urturi, conta a história do policial é Unai López de Ayala, investigador criminal que há vinte anos ficou obcecado pelos homicídios que assolaram a região e depois de um hiato de vinte anos e agora retornaram. A “assinatura” do criminoso é matar um casal que tem a mesma idade e colocá-los em uma elaborada posição afetuosa em algum local turístico da cidade. Há todo um delicado simbolismo macabro no que o assassino faz, usando mel e elas são anestesiadas e abelhas vivas são colocadas em suas bocas e depois tampadas com fita adesiva. Uma morte agoniante e dolorosa. Só tem um problema: o assassino foi preso vinte anos atrás, está prestes a deixar a cadeia e ninguém sabe como e porquê os novos crimes estão acontecendo. O assassino condenado é Tasio Ortiz de Zárate, uma celebridade local, famoso arqueólogo e irmão gêmeo de Ignacio Ortiz de Zárate, policial e responsável por desvendar o caso e prender o próprio irmão. A cidade de Vitoria, a capital da província autônoma do País Basco, é uma personagem em si na trama, já que os locais onde os corpos são encontrados têm relevância para história da cidade, desde os tempos medievais aos atuais. Os crimes retornam e Unai e Estíbaliz são enviados para investigar e é um imitador fascinado pelos crimes ou Tasio está coordenando tudo de dentro da prisão? Unai chega a ir até a penitenciária conversar com Tasio na tentativa de descobrir, mas Tasio se dispõe a ajudar o investigador, dizendo que quem o incriminou vinte anos antes está agindo novamente.

SPOILER: O prólogo vem com a tensão de saber que um policial foi baleado na cabeça. Ele investigava vários crimes em série na cidade de Vitoria e foi a última vítima do matador. A autora conseguiu criar o perfeito clima de tensão enquanto passeamos pelas ruas de Vitoria e acompanhamos a saga de Unai e Estíbaliz na tentativa de descobrir quem e como os crimes estão sendo cometidos. Também é importante destacar a família de Unai, composta por seu irmão Germán e por seu avô, um dos personagens mais fofos do livro todo. Foi muito legal ver a dinâmica entre esses três e são algumas das melhores partes do enredo.

A capa é um show à parte de tão bonita e misteriosa, ilustrando uma parte importante no enredo e do contexto do livro. Uma pena não ter um mapa da cidade para que a gente acompanhe o vai e vem dos personagens. Os crimes não são descritos de maneira gráfica para chocar os leitores, mas apenas para indicar como o crime foi feito e achei isso ótimo. 

Mas a história parece recorte de várias histórias, do polícia que vai a prisão pedir ajuda do criminoso para encontrar um assassino-como em Hannibal; do assassino que substitui o filho único para tomar-lhe a vida é o nome- como em Ripley; e muita inspiração no professor Langdon, que vai atrás do bandido sozinho sabendo que vai se dar mal.

Tem o filme baseado no livro, que pretendo ver: