Apropriação Cultural

O livro Yellowface da autora R.F. Kuang conta a história das autoras June Hayward e Athena Liu, que deveriam ser escritoras amigas em ascensão, mas Athena é uma queridinha literária e June Hayward não é literalmente ninguém. “Quem quer histórias sobre garotas brancas básicas”, pensa June. A garota asiática está na moda. Então quando June testemunha a morte de Athena num estranho acidente, ela age por impulso: rouba a idéia recém-terminada de Athena, um romance experimental sobre as contribuições desconhecidas dos trabalhadores chineses durante a Primeira Guerra Mundial, edita o romance de Athena e o envia para seu agente como seu próprio trabalho. E daí se ela permitir que seu novo editor a rebatize como Juniper Song – completa com uma foto de autor ambiguamente étnica? Este pedaço da história dos chineses merece ser contada, não importa quem escreveu.  É disso que June tenta se convencer, e a  lista dos mais vendidos do New York Times  parece concordar. Mas June não consegue fugir da sombra de Athena, e algumas evidências de que ela está “imitando” a escrita de Athena, ameaçam derrubar o sucesso (roubado) de June que corre para proteger seu segredo, pensando até onde irá para manter o que acha que merece. Os haters das mídias sociais acabam com sua sanidade mental, ela se torna tão instável que uma outra escritora sem sucesso, descobre seu segredo e começa a usar o “espírito” de Athena para desmascará-la.

O começo da história, contada por June – e aqui temos uma narradora pouco confiável- é muito envolvente. A história trata de temas atuais, bons para discussões como questões de diversidade, racismo e apropriação cultural, bem como com a terrível alienação das mídias sociais. Não gostei do caminho que a autora escolheu para finalizar, mas é o que acontece: as pessoas esquecem o porquê tal autor foi cancelado e voltam a comprar seus trabalhos. Me incomoda que não-historiadores ou judeus, escrevam sobre essas histórias que aconteceram na guerra. Mas tem muitos livros best-sellers, de autores que escrevem sobre o assunto.

POLÊMICA: dizem que o texto foi baseado numa reportagem de revista que um autor escreveu sobre a Bíblia ser um livro dos judeus que passou por apropriação cultural, editado por um alemão- pessoa de um país hostil aos autores – e o agente literário foi um Bispo religioso que “editou” o texto para sua própria religião. Fonte: Twitter -\_(=/)_/

Faltou a Redenção do autor… =/

O livro A Amante da China, do autor holandês Ian Buruma, conta a história de uma atriz do ponto de vista de três homens. Tinha como dar certo? Well… os três são cinéfilos que são fans de uma estrela: Yamaguchi Yoshiko, a mulher desta história, e sobre os altos e baixos das relações humanas em tempos de guerra e paz. 

Nascida de pais japoneses na Manchúria em 1921, Yoshiko começou como uma estudante que cantava e atuava. Para progredir, ela se disfarça de manchuriana: ela tem “algo da Rota da Seda nela” e consegue interpretar chineses que se apaixonam por ela, mesmo sendo um papel precário para desempenhar em 1941, durante a guerra, mas observá-la “foi como uma poção mágica que nos fez esquecer” a guerra, diz o narrador Sato Daisuke, um triste espião japonês que trabalha como seu empresário. Ela acaba sendo presa pelos nacionalistas chineses sob a acusação de traição e escapou por pouco de uma sentença de morte. Fugindo para o Japão ocupado pelos Estados Unidos, Yoshiko adota um tipo diferente de propaganda: ela estrela filmes com roteiros para promover a democracia ao estilo americano, tratando o público do cinema japonês com seu primeiro beijo na tela. Logo ela cruza o caminho de Sidney Vanoven, um amante de filmes gay de Ohio e chega para conquistar Hollywood através de papéis como uma noiva de guerra do Japão. O mais animado dos três narradores, Sidney gira em torno das aventuras de Yoshiko. A politicagem de um programa de bate-papo, feito pra ela, é narrada por Sato Kenkichi, um membro da tripulação que se tornou terrorista que anseia por “deixar uma marca no mundo” e acaba em uma cela de prisão libanesa por causa de seus problemas.

Impressões: Buruma é jornalista e autor de livros de não-ficção com tópicos desde a história da Ásia até o Islã radical na Europa. O livro começa bem fazendo um passeio por set de filmagens, mostrando o elenco, os fans. O autor mistura gente da vida real com fictícios. Descreve cenas de guerra e exagera na pornografia. O único personagem Gay, é racista e até homofóbico! As falas contra judeus (meu lugar de fala) me incomodam, porque ele não faz uma Redenção dessas opiniões horríveis sobre um povo!! Vários personagens, de várias etnias, querendo a morte desse povo, e nenhum personagem pra combater a monstruosidade!! Nenhuma nota no final!! Parecem falas xenofóbicas do próprio autor!! Quando falam mal dos japoneses, alguém defende. Quando os chineses ou americanos são criticados, alguém defende. Já para os Judeus só coisas ruins!! Sobre as mulheres?? Só coisas ruins!! Não sei como esse livro não foi cancelado. Ficção tem limite.

Amor e Guerra

O livro Um Hotel na Esquina do Tempo do autor americano, bisneto de chinês, Jamie Ford conta em 366 páginas a história do Hotel Panamá, onde ficaram guardados os pertences dos japoneses que foram para os campos de concentração durante a Primeira Guerra. Usando da mistura de ficção histórica e realidade, o autor mostra todo o drama dos americanos netos de japoneses que eram tratados como estrangeiros, perdendo seus direitos civis e suas posses, mesmo não sabendo uma palavra de japonês eram considerados inimigos. O drama se desenrola na vida do menino chinês-americano que não pode ter amigos japoneses, mas se apaixona por uma menina e começa a frequentar o bairro. Além de frequentar o clube de jazz e fazer amizade com um afroamericano que lhe ensina sobre música. Todo o destino converge para afastá-lo de Keiko: seu pai o proíbe, a guerra afasta a familia dela para o campo de concentração e o bairro japonês é transformado em ruínas. Apenas o Hotel Panamá permanece de pé até a sua velhice, onde resolve procurar pelos discos de jazz que dera a Keiko quando adolescente. E leva seu filho para ajudá-lo.

É uma história muito triste mas contada de forma singela, como os videos orientais são: mesmo na guerra são resilientes, estoicos e dão a volta por cima, colocando a família em primeiro lugar. E essa capa é linda! Eu nunca tinha lido sobre campos de concentração nos Estados Unidos!!! Fiquei chocada de ver a semelhança com os campos na Europa: encher o trem com o dobro da capacidade de pessoas e levá-los para um lugar “provisório” cercado de soldados para vigiá-los!! E não poderem voltar para seu bairro, sua casa própria e seus pertences!! Muito triste!

A guerra contra o livro

O livro A Montanha e o Rio, de Da Chen, conta a história de dois meninos de mesma idade vivendo no período da Revolução chinesa. Um é órfão, foi adotado pelo curandeiro da vila. O outro é filho de uma alta patente do exército e neto de um banqueiro. Algumas reviravoltas na história unem esses dois no amor pela mocinha Sumi, que resolve eacrever um livro sobre os horrores da guerra.

No começo da história, em troca de um lanche para um mendigo, ficamos sabendo que os dois são irmãos: enquanto um vive mimado em um palácio o outro sobrevive numa aldeia e, ao descobrir que seu pai é um general, resolve se apresentar a ele como soldado. Mas não é bem recebido e isso

É um drama de guerra, então temos pessoas presas injustamente, torturas, mortes, mulheres sendo abusadas física e psicologicamente, famílias separadas. Mas também vemos que mesmo na guerra, para os ricos, a situação se contorna mais rapidamente. As traições acontecem em todos os setores. A ditadura contra os livros e a informação é bem desenhada. O romance entre o trio não convence, mas não atrapalha o conteúdo histórico. Me lembra muito o livro Esaú e Jaco.

Como sobreviver à Guerra? =/

O livro The Burning God da autora R.F. Kuang e finaliza em 640 páginas a trilogia The Poppy War. No inicio desse terceiro livro, encontramos Nikan no meio de uma guerra civil, enquanto Rin deixa a Fênix correr solta e lidera a Coalizão do Sul em uma rebelião contra o Vaisra e sua República do Dragão. Depois de salvar sua nação de invasores estrangeiros e lutar contra a malvada Imperatriz Su Daji em uma brutal guerra civil, Fang Runin foi traída por aliados e deixada para morrer. Apesar de suas perdas, Rin não desistiu daqueles por quem ela se sacrificou tanto – as pessoas das províncias do sul e especialmente Tikany, a vila que é seu lar. Rin percorreu um longo caminho deixando de ser a garota ingênua e vulnerável que foi manipulada para ser uma arma de destruição em massa para homens influentes usarem e depois jogarem fora; desta vez ela tem seu próprio povo para proteger e uma nação inteira para recuperar. Enquanto Rin volta para a província do Galo, ela está pronta para fazer o que for preciso para derrubar os exércitos republicano e hesperiano. Rin rapidamente percebe que o verdadeiro poder em Nikan está com milhões de pessoas comuns que anseiam por vingança e a reverenciam como uma deusa da salvação.

SPOILER: Você sabe que leu um livro realmente bom quando tudo o que pode fazer quando se senta para escrever uma resenha dele é ficar olhando para um documento em branco por horas, tentando lembrar como formar palavras e transformá-las em frases coerentes. The Burning God foi um daqueles livros muito bons. Ele quebrou meu coração em um milhão de pedacinhos, e foi, sem dúvida, o final mais adequado que uma série como The Poppy War poderia ter. Os dois primeiros livros foram principalmente em torno do puro caos e devastação em um país aniquilado pela guerra, em The Burning God também podemos ver as consequências de uma guerra. A autora não hesita em traçar paralelos da vida real aqui mais uma vez, enquanto retrata o profundo trauma de ser a sobrevivente. Testemunhar ela lentamente sair do controle e cair na paranóia é absolutamente aterrorizante, porque está se tornando uma narrativa familiar que você viu repetida muitas e muitas vezes ao longo da história, e você sabe que nunca termina bem. Mas também é inegavelmente catártico ver Rin finalmente deixando sua raiva e indignação transformá-la na líder implacável que seu povo precisa para vencer sua guerra por eles. À medida que a saga de Rin chega ao fim, você fica questionando se ela é um monstro ou uma deusa, e se, no final, essas duas coisas realmente são tão diferentes. =/ Adoro Kitai. O relacionamento de Rin e Kitay é uma dinâmica interessante. Ele está sempre pressionando para Rin fazer o melhor, o que nós leitores achamos que ela deveria fazer – as decisões que seriam menos “más”. Eu gosto que ele esteja lá porque ele atua sobre as idéias dela. Sem esse conflito dentro do livro, sinto que teria lutado muito mais para lidar com as decisões de Rin. 

The Poppy War é a série de livros mais incrível já escrita, e se você ainda não leu, deve largar tudo e fazê-lo imediatamente! 

Não importa o que muda, algo sempre permanece

O livro O deus e o Imperador do autor inglês Sam Meekings conta em 450 páginas a história de uma família chinesa tentando se manter unida durante a revolução cultural. O Imperador de Jade desafia o deus da cozinha a descobrir o funcionamento do coração humano, então ele decide acompanhar a vida de Jinyi e Yuying, um casal improvável – Yuying é uma jovem burguesa e Jinyi, um pobre funcionário do pai dela – e que supera perdas e tragédias para construir um amor puro e verdadeiro. Em meio aos acontecimentos dramáticos da China do século XX, entre a guerra com o Japão e a grande revolução de Mao Tse-tung, a história é narrada pelo deus e entremeada por contos tradicionais, num belo panorama da cultura chinesa.

Gosto do início de realismo mágico da história, todas as lendas, as fábulas vividas pelo deus da cozinha é muito divertido. Mas a história de Jinyi é muito triste, muito sofrida, muito dramática. Então essevintercalar das duas histórias ajuda a seguir em frente.

Trechos do livro:”A característica mais estranha dos seres humanos, em minha opinião, é que eles são capazes de preencher qualquer coisa com amor. Uma criança com um cobertor surrado, um velho cuidando de uma planta…” “…não é pelos outros, mesmo os mortos, que nos apegamos a essas crenças primitivas, mas por nós mesmos. Esses espíritos, não existem; a prática… é importante porque constitui um ato elaborado de lembrança…” “…somos velhos demais para fazer qualquer coisa nova. Somos como pássaros agora: nossa gaiola foi deixada aberta, mas não lembramos bem como voar.”

Se pudesse, leria só livros sobre o oriente ;)

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O Último Chefe Chinês da autora americana Nicole Mones conta em 287 páginas a história de uma jornalista de uma revista sobre restaurantes, que vê sua vida mudar após ficar viúva. Ela se depara com uma viagem à China, onde seu marido trabalhava em um escritório, e ela já tinha ido com ele anteriormente. Para resolver um problema de família, ela une o útil ao agradável e vai trabalhar de lá, escrevendo sobre um campeonato de culinária em que apenas dois sairão vencedores. Um dos candidatos é sino-americano e ela passa vários dias, assistindo suas experiências culinárias e provando os pratos. A amizade entre eles cresce e ela começa a gostar da cidade.

Uma parte interessante do livro é a “história dentro da história” onde as partes de um livro mostra como a culinária pode contar a história de um povo. E também a pesquisa sobre a revolução chines. A autora morou muitos anos na China e realmente escreve para uma revista, mas a nota da autora diz que o livro é ficcional.

Trechos do livro: “Que prazer uma pessoa pode tirar da culinária refinada se não convidar amigos queridos para comer?” “Parecia que um teto fora colocado sobre sua cabeça, formando uma bolha de calor a seu redor, fazendo com que toda a angústia que ela trazia guardada dentro de si se transformasse, por um instante, em algo suportável. Ela fechou os olhos para aproveitar aquele alívio delicioso.”

Uma das pessoas que sigo por causa da culinária chinesa é a youtuber Liziq que tem dez milhões de seguidores e seus vídeos são rapidamente visualizados por meio milhão de pessoas no mundo:

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Lendo em Inglês #5

O livro The Good Earth (A Boa Terra) é o meu favorito da autora Pearl S Buck. Já li a edição em português e agora li em inglês nivel intermediário publicado pela Heinemann. O livro ilustrado conta em 95 páginas a história de Wang Lung um fazendeiro filho de fazendeiro. Para eles, a terra é o maior tesouro que uma família pode possuir e ninguém pode tirar isso de você. Seu pai está velho e procura uma boa mulher pra casar com ele. Ela lhe dá filhos, cuida da terra, cuida da casa, cuida de seu velho pai. Ele enriquece com a ajuda dela. E quando ela envelhece, ele a troca por uma concubina jovem e bonita.

Esse livro conta a saga dessa família por três gerações de 1860 a 1930, os problemas, a guerra, as drogas, o poder do dinheiro.

Com um vocabulário controlado, dicionário de expressões no final, fica muito fácil acmpanhar a história. O filme é de 1937.

…nas montanhas do Tibet…

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A moral da história: nem sempre ser inteligente te faz rico. O livro de 1998  Papoulas Vermelhas do autor Alai, com  435 páginas, é escrito com uma ironia sutil, muito delicioso de ler. Conta a história de um garoto que pode vir a ser o chefe de uma cidade no lugar de seu pai, mas seu irmão que é um guerreiro quer ser o chefe. O chefe pensa que seu filho é um idiota porque ele foi “concebido” durante uma bebedeira. Mas ele se mostra inteligente e enriquece a familia, causando ciúmes em seu irmão. O personagem também é o narrador dessa história, conversando com o leitor:” Vamos deixar isso de lado e dar uma olhada na cama do chefe, que era na realidade um gigantesco….” “Agora deixe-me pensar, o que mais aconteceu naquele dia?”

Trechos do livro: “Eu temia acordar de um sonho em que eu tivesse a impressão de estar caindo, mas estar realmente caindo. Se uma pessoa deve ter medo para se sentir realmente viva, então é isso que eu temia.”

“Os escravos domésticos eram a ralé, que podia ser comprada, vendida ou utilizada à vontade. Não é difícil transformar gente livre em escrava; basta estabelecer uma regra que vise às fraquezas humanas mais comuns. É mais infalível do que um caçador experiente saltando uma armadilha.”

 

 

O Livro dentro do Livro

A Lenda de Murasaki, conta duas histórias: o da personagem Murasaki e a história do livro que ela escreve. Escrito por Liza Dalby, esta edição de 1999 tem 450  páginas. Este livro é uma ficção baseado no famoso conto da literatura japonesa conhecido como  A Lenda de Gengi, escrito por uma dama da corte imperial Murasaki  Shikibu, do séc XI. Descreve em detalhes a vida no Japão nesse período, o livro é muito interessante para quem gosta de contos orientais, para quem gosta de arte, em suas formas diversas. A personagem gosta de flores e de jardins criados por paisagistas como se já fizessem parte da natureza; a personagem escreve poesias em forma fixa chamada waka; a personagem descreve as vestimentas e cores usadas pelos freqüentadores dos palácios onde a história se passa, a personagem descreve a música dos instrumentos tocados pelo seu pai. A personagem começa a história menina, se torna uma escritora muito solicitada pela imperatriz e vai até a sua maturidade, quando deixa o palácio.Trechos do livro: “Lembrei-me das pessoas com quem tive intimidade durante anos, e conclui que as relações em geral se constituem de uma pessoa que fica ancorada e a outra, que flutua. Embora em geral as mulheres sejam as ancoradas, tive as duas experiências.”  “As pessoas não são coerentes, você sabe disso. Todo mundo tem suas idiossincrasias, e ao mesmo tempo ninguém pode ser considerado totalmente mau, ninguém é atraente, contido, inteligente, de bom gosto e confiável o tempo todo. É difícil sabermos quem devemos louvar.”

Durante a leitura do livro escolhi um barulho de água de uma fonte japonesa de bamboo chamada Shishi – odoshi, aquela que aparece numa luta final do filme Kill Bill. A personagem descreve “Eu amava o barulho murmurante da água…o rumorejo suave afastava os pensamentos pertubadores.” Quer resenha? Clique Aqui.

 

https://www.youtube.com/watch?v=aJaZc4E8Y4U