Seguir o Próprio Caminho

O livro A Providencia do Fogo do autor americano Brian Staveley, conta em 640 páginas a continuação das Crônicas do Trono de Pedra Bruta e, a temível conspiração para destruir a família que governa o Império Annuriano está longe de terminar. Após descobrir a identidade do assassino, sendo Ran Il Torn-ja que estava por trás da conspiração que levou à morte de seu pai, Adare, completamente perdida, foge do Palácio da Alvorada em busca de improváveis aliados e decide deixar a capital do império Annuriano em busca de algo para impedir a ascensão do traidor. A jovem, porém, criada em meio a confortos palacianos, parece completamente despreparada para os implacáveis perigos à espreita. E como esconder de todos seus olhos tocados pelo fogo, imediatamente reconhecíveis? Enquanto isso, Valyn e sua facção, agora membros renegados da maior elite de combate do Império, recebem a missão de escoltar o imperador Kaden até os kenta, os misteriosos portões que conduzem a qualquer parte de Annur. Em seu encalço, a melhor parte da facção kettral está destinada a caçá-los. Em seu caminho, os urghuls, hordas bárbaras que vivem nas fronteiras do Império e cujas hediondas histórias de sacrifício ao deus da Dor, Meshkent, que são dignas de provocar os pesadelos mais assustadores, sãoinimigos. Contudo, há presságios de intrigas e traições ocultas que prometem ser ainda piores.

Impressões de leitura: Adare, apesar de mais uma vez estar inserida na parte política do livro, é a grande estrela e consegue roubar toda a cena para si. Gostei de ver como a personagem se mostrou inteligente em determinadas situações e conseguiu se safar de destinos mortais e difíceis. Adare vira um misto de protagonista, antagonista e com as decisões mais difíceis de serem tomadas. Enquanto o primeiro objetivo de Kaden é escapar, e o de Valyn é sobreviver, Adare navega por dilemas morais e complexos. Aconteceu um aprofundamento bastante perceptível em relação ao aspecto religioso do universo. Se em O Imperador das Lâminas ( título horrível) o autor introduziu os deuses de modo geral, aqui o foco acaba ficando para a deusa da Luz (Intarra) e o deus da Dor (Meshkent), numa narrativa repleta de segredos, reviravoltas e traições que fazem as mais de seiscentas páginas valerem a pena. 

Kaden é outra grata surpresa. Cercado por inimigos e com mínimas opções de alianças, ele começa o livro como um prisioneiro não declarado dos Ishien (a seita de seu mestre, Tan) e termina proclamando uma república enquanto destrói tanto os defensores do império quanto seus antigos carcereiros em um único golpe de mestre, forçando os demais apoiadores de sua recém fundada república, antes reticentes, a forçarem suas jogadas. Enquanto Adare assume de vez as rédeas por seu destino e Kaden evolui a ponto de minar um governo e solidificar sua posição jogando inimigo contra inimigo, Valyn permanece quase imutável, principalmente na maior crise, quando fica mais claro que ele precisa se adaptar. Sua teimosia  e apego a seus métodos são, no final, a principal causa por sua queda, um personagem ótimo no primeiro livro e quase nada no segundo.

Não gostei da capa esverdeada sem conexão com a história:

Realismo Mágico ou Alucinação?

O livro A Estrela de Strindberg do autor sueco Jan Wallentin conta em 348 páginas a história de Don Titelman, um professor de história conhecido por suas pesquisas em símbolos e mitos, que é o anti herói, neto de uma sobrevivente do experimento do campo de prisioneiros da Alemanha nazista. Ele cresceu assombrado pela coleção de recordações nazistas de sua avó e por suas histórias horríveis sobre os experimentos realizados com ela, o que faz com que passe a história tomando uma série contínua de drogas que prescreve para si mesmo. Após o bizarro assassinato do mergulhador que descobriu o ankh, Don Titelman, é detido pelo crime, é misteriosamente raptado por alemães da Embaixada da Suécia e trancado com o sua esquisita advogada, que ele acabou de conhecer, numa adega. Eles escapam e ficam com a ajuda da estranha e reclusa irmã de Titelman, Hex, que literalmente vive no subsolo, tem acesso a conexões de alta tecnologia e transportes de emergência. A ação para entregar um artefato mágico, leva ao Ártico, onde Titelman descobre a verdade por trás de uma malfadada expedição de balão em 1897, durante a qual três homens morreram, incluindo o fotógrafo sueco Nils Strindberg, que dá título ao livro.

Felizmente, a história não depende de Don como personagem – ele apenas precisa seguir em frente com inimigos carregando ele, que está sob efeito de entorpecentes. E sua advogada passa a ser sua ajudante e é colocada em igual perigo. Don muda no final como resultado de poderes mágicos depois que ele, de fato, descobre sobre o inferno.

Best-seller na Suécia, Alemanha e França, o primeiro romance do jornalista sueco Wallentin é  No início, ele é uma alternativa divertidamente excêntrica aos mistérios sombrios pelos quais os suecos são conhecidos, mas quanto mais Wallentin se aprofunda nos seus conceitos grandiosos, que incluem a descoberta de uma antiga cidade enterrada no deserto de Taklimakan, na China, mais ele perde o fio narrativo: malignos esquemas nazistas, a mitologia nórdica, a lenda de Pompeia e uma expedição de balão ao Pólo Norte, conspirações secretas, poderes psíquicos, relíquias místicas antigas e visões mitológicas de um submundo, são companheiros narrativos neste extenso e fantasioso conto impulsionado pela busca desesperada de um ankh de metal, ou amuleto, descoberto em um cadáver em uma mina de cobre abandonada, numa narrativa sobrecarregada de explicações elaboradas que, na maioria das vezes, simplesmente retardam seu avanço. A explicação do pano de fundo do ankh e da estrela e como eles funcionam não é nada esclarecedora e parece durar para sempre. Às vezes, as pistas que seguem são meramente gratuitas. Há, por exemplo, grande alarde sobre uma nota com algumas citações de Baudelaire, mas, além da identificação do poeta com o mal, ele e seu poema dificilmente parecem relevantes. Na verdade, toda a exposição sobre a expedição de Strindberg em 1897, embora possa ser historicamente interessante, e até mesmo necessária para o enredo, nunca é apresentada de forma convincente. E para um historiador, pega mal ir a um hotel procurar por um documento antigo, que a funcionária do hotel diz que fica no arquivo da cidade!

O blurb citando o autor Dan Brown não é real, já que não me interessei por nada do “segredo”, não torci por nenhum personagem,  não gostei das referências judaicas, já que quem quer ler um drama sobre os judeus, procura um livro específico,  não um triller. A tradução das partes em alemão estão diferentes de quem aprendeu e conhece os termos usados. Não recomendo.

A capa parece bem feita, mas na página 60 diz que o artefato era “de metal não completamente liso, uma espécie de decoração se entrelaçava em relevo na superfície” – totalmente diferente do item da capa.

Vale Tudo por Amor? ♡

O livro A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário do autor canadense Denis Thériaut conta em 148 páginas a história de Bilodo, um carteiro que vive sozinho e não tem amigos, apenas colegas. Bilodo, que preenche o seu vazio lendo as correspondências dos clientes e exercitando a arte da caligrafia, se interessa pelas correspondências de uma professora residente em Guadalupe, Ségolène, que endereça suas cartas à Gaston, um professor e poeta, morador do mesmo bairro de Bilodo. Entretanto, o único conteúdo são poemas japoneses conhecidos como haikai, que o professor envia um em cada carta, o que acaba por levar o carteiro ao mundo da literatura japonesa.
Após um acontecimento trágico, Bilodo assume a identidade de Gaston, mantendo a troca de cartas com Ségolène, por quem uma paixão havia se instalado no seu coração, e a única forma de sustentar essa ilusão, era manter a troca de correspondências. Ele sente esse amor como “puro” para justificar seu crime. Ele vê nos seus colegas um espírito vil, desprezível, mantendo-se ainda mais distante deles, em suas compulsões pela degradação e libertinagem. A sua ordem interior é quase ascética, se não fossem os seus “arroubos” em ler a correspondência alheia. Para ele, os demais seres, encontram-se em um estado de constante imoralidade e exibicionismo muito modernos, preferindo o lirismo dos haikais, a sutileza das palavras, a singeleza dos traços, a esperança no sonho, e a alma preenchida pelo belo, inocente, puro. Por causa de um golpe de Robert que descobre sua trapaça, Bilodo vê o seu mundo desmoronar por completo, e a única pessoa que o amava, como realmente era, Tania, torna-se também inimiga, ele não vê mais motivos para continuar seguindo.

Impressões de leitura: Eu sou da época de troca de cartas, de aguardar o carteiro para ter notícias de uma pessoa que está longe. Nesse mundo digital e moderno, a comunicação trouxe as pessoas à um toque dos dedos, e mesmo assim, as pessoas encontram-se mais solitárias, deprimidas, vulneráveis e, em alguns casos, su1cid@s. O su¡cídi0 tem sido a “saída” para a debilidade dos homens modernos, assim como os prazeres rápidos como, sexo inconsequente, drogas, muito álcool, esportes de “adrenalina” e outras “loucuras” que fazem seus praticantes se sentirem vivos,  são placebos para aplacar a angústia e dor na alma, e pra isso chega a quebrar regras, infringir leis, para satisfazer os anseios mais íntimos. Por isso quando a ordem e a harmonia são quebradas, o personagem dessa história vai ao desespero quando descoberto por Robert, expondo-o.

É um livro que se propõe a ser leve, com uma linguagem etérea, quase sublime,  mas podendo descambar, a qualquer momento, para os vícios comuns do Patriarcado: um homem que por amor, acha que pode mentir para uma mulher (no caso da morte do professor), mas é pro bem dela; pode invadir sua privacidade (no caso abrir suas cartas); sentir ciúmes do outro homem (que nem o conhece) e invadir a casa dele para descobrir coisas sobre ela; voyeurismo. Li resenhas passando pano pra ele, chamando de “curioso” “apaixonado”. Eu chamo de “obsessivo e invejoso” a ponto de roubar a identidade do outro. Um mérito para o autor, que traz a “leveza” com a narrativa dos haicais dentro do contexto. Bilodo aprenderá a escrevê-los e aprenderemos com ele, entrando em um universo de métricas e caligrafia. 

Fofocas de Hollywood

O livro Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, da autora americana Taylor Jenkins Reid, conta a história de Evelyn, uma estrela de cinema que rapidamente se tornou uma celebridade de Los Angeles na década de 1950, com uma carreira de sucesso que se estende por três décadas, culminando com uma vitória no Oscar nos anos 80, quando ela toma a decisão de deixar o show business e seus casamentos, que foram menos bem-sucedidos e duraram menos do que sua carreira de atriz. Essa história está sendo contada para uma escritora desconhecida que é abordada por essa mega estrela no final de sua vida, para escrever uma biografia multimilionária. Mas o que ninguém entende é por que Monique foi escolhida para ser a escritora? 

Não consegui gostar nem um pouco de Evelyn, talvez por já ter visto muito vídeos sobre estrelas internacionais sendo admiradas, que acho que é a marca registrada de uma grande personagem e o grande motivo para ela ter sete maridos e o mesmo da vida real dos anos 40, eles escondem seu único amor verdadeiro, uma mulher. E aí mesmo sendo duas adultas idosas, tem falas adolescentes, e mostra como foi boa a vida das duas jovenzinhas apaixonadas. Não tem contexto de amor maduro e eterno. O “tom de voz” usado para a personagem não muda da juventude pra fase adulta e nem dá juventude para a velhice: tem que se esforçar muito para acreditar nessa voz.

Não consegui ficar animada em ouvir todos os detalhes da vida dela e me vi completamente desconectada de tudo que ela contou, pensando o quanto ela mudou a história real. Exatamente como eu me sentiria lendo qualquer livro de memórias ou autobiografia- não dá pra acreditar em tudo, mas dá pra pesquisar e ver o que foi escrito em jornais e TV sobre aquela pessoa. Entao, simplesmente não é para mim, mas eu recomendo fortemente para pessoas que gostam de histórias com traição, luxo, drama familiar, porque está bem escrito. Mas pareço estar vendo um vídeo do canal Sociocrônica, que conta as fofocas da Hollywood dos anos 30,40,50: