Ficção ou Não-Ficção?

O livro O Movimento Romântico do autor suiço Alain de Botton conta a história de Alice, uma moça que prefere estar mal acompanhada a ficar sozinha, mas não aceita defeitos físicos ou feiura no seu alvo. A aparição do príncipe encantado na forma de Eric, homem atraente e bem-sucedido, seria a solução perfeita para seu problema, se não ocasionasse milhões de outros. Ela ainda é muito jovem pra se preocupar em ser solteirona, mas começa a comparar seus relacionamentos com o de sua amiga, e vê que duas pessoas em um relacionamento sempre andam em vias paralelas, que às vezes se cruzam em algo em comum, voltando cada um para seus ritmos próprios. Alice descobre que ninguém pode abrir mão da própria vida para viver a vida do outro. Mesmo não tendo problemas básicos- de dinheiro, de saúde, de família, no trabalho- Alice procura problemas no relacionamento, tendendo ao melodrama quando Eric não advinha o que ela quer ou está sentindo. Parece uma vida perfeita, que Alice abre mão, por querer viver um outro tipo de paixão.

SPOILER: mais um livro do autor, mas a surpresa do primeiro contato não se repete nessa fórmula reproduzível, mas que não causou o mesmo impacto. Se o autor retirasse do meio da história seus pensamentos e citações de vários filósofos sobre o amor e colocasse como nota de rodapé, o leitor não ficaria indeciso entre ser literatura ou ensaio filosófico. O título também é ambíguo propositadamente sendo tanto um tratado sobre os ideais estéticos de uma época, como o movimento gerado nas relações amorosas.

Só existe o que vemos?

O livro A Polícia da Memória da escritora Yoko Ogawa, conta a história de uma escritora, sem nome. Numa ilha sem nome, situada numa costa anônima, há objetos que começam a desaparecer. Primeiro chapéus, depois fitas, pássaros e rosas, até que a situação se agrava. A maioria dos habitantes permanece desatenta a estas mudanças, e alguns começam a recuperar os objetos perdidos, mas vivem receosos da Polícia da Memória, entidade que assegura que o que desapareceu, deve permanecer esquecido. Os habitantes da ilha sem nome vivem sob o regime opressor da polícia da memória que, ao menor indício de que algum morador não consiga apagar de suas memórias o que foi estipulado para que seja esquecido, aparecerá para prendê-lo. A maioria das pessoas se deixa levar por essa amnésia, mas aquelas que não conseguem e são “imunes” ao fenômeno, representam uma ameaça e devem ser eliminados.
Quando uma jovem mulher, que luta por manter uma carreira de romancista, descobre que o seu editor está em perigo, elabora um plano para o ocultar debaixo da sua casa. À medida que medo e sentimento de perda se aproximam, rodeando-os, ela agarram-se à escrita como modo de preservar o passado.

Não entendi essa história como metáfora de “você quer mesmo lembrar de coisas que você perdeu?”, como vi em muitos textos. Entendi mais como “apagamento” de uma sociedade, de colonização de um povo, direcionando como devem ser suas vidas. Mesmo as rosas tendo “sumido” , nos textos seguintes ela fala do cachorrinho brincando com flores. Então…não sumiu de verdade? Apenas deixamos de ver as coisas que nos cercam? E quando deixamos de gostar de nós, deixamos de cuidar do braço, como se ele não existisse? Deixamos de ver beleza e ela deixa de existir pra nós? Porque os soldados continuavam com a perna? Eram robôs sem sentimentos? R também não desaparecia, porque tinha esperança de viver. Pra que ele exista, ela precisa vê-lo. Então decidi entender como uma dica:”não deixe de ver beleza ao seu redor. Ela pode desaparecer. “

Viver Um Dia de cada vez

O livro Os Quatro Compromissos do autor mexicano Don Miguel Ruiz, publicado há quase um quarto de século, conta a conexão que ele tirou de uma experiência pessoal e os ensinamentos tolteca, uma filosofia que mostra em quatro passos como cada pessoa pode controlar sua língua,  sua mente, suas ações e seus sentimentos. Na tradição dos toltecas, um nagual guia um indivíduo para a liberdade pessoal, por meio de um combinado de sabedoria antiga com práticas mais modernas. O autor ensina passos para superar a doutrinação social e para alcançar a verdadeira felicidade e auto-realização.

Ex-cirurgião, depois de sofrer um acidente de carro quase fatal o autor embarcou em uma jornada espiritual que o levou a se estabelecer como um dos líderes de pensamento da sabedoria tolteca – uma filosofia baseada em desaprender crenças limitantes e impostas por adultos, sem chance de escolha infantil; diminuir as expectativas de si mesmo e acordos que levam ao sofrimento e em fazer escolhas que levam à liberdade de ser.

O livro não deixa de ser uma lista de coisas para tornar bons hábitos e mudar suas perspectivas sobre a vida, mostrando Os Quatro Acordos: Seja impecável com sua palavra, não leve nada para o lado pessoal, não faça suposições e, por último, sempre faça o seu melhor, embora os acordos possam ser simples por natureza, eles carregam o tipo de peso e substância que podem realmente fazer diferença.

O autor diz que a sociedade nos ensina todas as regras condicionadas a crenças limitantes: você receberá uma punição quando for mau e quebrar as regras e receberá uma recompensa quando obedecer, só que a recompensa é sutilmente perniciosa porque nos ensina a agir só pela recompensa, em vez de encontrar o motivo para executar a ação: divertimento, prazer, aprendizagem, evolução.
A punição também é limitante, pois torna-se o medo de não ser bom o suficiente em várias áreasda vida que não te recompensam pelo óbvio.  Continue  fazendo  o seu melhor e sua melhoria e transformação pessoal se tornarão uma consequência óbvia.A maior desvantagem é que Os Quatro Acordos às vezes se transforma em auto-ajuda meio ingênua.

A Maestria de Borges

O livro Ficções do autor argentino Jorge Luis Borges, é constituído de dezesseis contos, que trazem idéias filosóficas sobre livros, bibliotecas, labirintos, religião e conhecimento. Borges figura na lista dos maiores escritores de todos os tempos, influenciando outros escritores ao redor do mundo, mesmo sem nunca ter escrito uma história longa, um romance. Os contos, embora distintos, oferecem certa coesão nos temas: espelhos, labirintos, memória, eternidade duplicidade e o tempo. Os contos de Ficções tem precisão milimétrica, como se fossem encaixados peça por peça. Em A Biblioteca de Babel, o autor apresenta um paradoxo da linguagem, como um instrumento universal, mas não pode resumir todas as experiências da vida, porque dependem das diferentes interpretações de quem a usa. A biblioteca nada mais é do que o universo, e o mundo é concebido através dela, como a mãe-terra. Os bibliotecários buscam alguém que consiga compreender todas as obras presentes na biblioteca, o que poderíamos enxergar como um ser superior, dono de todo conhecimento. Borges anuncia que O jardim de veredas que se bifurcam é um conto policial, bem como em Exame da obra de Herbert Quain encontram-se notas sobre um livro imaginário. Essa transição entre gêneros, dentro de um mesmo conto, demonstra a maestria do autor.

Borges constrói suas histórias com uma economia que vai além da maioria dos autores. Kerrigan o declara “o escritor mais sucinto deste século”, explicando assim o estilo de Borges: “Na literatura, basta traçar os passos. Deixe o povo dançar!” No prólogo da primeira parte Borges explica porque não escreve um livro longo:

A composição de vastos livros é uma laboriosa e empobrecedora extravagância. Continuar por quinhentas páginas desenvolvendo uma ideia cuja exposição oral perfeita é possível em poucos minutos! Um procedimento melhor é fingir que esses livros já existem e depois oferecer um currículo, um comentário.

A primeira coleção de oito partes é uma exibição deslumbrante de meta-ficção, e as histórias são escritas em um tom seco, direto, desapegado, acadêmico, e Borges relata suas análises de obras e escritores inventados (com notas de rodapé…) de uma maneira ao mesmo tempo confusa e intrigante, induzindo o leitor acreditar e depois fazendo ver que pode ser tudo uma ilusão da sua cabeça. 

SPOILER: É difícil ler Borges. Minha primeira leitura, sem estudar ou pesquisar nada do que ele ía falando, sim, achei difícil. É difícil entender o significado quando as histórias começam sem um pingo de contexto – embora Borges insista que elas “não requerem elucidação alheia” – e terminam com o leitor em estado de epifania e confusão, sabendo que é ficção, achando que é real.

A história de abertura, por exemplo, “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, começa com um narrador anônimo descrevendo o que parece ser uma brincadeira: a entrada dele numa enigmática cidade ou na enciclopédia sobre um país chamado Ukbar. Nenhuma quantidade de pesquisa lhe dá mais informações sobre este lugar (duplamente) fictício e a trama fracassa. Mas depois ele encontra um livro inteiro descrevendo um planeta (novamente, duplamente) inventado chamado Tlön, completo com sua própria teologia e linguagem. A linguagem de Tlön se assemelha à nossa, exceto que não contém nenhum substantivo, apenas “verbos impessoais qualificados por sufixos ou prefixos monossilábicos que têm a força de advérbios”. Portanto, em Tlön a frase “a lua subiu sobre o mar” seria escrita “para cima, além do fluxo constante, havia luar”, então o narrador questiona:”então você realmente entendeu o que leu ou o significado era outro e você nem viu?”

Ao ler todos esses paradoxos, senti como se estivesse perdendo algo óbvio. Vou precisar de ler outras vezes e pesquisar mais Borges.

As Referências de Piranesi °\_(• •)_/°

O livro Piranesi da autora Suzanne Clarke conta em 253 páginas a história de um homem que não sabe seu nome. Ele só conhece uma outra pessoa, que deu-lhe o nome de Piranesi. Ele é uma espécie de cientista num mundo que é uma Casa e um Labirinto, contendo céu e mares; de corredores infinitos e salões repletos de estátuas gigantescas, como um Museu e uma Universidade. Piranesi não tem uma memória exata do início de sua existência; seu único companheiro humano é o Outro, com quem se encontra esporadicamente em função de seus estudos e explorações da Casa em busca do Grande Conhecimento. As sondagens de Piranesi, contudo, fazem com que ele descubra indícios de mais um humano e, aos poucos, ele vai encontrando pistas sobre o grande mistério por trás de sua existência e da natureza do mundo em que se encontra. Ali, regista diariamente em cadernos de apontamentos os detalhes da Casa. A sua vida parece ser apenas pretexto para esses registros, e então Piranesi detalha os labirintos de salões, as estátuas aos milhares, as marés que sobem pelas escadas. Conhece os 7678 corredores e crê que, ao todo, existiram 15 pessoas no seu “mundo”. Dessas, apenas ele e o Outro, que o visita duas vezes por semana e o ajuda a estudar o Grande Conhecimento Secreto, estarão vivos. Os outros são apenas ossos dos mortos, Piranesi vive em absoluta solidão. Ao ver marcas de giz no chão, descobre que outra pessoa invadiu seu mundo e quer descobrir o que a levou até ali.

SPOILER:O título do livro tinha a ver com um personagem real: o famoso desenhista e arquiteto italiano Giovanni Battista Piranesi, conhecido especialmente por uma série de gravuras publicadas inicialmente em 1750, chamada Carceri d’invenzione que, como fica claro do título, retratam prisões imaginárias. A história do personagem que escreve diários, têm muitas referências: à filosofia, às artes, a ciência, a matemática. O museu onde vive é chamado de casa, não de lar. Está meio em ruínas, porque às águas e neve invadem algumas salas. Ele perdeu a memória de uma vida anterior e aprendeu a viver ali. Conhece cada sala daquela construção que parece um labirinto. A autora faz conexões da mente como uma prisão. A construção de todas as histórias que conectam é interessante, mas não gostei do final, que roubou desse livro a última estrela. Quem conhece a biografia da autora, pode ainda fazer a conexão com a doença que a deixou confinada em casa pela última década e meia também a fizeram estudar as prisões imaginárias.

O jovem influenciável.

O livro Demian do autor alemão e prêmio Nobel em Literatura Herman Hesse conta a história de Sinclair, um jovem que tem a vida perfeita e vê sua vida mudar após uma mentira para se vangloriar. Ele passa a ser chantageado e começa a se afastar de sua família até encontrar o jovem do título, Demian. Ele mostra que não há nada errado entre o bem e mal, o mal e o bom e que todos temos os dois lados, até as religiões. Sinclair se assusta num primeiro momento, mas começa a pensar sobre isso e começa a usar seus desenhos para se comunicar com outros “mundos”. O autor poderia nesse momento ter levado seu personagem à busca da religião perfeita, mas ele faz o contrário: até um menino que tenta se guiar por ele, cita alguns termos místicos e o personagem diz que nunca ouviu falar. E nem demonstra curiosidade pra saber sobre. Tem uns capítulos mais místicos, mas a história sempre volta pra realidade de cada um, com a guerra, explosões, mortes.

Trechos do Livro: “Para com as irmãs dever-se-ia ter os mesmos respeitos e atenções que se dedicava aos pais, e quando brigava…ter sido o culpado, o promotor da discórdia… pois ofendendo às irmãs…ofendia-se ao bem e à autoridade espiritual. ” “Meus pés estavam manchados de uma lama que não se podia limpar no capacho da porta; trazia comigo trevas inteiramente desconhecidas…” “A descoberta de que meu problema era um problema de todos os homens, um problema de toda a vida e de todo o pensamento, pairou sobre mim de súbito como uma sombra divina…” “Tinha medo de ficar só por muito tempo, medo das minhas veleidades de ternura, honestidade e carinho a que me sentia totalmente inclinado…”

Filosofia ou Romance?

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O livro Ensaios de Amor do autor suíço Alain De Botton, conta em 204 páginas um ensaio filosófico sobre o amor. Mas também é a história de um homem que encontra uma jovem comum em um avião e vai descobrindo as diferenças entre eles, mas ao sair do aeroporto, pensa que está apaixonado e faz de tudo pra engatar um romance com a moça. Em cada capítulo devidamente numeradas as idéias sobre a paixão, o amor e até o que odiar na pessoa amada, ele vai contando em primeira pessoa como tudo foi rápido e de repente estavam passando tempo com as famílias um do outro e como pequenas coisas incomodavam no relacionamento.

Um texto hilário, que pode ser considerado filosofia porque traz profundas reflexões acerca do amor entre seres humanos. O livro contém spoiler de Madame Bovary, que eu ainda não li.

Trechos do Livro: “A conversa foi se aprofundando, permitindo que um vislumbrasse fragmentos do caráter do outro.” “Tínhamos até a mesma edição de Anna Karenina em nossas estantes…pequenos detalhes, talvez, mas não era baseado neles que crentes fundavam religiões?” “Eu tenho uma tendência horrível para confessar coisas que não fiz. Sempre tive fantasias sobre me entregar à polícia por algum crime que não cometi.” “Eu não estava mais preocupado em localizar… verdades poéticas em sua sintaxe, o que importava não era tanto o que ela estava dizendo e sim o fato de que ela o estava dizendo – e que eu havia decidido encontrar a perfeição em tudo o que ela pudesse escolher proferir.” “Será que eu estava certo em detectar traços de flerte nos finais de suas frases e nos cantos de seus sorrisos…?” ” Os mais atraentes não são aqueles que nos permitem que os beijemos de imediato (logo nos sentimos desinteressados) ou aqueles que nunca permitem que os beijemos ( logo os esquecemos), mas aqueles que sabem ministrar cuidadosamente diferentes doses de esperança e desespero. ” “Não amaríamos se não nos faltasse alguma coisa, mas nos ofendemos ao descobrir uma lacuna semelhante na outra pessoa.”

A mágica e a Montanha

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A edição desse livro é portuguesa, Coleção Dois Mundos de Lisboa, então algumas palavras estão escritas de forma diferente da nossa – nada que atrapalhe a leitura da Montanha Mágica ( no original em alemão Der Zauberberg) de Thomas Mann que conta a passagem do jovem Hans Castorp por um sanatório que fica situado numa montanha nos Alpes Suiços. As 749 páginas contam a passagem de mais ou menos três anos em que o jovem esteve ali internado, primeiro como visitante de seu primo e depois como paciente. Todos os acontecimentos de cada paciente, são contados de forma a criar conhecimento no jovem. Ele que veio a passeio, acaba por se ver doente e também internado como paciente. E acaba por gostar do local, com muitos almoços, muita fartura, muitas festas, muitos passeios. 🏔

A minha impressão é de que o médico responsável pelo sanatório não entendia muito bem do assunto e resolvia internar todo mundo. As pessoas não parecem se importar de chegar saudável e de repente, estar com a mesma doença dos outros pacientes. Na realidade se parece com um resort, onde quem tem muito dinheiro para se “hospedar”, vai ficando. Os “pacientes” comem muito, bebem muito, dançam, assistem jogos de inverno, passeiam pela cidade, fumam charutos, se apaixonam. É como se eles criassem seu próprio mundo ali em cima, na montanha. Até a página 100 se passam apenas dois dias da visita do jovem Hans. Todos o convencem que a doença engrandece a alma. Para o primo do Hans, medir o tempo é uma questão de sensibilidade. Na página 229 se passaram sete semanas. E o jovem decide ficar. Ele começa a se interessar por medicina e lê tudo o que pode para aprender. A partir da página 390 ele está há umano na montanha e muda seu interesse por botânica: plantas, flores e seus chás. 🌲

O livro está cheio de personagens interessantes, como Setembrini, o italiano (pobre) que tem muitas discussões filosóficas com o indiano Naphta (rico), e que faz o jovem Hans aprender muito. Tem a estrangeira Sra Claudia que é casada, mas vai e volta do santório e em sua última vinda, traz um russo a tiracolo que é seu amante. Isso divide Hans que a ama, mas acaba gostando da amizade com o homem. Tem as pessoas que chegam e que partem, os que chegam e que morrem. Após dois anos na montanha ele aprende a skiar.⛷️

Depois da morte de seu primo ele se interessa pelo jogo de cartas, principalmente por “paciencia”. Depois da chegada do gramofone ele se interessa por música clássica. 🎶 Já se passaram três anos e ele abandona a admiração pelo italiano e começa a ficar entediado. Começa a participar de sessões mediúnicas. Eele resolve gastar o resto de suas forças na guerra.
Trechos do Livro: “…Hans Castorp representava um produto genuíno da sua terra: gostava de viver bem, e apesar da sua aparência anémica e refinada, agarrava-se com fervor e firmeza, tal como um lactante deliciado pelos seios da mãe, aos prazeres físicos que a vida lhe oferecia.” “Isso não quer, no entanto, dizer que ele amasse o trabalho; disso não era capaz, por mais que o respeitasse, simplesmente pela razão de não se dar bem com ele.” ” Um dia sem tabaco seria para mim o cúmulo da insipidez, um dia totalmente vazio, sem o mínimo atractivo, e se eu qualquer dia despertasse sabendo que não poderia fumar, acho que não teria coragem nem para me levantar.” “…quando se presta atenção ao tempo, ele passa muito devagar.” “…gostava do seu pequeno gabinete de estudos no inverno, amava-o de todo o coração e fazia questão que o mantivessem a uma temperança de, pelo menos vinte graus…” “A música… como meio supremo de provocar entusiasmo, como força que nos arrasta para frente…Sozinha, a música é perigosa.” ” O sintoma da doença era uma actividade amorosa disfarçada, e toda a doença era metamorfose do amor.”

Filosofia em Quadrinhos

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A HQ Nietzsche conta em 127 páginas de quadrinhos a vida do professor e filósofo Friedrich Nietzsche que morreu em 1900 aos 55 anos, após um período de loucura onde permaneceu internado. Nesse livro ficamos sabendo de sua “rixa” com sua irmã, que após a loucura do irmão e recente aumento nas vendas de seus livros, altera os textos mais imorais e anticristãos e torna-se sua herdeira. Parte de suas idéias niilistas estão nos quadrinhos, mas que não vejo como uma boa introdução à filosofia para adolescentes. Para isso, ainda indico O Mundo de Sofia, do Jostein Gaarder.

Os desenhos são de Maximilien Le Roy que idealizou o projeto e convidou o filósofo Michel Onfray para escrever o texto.

Trechos do livro: “Mesmo durante o sono, as idéias de Schopenhauer dançavam em minha cabeça sem que eu soubesse se ainda estava lendo ou dormindo…” “Seria perfeito! Conversaríamos muito, leríamos um pouco, escreveríamos menos ainda. Acho que era assim que faziam Platão e seus discípulos…” “A senhora sabe, a liberdade é um grande luxo. Quanto menos você possui, menos é possuído!”

 

O Primeiro Grego a Gente Esquece?

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O livro Os Irmãos Inimigos (The Fraticides) do autor e filósofo grego Nikos Kazantzakis, conta em 257 páginas a história de um frade que durante a guerra na Grécia, tenta convencer os guerrilheiros que se eles retirarem sua boinas, vermelhas dos soldados e negras dos rebeldes, eles são todos irmãos, filhos da mesma pátria; e que sua missão é mostrar que aquela luta pela liberdade não têm sentido se continuarem se matando uns aos outros. Ninguém quer ouvir suas palavras religiosas: os soldados porque acham que devem matar, o povo da aldeia miserável porque está passando fome. A brincadeira de mau-gosto que alguém faz inventando que a guerra tinha acabado, deixando o povo comemorar pra depois gritar “primeiro de abril” é de partir o coração!

O autor foi um socialista militante, que passou a infância em plena guerra que a Grécia travou contra a invasão dos turcos. Muito de suas experiências estão nos seus livros. Como a história gira em torno de um religioso que vê seu filho se unir aos traidores, têm muitas páginas de cenas religiosas, celebrações, imagens, santos, orações, um pouco cansativas, mas o final parece cena de filme. 😉  A história do padre que leva um cinto da virgem de vila em vila pedindo dinheiro é a melhor parte do livro! =D

Trechos do Livro: ” Raramente…uma gargalhada ressoava…Parecia fato tão anormal que alcançava proporções de sacrilégio.” “Quando…pope vinha casá-los, não tinham palavras de carinho para trocar…metiam-se sob os cobertores de lã grosseira com uma única idéia: gerar crianças para legar essas pedras, essas montanhas, essa fome.” “É o crânio de São Kerikos – afirmou o monge…poucos dias após, apresentaram-lhe outra cabeça, muito maior:-é o crânio de São Kerikos.-Era menor. – vai ver ele cresceu.” “Somos apenas metatipos, deixamos de ser macacos e ainda não nos convertemos em sêres humanos: vacilamos num ponto intermediário.” “Que ímpeto, que juventude! Como posso exigir que uma mulher com um corpo desses seja virtuosa?” “Já que não querem ser livres de bom grado, nós os libertaremos à força…”