Ficção ou Não-Ficção?

O livro O Movimento Romântico do autor suiço Alain de Botton conta a história de Alice, uma moça que prefere estar mal acompanhada a ficar sozinha, mas não aceita defeitos físicos ou feiura no seu alvo. A aparição do príncipe encantado na forma de Eric, homem atraente e bem-sucedido, seria a solução perfeita para seu problema, se não ocasionasse milhões de outros. Ela ainda é muito jovem pra se preocupar em ser solteirona, mas começa a comparar seus relacionamentos com o de sua amiga, e vê que duas pessoas em um relacionamento sempre andam em vias paralelas, que às vezes se cruzam em algo em comum, voltando cada um para seus ritmos próprios. Alice descobre que ninguém pode abrir mão da própria vida para viver a vida do outro. Mesmo não tendo problemas básicos- de dinheiro, de saúde, de família, no trabalho- Alice procura problemas no relacionamento, tendendo ao melodrama quando Eric não advinha o que ela quer ou está sentindo. Parece uma vida perfeita, que Alice abre mão, por querer viver um outro tipo de paixão.

SPOILER: mais um livro do autor, mas a surpresa do primeiro contato não se repete nessa fórmula reproduzível, mas que não causou o mesmo impacto. Se o autor retirasse do meio da história seus pensamentos e citações de vários filósofos sobre o amor e colocasse como nota de rodapé, o leitor não ficaria indeciso entre ser literatura ou ensaio filosófico. O título também é ambíguo propositadamente sendo tanto um tratado sobre os ideais estéticos de uma época, como o movimento gerado nas relações amorosas.

Filosofia ou Romance?

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O livro Ensaios de Amor do autor suíço Alain De Botton, conta em 204 páginas um ensaio filosófico sobre o amor. Mas também é a história de um homem que encontra uma jovem comum em um avião e vai descobrindo as diferenças entre eles, mas ao sair do aeroporto, pensa que está apaixonado e faz de tudo pra engatar um romance com a moça. Em cada capítulo devidamente numeradas as idéias sobre a paixão, o amor e até o que odiar na pessoa amada, ele vai contando em primeira pessoa como tudo foi rápido e de repente estavam passando tempo com as famílias um do outro e como pequenas coisas incomodavam no relacionamento.

Um texto hilário, que pode ser considerado filosofia porque traz profundas reflexões acerca do amor entre seres humanos. O livro contém spoiler de Madame Bovary, que eu ainda não li.

Trechos do Livro: “A conversa foi se aprofundando, permitindo que um vislumbrasse fragmentos do caráter do outro.” “Tínhamos até a mesma edição de Anna Karenina em nossas estantes…pequenos detalhes, talvez, mas não era baseado neles que crentes fundavam religiões?” “Eu tenho uma tendência horrível para confessar coisas que não fiz. Sempre tive fantasias sobre me entregar à polícia por algum crime que não cometi.” “Eu não estava mais preocupado em localizar… verdades poéticas em sua sintaxe, o que importava não era tanto o que ela estava dizendo e sim o fato de que ela o estava dizendo – e que eu havia decidido encontrar a perfeição em tudo o que ela pudesse escolher proferir.” “Será que eu estava certo em detectar traços de flerte nos finais de suas frases e nos cantos de seus sorrisos…?” ” Os mais atraentes não são aqueles que nos permitem que os beijemos de imediato (logo nos sentimos desinteressados) ou aqueles que nunca permitem que os beijemos ( logo os esquecemos), mas aqueles que sabem ministrar cuidadosamente diferentes doses de esperança e desespero. ” “Não amaríamos se não nos faltasse alguma coisa, mas nos ofendemos ao descobrir uma lacuna semelhante na outra pessoa.”